13 de novembro de 2022 8:18 por Geraldo de Majella
A política como militância é, possivelmente, a atividade pública que mais surpreende. Os políticos que detêm mandato são vistos no Brasil, em geral, com muita desconfiança. Não são amados como são os artistas, pesa sobre eles, no mínimo, a dúvida quando não, na maioria dos casos, a certeza de que são desonestos.
O advogado e ex-candidato a presidente da República, Ciro Gomes, é um tipo irrequieto, falastrão e histriônico. É possível estabelecer alguma comparação com o antigo líder político udenista Carlos Lacerda, ex-governador da Guanabara.
Lacerda era virulento, mordaz, orador desconcertante e jornalista de rara competência. O politico carioca tinha ideia fixa em derrotar Getúlio Vargas e, para tanto, não media esforços e palavras. Anticomunista convicto e atuante, quando jovem, teve uma passagem fugaz na juventude comunista do PCB.
Ciro Gomes tem boa oratória. É, como Lacerda, virulento e escolhe algumas vítimas como se fosse para o abate. Tem procurado durante a sua trajetória político-administrativa, que já se faz longeva, esboçar planos de governos que expressam o seu pensamento ou a média do que tem assimilado dos seus interlocutores.
É um quadro técnico qualificado como gestor, mas, como político que se posiciona como pretenso candidato à Presidência da República, lhe falta o principal: a humildade que pode ser resumida na sabedoria. Essa junção é uma arte de vida.
O isolamento crescente vem sendo trabalhado por ele próprio como se fosse a escrita de uma obra autobiográfica, algo que, suponhamos, somente a psicanálise pode decifrar.
A atividade política não é dada a afagos gratuitos, nem na atividade empresarial, para ficar nesses dois campos distintos. O revés acontecido ontem serve como experiência e, quem sabe, aliança e futura vitória com o ex-adversário.
A vaidade pessoal potencializa o rancor que em última análise não é um bom conselheiro. O futuro de Ciro Gomes a Deus pertence. Assim, fica melhor especular sobre o político.
O que Ciro Gomes construiu ou tem cavado como atividade política pode ser considerado o seu réquiem que tem como significado para os cristãos o “descanso” ou “repouso”. Requiem aeternam dona eis, Domine (“Senhor, concede-lhes o eterno descanso”, na tradução para o Português).
O político Ciro Gomes merece, metaforicamente, o descanso em vida.