O Corredor Cultural Vera Arruda tem origem no projeto paisagístico da arquiteta Tatiane Macedo, funcionária do Serviço de Engenharia de Alagoas (Serveal) que, à época, havia sido “emprestada” à Secretaria Municipal de Planejamento na gestão da secretária e também arquiteta Yara Lanne, quando Kátia Born Ribeiro era prefeita de Maceió.
Tatiane Macedo integrava a equipe que trabalhava no projeto de revitalização da orla marítima de Maceió. Enquanto a equipe técnica desenvolvia o projeto, o Banco do Brasil torna público uma linha de financiamento para projetos culturais. O grupo decidiu adaptar os estudos paisagísticos elaborados por Tatiane Macedo para a Prefeitura de Maceió se habilitar a receber os recursos do Banco do Brasil.
A equipe era formada por Tatiane Macedo, Rosa Elena Tenório e Andréa Fonseca (Deinha), que coordenava o setor de Planejamento da secretaria municipal. As mudanças operadas no projeto exigiram que novos técnicos fossem chamados para compor o time.
A curadoria cultural ficou sob a responsabilidade da arquiteta e produtora cultural Mirna Porto Maia. Essa fase do projeto envolveu um grupo de artistas alagoanos que trabalharam em duas frentes, uma delas, produzindo esculturas e murais para ornar o corredor. Outro grupo produzira painéis com perfis biográficos de artistas e intelectuais relevantes de vários gêneros literários, musical e cientifico.
Esses painéis biográficos foram escritos por intelectuais, escritores, artistas e estão expostos ao longo do corredor. O escultor Fred Correia foi incorporado ao grupo de artistas na montagem do Corredor Cultural Vera Arruda.
Dezenas de artistas alagoanos contribuíram com obras a serem expostas permanente no local, como Delson Uchoa, Dalton Costa, Rogério Gomes, Maria Amélia Vieira, Verinha Gama, Barbara Lessa, Marta Arruda, Samara e Roberto Normande. Os que produziram conteúdos também têm seus trabalhos expostos no corredor.
O Corredor Vera Arruda é um projeto que possibilita o acesso de crianças, adultos, jovens e idosos numa áreas da cidade onde o espaço cultural, de lazer e, também, foi pensado para que houvesse a prática de atividades esportivas destinadas a todos.
Essa conquista pode e deve ser debitada à persistência da Associação dos Moradores do Loteamento Stella Maris (Astema), que reivindicava a urbanização do espaço público, que só foi concretizada a partir da parceria formalizada entre a Prefeitura de Maceió e o Banco do Brasil.
A comunidade passou a contar com mais de 20 mil m² de área com equipamentos de lazer, playground, ciclovia, pista de cooper, área para musculação, baby-place, área para descanso com caramanchão. Além das áreas de lazer, um grande palhoção foi construído para as atividades do projeto “Saúde na Praia”.
O Corredor Vera Arruda foi um ganho inestimável para a comunidade, uma vez que não existe nenhuma área na cidade com essa proposta ou algo semelhante. A arquiteta Rosa Elena o definiu “como uma espécie de parque/exposição cultural”.
O loteamento Stella Maris
O loteamento Stella Maris, no seu projeto original, seria apenas um condomínio de casas, segundo Rosa Elena. “Discutiu-se muito se seria fechado ou aberto (os padrões das ruas, calçadas etc., são diferentes de loteamento aberto ou condomínio fechado) e acabou ficando uma proposta intermediária entre os dois. Aberto, mas não integrado ao traçado urbano já existente”.
Os lotes foram vendidos para que fossem construídas casas, mas acontece que, diante da demora para se efetivar o objetivo inicial (a construção de casas), a pressão imobiliária determinou as mudanças no curso do projeto. A prefeitura municipal, aos poucos, para facilitar a vida das construtoras e da especulação imobiliária, permitiu que fossem construídos pequenos prédios de 4 andares.
As “necessidades” identificadas pelo mercado imobiliário com as construções de edifícios com mais de 8 andares, escolas privadas, pousadas e hotéis, marcou a descaracterização da área.
A frouxidão do poder público, no caso, a prefeitura municipal, aquiescendo ao lobby da construção civil provocou em poucos anos uma transformação radical do loteamento. Atualmente, restam poucas casas tendo sida substituídas por prédios multifamiliares, com um detalhe importante para ser analisado: as ruas têm apenas 6 metros de largura, calçadas de 1,5 m e uma rotatória no final.
A instalação de escolas privadas é um capítulo à parte. A guerra deflagrada por técnicos da prefeitura contra empresários e políticos despachantes da iniciativa privada em torno da defesa da legislação urbanística, que impedia a construção de escolas no local, foi perdida. Vencida a guerra pelo segundo grupo, a cidade perdeu e os empresários ganharam a oportunidade de desfigurar um dos mais bonitos e inovadores projetos de Maceió.
A história do Corredor Cultural Vera Arruda é entrecortada por batalhas travadas entre os técnicos que obedeciam e defendiam a legislação que protege a comunidade/cidade e os empresários apoiados por políticos que atendiam, candidamente, a esse tipo de interesse.
Mas, acontece que é a comunidade quem tem se manifestado publicamente contra todas as formas de mutilação do corredor cultural. As vitórias alcançadas são debitadas aos moradores, à população do entorno, alguns políticos, intelectuais. No entanto, a comunidade não pode dormir sossegada porque tem empresários, políticos e lobistas tramando contra o Corredor Cultural Vera Arruda.
Os espaços públicos têm papel determinante na sociedade urbana contemporânea, por serem locais de encontros, onde as relações e o convívio fortalecem os laços afetivos, culturais dos mais diversos grupos que compõem a comunidade. Mutilar esse raro lugar de convivência existente em Maceió é uma aposta irracional.
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“Os espaços públicos têm papel determinante na sociedade urbana contemporânea, por serem locais de encontros, onde as relações e o convívio fortalecem os laços afetivos, culturais dos mais diversos grupos que compõem a comunidade. Mutilar esse raro lugar de convivência existente em Maceió é uma aposta irracional.” Subscrevo e dou fé!