Racismo e violência caracterizam a invasão policial ao terreiro Abassá de Angola, na Cidade Universitária, em Maceió, no último dia 2. A abordagem teve como alvo um jovem negro de 18 anos, neto da fundadora do terreiro, a Yaloarixá Mãe Vera, falecida em setembro do ano passado.
O advogado Pedro Gomes, membro da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil de Alagoas (OAB-AL), descreveu a forma como os PMs agiram. “Ele foi abordado na rua e levado para dentro de uma viatura. Levaram ele para uma casa abandonada e bateram muito nele. Chegaram a mostrar drogas e fizeram ele segurar uma arma, para ficar a digital dele lá. Então, eles [policiais]ameaçaram que se ele não entregasse os traficantes, ele seria responsável pela droga e a arma que eles estavam mostrando”.
Esse procedimento da polícia tem sido cada vez mais frequente nos bairros periféricos de Maceió. Há duas polícias: a que presta segurança nos bairros de classe média, classe média alta e condomínios de luxo; e a polícia que invade templos religiosos, espanca e tortura jovens negros na periferia, simbolizando o terror estatal para a população mais pobre.
A ação policial mostra que ainda há resquícios do racismo e da violência praticada pelo Estado nos tempos atuais. O Quebra de Xangô do dia 2 de fevereiro de 1912 ainda repercute. Neste dia, a capital alagoana testemunhou a destruição de terreiros e a perseguição a adeptos de religiões de matriz africana.
Essa distinção feita pela polícia é conhecida na sociedade. O jovem religioso vítima da violência policial recorreu à OAB, que lhe presta solidariedade e apoio jurídico para enfrentar a máquina estatal. A qualificação dos crimes será realizada por meio do inquérito policial a ser aberto pela Polícia Civil. A investigação será realizada para definir os crimes de racismo, ameaça de morte, agressão física, tortura e intolerância religiosa.
O terreiro Abassá de Angola tem sido, nos últimos anos, objeto de intolerância religiosa. Foi recentemente invadido por vândalos e, desta vez, invadido violentamente por agentes estatais de segurança, o que configura gravidade ainda maior.
1 Comentário
“A ação policial mostra que ainda há resquícios do racismo e da violência praticada pelo Estado nos tempos atuais.” Resquícios?! Carregue a mão nisso jornalista! É muito mais que resquício. É racismo estrutural!