sexta-feira 26 de abril de 2024

Fruição Brega

Engana-se quem pensa que o tal “consumidor” é apenas aquele habitante da periferia, das comunidades, que não teve a oportunidade de acesso à educação de qualidade.

19 de dezembro de 2022 5:29 por Mácleim Carneiro

 

Mergulhando em águas passadas encontrei uma matéria veiculada na edição do dia 16 de julho de 2004, no caderno B do jornal Gazeta de Alagoas, que enfocava o segmento da “música brega”. Nela, chamava-se a atenção para os números que esse segmento delineava no mercado fonográfico, à época. Esclarecia que, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Discos, ABPD, o segmento brega representava 23% do total de discos vendidos no Brasil, perdendo apenas para o segmento pop, com 29%. Bem, de lá pra cá, a indústria fonográfica, nos moldes que conhecíamos, praticamente acabou, porém, o consumidor não. Sendo assim, vou viajar um pouco mais nessa bagaça.

 

Deixando de lado o ponto de vista estético, é possível encontrar alguns indicadores socioculturais, capazes de explicar o bom desempenho do segmento breganejo, por exemplo, no mercado atual. Pois bem, o mais cruel deles, sem dúvida, é a mediocridade. Esses segmentos musicais utilizam-se de uma linguagem simplória, nivelando por baixo qualquer tipo de reflexão. Na maioria dos casos, e de forma premeditada, trata-se de música produzida e direcionada ao público apenas com o propósito comercial, feita a partir de fórmulas, descartáveis como uma lata de refrigerante qualquer.

 

Incompatibilidade Particular

 

Ainda sob o foco da mediocridade, engana-se quem pensa que o tal “consumidor” é apenas aquele habitante da periferia, das comunidades, que não teve a oportunidade de acesso à educação de qualidade. Não é mais! Ele facilmente será encontrado no substrato de padrão econômico e social elevado que, por aferição, é brega sim senhor! Apesar da desenvoltura estética, para o cultivo ao corpo apolíneo, pouquíssimos são os que costumam estimular o cérebro para algum tipo de fruição artística mais elaborada e, menos ainda, para emoções sutis. De nada adianta boa escolaridade e ótima situação financeira. Aliás, este é um assunto que tem sua gênese lá no passado, lá na ditadura militar e seu legado maléfico.

 

É evidente que a minha opinião revela uma incompatibilidade particular com esse tipo de música e, se o assunto é música, detesto hipocrisia! Mesmo achando que música não precisa necessariamente ser levada a sério. Portanto, minha ótica é delineada sob a mira de uma lupa crítica, que se estabelece para avaliação, sobretudo, dos critérios musicais. Sei da minha “perspectiva de rã” e ainda bem que eu nunca pretendi ser detentor de nenhuma verdade. Porém, ainda consigo distinguir o que é e o que significa música bem elaborada, em forma e conteúdo, sem que para isso deixe de ser popular. Sociólogos e teóricos de plantão, livres dessa visão específica, podem remoer a ponto de concluírem que a música brega não merece o carimbo da hegemonização, imposta pela indústria do entretenimento. Embora existam coisas ainda mais nocivas, os artistas desse segmento e seus respectivos produtos são manipuláveis sim, descartáveis sim, e nada vai além do entretenimento alienante, às vezes, preconceituoso e machista, cujo único ponto merecedor de destaque é a possibilidade de alertarem para o nosso impactante grau de precariedade cultural, sobretudo, num Estado ainda líder em analfabetismo.

Uma Arte Duvidosa

Recentemente, li trechos do livro Tábula Rasa, escrito pelo psicólogo Steven Pinker, no qual ele defende a seguinte teoria:

“O nosso gosto estético foi configurado pela evolução, com a função primária de nos atrair para ambientes e parceiros sexuais desejáveis. Gostamos instintivamente da harmonia. Artistas que fazem uma arte chocante e reclamam da ‘incompreensão do público’ estão enganados. Eles é que não compreendem o funcionamento da mente humana.”

 

Pode até ser, vejo certo fundamento nessa afirmação. Porém, jamais se enquadraria ao contexto da enorme afinidade popularesca que a música brega detém em nosso aquário e no Brasil contemporâneo, como um todo. Sendo assim, pelo prisma do “sucesso”, música é uma arte duvidosa!

 

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!!

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1 Comentário

  • Maravilhosa resenha do meu amigo e artista admirável Mácleim. Tem total razão em suas palavras. O bom gosto musical passou e ainda passa por uma evolução..porém nem todos sabem alcança-la.

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