sexta-feira 19 de abril de 2024

Ádvena particular

Viçosa é conhecida como a Princesa das Matas ou, mais ainda, Atenas Alagoana.

19 de dezembro de 2022 5:29 por Mácleim Carneiro

Viçosa é conhecida como a Princesa das Matas ou, mais ainda, Atenas Alagoana. À beira do rio Paraíba, ela é berço de valores literários, musicais e folclóricos. Num rápido recorte histórico, podemos citar os seus primeiros habitantes, os Cambembes – uma subtribo dos Caetés e exímios tocadores de flautas –, passando pelos nomes da ‘Escola de Viçosa’ – grupo de intelectuais formado por Théo Brandão, José Maria de Melo, José Aloisio Brandão Vilela e José Pimentel Amorim –, o genial Octavio Brandão – primeiro tradutor brasileiro do Manifesto Comunista e autor do seminal livro ‘Canais e Lagoas’ –, até chegarmos ao grande Zé do Cavaquinho, o poeta parnasiano José Aragão, além dos contemporâneos Sidney Wanderley e May Honorato. Esta, uma belíssima compositora e artista ascendente da cena musical aquariana.

May Honorato é médica, revelou-se uma compositora talentosa, que faz jus ao rol onde estão alguns esculápios do panteão da música brasileira, que fizeram da sua arte um ofício e foram além do diletantismo. O cancioneiro brasileiro conta com um considerável número deles, grandes e talentosos compositores, como: Aldir Blanc, Capinam, Dalto, Luiz Millan, Zé Dantas, e as nossas pratas da casa Zé Milton e Fernando Marcelo.

Belíssimo Universo

Antes de chegarmos ao propósito desse escrito, ou seja, o EP ‘Estranho Familiar’, lançado recentemente pela viçosense May Honorato, entendo ser importante trazer um pouco da trajetória dessa artista, que em 2008 resolveu habitar o aquário e tem consolidado sua trajetória autoral, como cantora e compositora atuante da cena local. Reza a lenda, que, desde a infância, ela teve contato com manifestações folclóricas da sua cidade natal e uma relação ainda mais estreita com a poesia, por meio do seu pai, Audálio Honorato, escritor e “poeta matuto”. Em 2010, May Honorato fez o primeiro show, com composições próprias, mostrando uma alta dose de sensibilidade e força feminina. Em 2020, durante a pandemia, lançou ‘Clarão’, seu primeiro álbum.

Dando um salto relativo a dois anos, direto para o nosso deleite e foco apreciativo, o EP ‘Estranho Familiar’ (foto), saberemos que May Honorato teceu um belíssimo universo particular, praticamente a quatro mãos, dividindo o protagonismo com a competente atuação do músico Jâneo Amorim nos teclados, direção musical, mixagem e masterização, porém, sem abrir mão de convidados especiais em três das oito faixas do EP. Del Cavalcante em ‘Acorda Amor’, Laís Lira em ‘Amanda’, o próprio Jâneo Amorim, como compositor e intérprete em ‘Notas de Areia’, e Rodrigo Avelino, que participou na composição melódica do refrão da canção ‘Velas’, todos agregaram acuidade a esse trabalho.

Achados Poéticos

E tudo ‘Acontece’ (May Honorato) de mansinho, para abrir os trabalhos de maneira insinuante, um tanto híbrida no que transparece ser pop, mas não é. Toada, mas não é. Porém, dá mostras de uma fertilidade melódica, que será revelada ao longo do álbum e, sobretudo, de achados poéticos e fonéticos, como o do refrão: “E acontece que a gente, pele à pele, é como prece, que a gente, mesmo em solo seco, cresce / E quanto mais se mostra, mais parece.” Na sequência, vem ‘Acorda Amor’ (Del Cavalcante e May Honorato), que tem Del Cavalcante dividindo o canto com May Honorato e tocando guitarra. Acho que poderia dizer que temos uma valsa contemporânea, com toda atmosfera onírica sugerida pelos timbres dos teclados. O curioso é que tive a impressão de que nos últimos compassos aparece uma leve referência à introdução do Hino Nacional, insinuada por um rápido fraseado melódico.

Eu Me Levanto (May Honorato), embora tenha a embalagem sonora da modernidade, sua estrutura melódica e divisão vêm da genealogia do repente, daqueles que se era possível ver e ouvir nas feiras-livres das cidades do interior nordestino, certamente, em Viçosa. Como veremos, os vocalises demonstram ser um importante elemento de arranjo. Amanda (May Honorato e Laís Lira) começa com um vocalise flutuante, a capela e efeitos panorâmicos de mixagem bem inseridos na atmosfera pitoresca do álbum, como um todo. O arranjo proporciona dois climas de levadas bem distintas e conta com a participação de Laís Lira.

Atmosfera Onírica

Pulo a próxima faixa, porque deixarei para o fim. Então, Estranho Familiar (May Honorato), que também dá título ao EP, traz a atmosfera onírica que permeia esse trabalho e tem ao menos três células melódicas bem perceptíveis, em pouco mais de dois minutos. Aliás, essa minutagem curta em todas as faixas, cria uma característica bem interessante para esse EP, pois em 23 minutos de audição não há espaço para o tédio e sim, para a contemplação que eleva e alimenta a alma. Imaginando Mares (May Honorato) deixa claro o quanto é diferente e bela a forma de tecer melodias de May Honorato, repletas de vivências interioranas, nutritivas como as raízes extraídas de um roçado. Esse diferencial faz as melodias soarem leves, encantadas e imageticamente imaginárias. Por isso, a letra tem construções poéticas, como: “Imaginando mares se acordando / Se espreguiçando em ondas brancas”. Ou ainda: “Que as águas varram para longe daqui / O medo que corre bicho no breu.”

Noturno N1 – Notas de Areia (May Honorato e Jâneo Amorim) encerra o EP com um tema instrumental. Um belo exercício em profusão de melodias a cada compasso, onde todo momento é contemplativo. Se fracionados, dariam para preencher centenas de caixinhas de música. O tema acontece e se desenvolve num crescendo, como uma bailarina que começa sua dança em plié.

Deixei Velas (May Honorato) para o final, embora ela seja a quinta faixa do EP, porque seria perfeita para encerrá-lo. Então, usá-la-ei para encerrar esta resenha, apropriando-me da frase “somos velas de um veleiro só”, que resume bem o que é o arcabouço estético desse belíssimo trabalho da artista viçosense! Velas ratifica o que vínhamos percebendo ao longo da audição do EP. Uma viagem ávida pelas melodias e letras de May Honorato, com a dimensão e expressão dessa magnitude, pinçada da letra: “Que nem chegaram perto de vencer a vontade da gente que vagueia e vigia pra ver do que é feita a teia que envolve as horas, pra tirar a venda, pra se ver de novo e pra ver se o novo vem.” Sim, eu sei que virá!

SERVIÇO
Estranho Familiar, May Honorato
Plataformas digitais: Apple Music, Spotify, Deezer, Amazonmusic, YouTube Music, Tidal, Nasper

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!

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