Após quase 150 anos de história, a Igreja Matriz de Bebedouro fechou as portas na última terça-feira (15). Assim como as paróquias de Nossa Senhora do Bom Parto e Menino Jesus de Praga, a antiga igreja e o bairro foram afetados pelas rachaduras causadas pela extração de sal-gema realizada pela Braskem.
A missa de despedida foi celebrada com a igreja lotada e, na praça, mais pessoas acompanharam a solenidade em clima de tristeza, revolta e comoção. A imagem do padroeiro foi retirada do altar e seguiu em procissão pelas ruas do bairro.
“Bebedouro girava ao redor do altar da matriz de Santo Antônio! A saída de Santo Antônio hoje (dia 15) para um templo provisório será outra morte pra todos aqueles que fizeram parte dessa grande comunidade! As festas do padroeiro, o Natal, o parque de diversões na praça, as festas de São João, carnaval e tudo o mais que vivenciamos aí ficará em nossa memória!”, destaca nota do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).
O ato marca mais um passo rumo ao desaparecimento de um dos bairros mais tradicionais de Maceió, que possui um patrimônio histórico, cultural e humano muito rico.
História de vida
Os filhos do morador Alecy Amorim cresceram no bairro, ao lado da Igreja Matriz, onde transmitiu a sua fé para a família. “Estamos passando essa tristeza, mas pedindo que Santo Antônio interceda para que tudo dê certo. A população tem sofrido muito em consequência dos danos causados pela mineração. Colegas que morreram de AVC, outros depressivos. Essa é uma pequena homenagem à história de Bebedouro”, explicou.
Dos 25 anos como sacerdote do Cônego Walfran Fonseca, 18 foram vividos na paróquia. “É um marco para a história desta paróquia, pois nos despedimos desse templo que tanto serviu ao povo de Deus por mais de um século, nessa vivência da fé católica nesse chão”, disse ele.
As lideranças do MUVB ressaltam que Bebedouro começou a formação da cidade de Maceió. “Tudo isso que está acontecendo é inaceitável, o crime da Braskem com a convivência do poder público está destruindo vidas, comunidades, deixando pessoas doentes, bairros estão desaparecendo no coração da capital alagoana e a Justiça se cala diante de todo esse massacre!”, conclui a nota do movimento.