sábado 23 de novembro de 2024

Era de peixes

A solução encontrada foi conduzir a Arabaiana para, digamos assim, um clima mais propício.

19 de agosto de 2022 11:20 por Mácleim Carneiro

Fonte: IG Saúde

Estão cada vez mais raras homenagens sem hipocrisia, sem usofruto político, retornos econômicos e segundas intenções. No caso dele, não. Não mesmo! Tratava-se de uma singela homenagem que um colega de ofício, um amigo, iria lhe prestar. Por isso mesmo a homenagem era digna de toda a sua atenção e respeito. O próprio amigo o havia avisado, com bastante antecedência, que uma de suas músicas estaria no repertório do show e contava com a presença do ilustre compositor. Tudo, absolutamente tudo, poderia acontecer: menos sua ausência ao show e, por tabela, à homenagem.

Habitar um reino, ser o king absoluto, tem lá suas vantagens e desvantagens também. As vantagens são inúmeras, ainda mais quando a latitude deste reino o situa à beira-mar e equidistante do centro neurótico do aquário e do acarajé da Dona Bau. As desvantagens, paradoxalmente, também são as mesmas. Principalmente, pela distância do reino em relação à periferia, ou seja, qualquer outro ponto do planeta. Assim, o King Sauaçuy, o homenageado, precisaria sair cedo, com a antecedência necessária para não perder o compromisso.

Molhadinha e Suculenta

Uma vez fora do reino, nada mais seria previsível, tudo poderia acontecer. Portanto, aquela bela Arabaiana (sei que é um peixe, mas, nos permita a liberdade “poética”), ainda com um brilho nos olhos, lustrosa, molhadinha e suculenta, se mostrou irresistível à cognição imperiosa da cadeia alimentícia, que falou mais alto. Mesmo contra toda dificuldade logística, que aquele approach poderia acarretar; pimba; foi gula à primeira vista.

Daí, já bem acompanhado pela Arabaiana, o King chegou ao local do show sem atraso e sem a desconfortável possibilidade de, enquanto platéia, ser a única testemunha da sua própria homenagem. Embora cada vez mais restrita, ele sabia que essa possibilidade poderia acontecer. Afinal, o show era de um artista local, habitante do aquário que, naquela noite, uma quinta-feira, tinha a concorrência de outros “colegas” dividindo o que já lhe era escasso.

Elegantemente vestida, num modelito de folhas de jornal, mais pós do que qualquer criação pós-pós da Fashion Week, digna da primeira página do Caderno B, do jornal Gazeta de Alagoas e seus modernosos jornalistas, a Arabaiana, discretamente aconchegada em seus braços, tentou honrar o compromisso do King. Tudo envão. Preconceituosamente, não escapou aos olhos e olfato do porteiro do teatro e foi barrada. O King poderia entrar. Ela, não!

Freezer Vip

Passado o constrangimento inicial, a solução encontrada foi conduzir a Arabaiana para, digamos assim, um clima mais propício. Contrariado, mas cedendo aos apelos da direção da casa, o King permitiu que sua acompanhante fosse confortavelmente instalada no bar do teatro, dentro de um freezer. Afinal, aos que perguntassem por ela, ele simplesmente poderia responder: está na ‘frisa’ ao lado…

O show começou, a homenagem foi prestada, mas o King se mostrava impaciente e frequentemente saia do Teatro de Arena. Tal comportamento gerou curiosidade e certos comentários de alguns amigos, tipo: “ele deve estar com incontinência urinaria”, dizia um, “coisas da idade”, dizia outro. O que ninguém sabia era que, ao deixar sua acompanhante no freezer vip, o barman o avisara que encerraria o expediente antes do final do show. Por isso, sua preocupação e saídas intercaladas rumo ao bar.

O fato é que os deuses aquáticos regam certo por linhas áridas. Parecia que tudo estava escrito no zodíaco, pelo signo de peixes, claro. Assim, sincronizadamente, no início da última música do show, o King voltou para o seu lugar na platéia. Dessa vez, sorridente e com um semblante de alívio, tendo sua acompanhante a tiracolo. Exatamente no momento em que Basílio Seh atacava de ‘Carapeba’, música de Luiz Gonzaga – “ei lá vem esquenta muié / é som, é gente, é vida, é pó…” –, como se fora uma homenagem, um encontro pescado para uma emocionada Arabaiana e seu feliz acompanhante. Enfim, como escreveu Mia Couto, “a pessoa amada nunca se encontra, ela se constrói numa paciente obra a dois.”

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!

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