Por Saber Atualizado
Em uma noite de janeiro do ano de 1948, Thomas Stuart Ferguson estava bastante excitado pela sua grande descoberta arqueológica, junto com outros companheiros de exploração: “Nós descobrimos uma grande cidade aqui no coração das terras de ‘Bountiful'”, registrou em suas anotações o empolgado advogado norte-americano e membro apaixonado da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, cujos membros são popularmente conhecidos como ‘Mórmons’. Porém, esse também foi o início do declínio da sua fé e eventual desvínculo com a sua religião.
Os mórmons
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias – esse nome veio posteriormente – foi iniciada por Joseph Smith em 6 de abril de 1830, em New York, EUA. De 1839 a 1846, os membros da nova organização religiosa viveram e prosperaram em Nauvoo, Illinois. Ano após ano, essa nova Igreja crescia cada vez mais rápido. Porém, pelo fato de muitos não aprovarem as crenças e práticas dos mórmons na época – como a poligamia -, perseguições aos seus membros explodiram em vários cantos, algo que também culminou na morte de Smith no dia 27 de junho de 1844, por uma multidão furiosa. Esses eventos levaram à uma grande migração Mórmon de 1846-1847 para outras áreas dos EUA e também foram um gatilho para o crescimento ainda maior dessa religião, incluindo para fora do território norte-americano. Hoje são estimados quase 16 milhões de seguidores ao redor do mundo.
Os Mórmons vêem a fé em Jesus Cristo como o fundamento principal da sua religião, crendo na Bíblia Sagrada, tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Além dela, usam outras escrituras, inclusive o Livro de Mórmon, que serve como outra testemunha do ministério de Cristo e Sua divindade – e chega a ser tão ou mais importante que a Bíblia. Juntas, essas escrituras oferecem um entendimento mais profundo de questões vitais como a natureza de Deus, a salvação e a Expiação.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é organizada, segundo seus membros, da mesma maneira que Cristo organizou sua igreja na época do Novo Testamento. É liderada por um profeta que é o presidente da Igreja. Ele tem dois conselheiros e esses três líderes formam a Primeira Presidência. A Primeira Presidência é auxiliada por doze apóstolos, que são testemunhas especiais de Jesus Cristo em todo mundo. Os líderes chamados de Setentas auxiliam o Quórum dos Doze Apóstolos e servem em várias áreas pelo mundo. A congregação local é liderada por um bispo. A principal organização para mulheres na Igreja é a Sociedade de Socorro, que foi fundada em 1842. Hoje, essa organização conta com mais de 5,5 milhões de mulheres com idade acima de 18 anos em 170 países.
Na Igreja Mórmon, o sexo fora do casamento, pornografia e masturbação são banidos. Essa é uma questão bem controversa, inclusive entre os seus membros, porque também pode envolver um questionário conhecido como “lei da castidade”, onde um bispo faz uma espécie de entrevista com adolescentes a partir dos 12 anos de idade que inclui perguntas íntimas sobre seu comportamento sexual. Isso faz parte do processo para saber se o adolescente está violando as proibições da religião, mas muitos reclamam que se sentem bastante envergonhados e culpados, argumentando que a prática deveria acabar – especialmente considerando que a masturbação é algo mais do que natural na adolescência e importante para a auto-exploração do corpo. Alguns bispos escolhem não fazer as perguntas mais íntimas.
Bontiful
De acordo com o Livro de Mórmon, Bountiful foi uma das primeiras áreas ocupadas pelos Nefitas, um povo antigo vindo de Jerusalém muito antes do nascimento de Jesus Cristo – em torno do ano 600 a.C. – e que teria se estabelecido na América. Segundo a narrativa do livro sagrado, uma família de Israel saiu de sua terra natal por revelação de Deus. Deus ordenou que Néfi e seus irmãos construíssem um navio e atravessassem as grandes águas pois Deus havia preparado uma Terra de promissão separada de todas as outras comumente conhecidas. Os irmãos foram guiados por uma bússola (conhecida como Liahona) baseada na fé exercida no Senhor, chegando, através dela, ao Continente Americano.
Séculos depois, de acordo com as escrituras, Jesus teria aparecido para os Nefitas na mesma região após sua ressurreição.
Após um tempo, os ‘estrangeiros’ já estabelecidos no território Americano foram divididos entre duas tribos inimigas, Nefítas e Lamanitas. Ainda de acordo com a narrativa do livro sagrado, um ameríndio chamado Mórmon, e que pertencia a tribo Nefíta, escreveu em placas de ouro o que hoje é chamado de Livro de Mórmon. Seu filho Moroni também teria escrito parte do livro, e é também Moroni quem teria apresentado a localização das escrituras ao profeta Joseph Smith.
Mórmons como Ferguson estavam certos que esses eventos realmente aconteceram na antiga América, mas debates sempre surgiam entre os membros sobre exatamente como as terras sagradas mapeadas se encaixavam na real geografia do continente americano. O Livro de Mórmon dava apenas pistas esparsas, falando de um estreito istmo, um rio chamado Sidon, e terras ao norte e sul ocupadas pelos Nefitas e seus inimigos, os Lamanitas.
O Livro de Mórmon também fala de antigas cidades se alastrando e como nenhuma construção do tipo existe nos EUA – e já no século XIX não existiam provas de tal coisa -, na década de 1840 os Mórmons, incluindo Smith, concluíram que a civilização Maia representavam os próprios Nefitas, baseados nas descobertas na época de ruínas de cidades Maias no México e Guatemala. Nesse sentido, em 1842, Smith publicou informações arqueológicas sobre as ruínas da cidade de Palenque, no México – oriundas dos Maias – junto com o comentário: “Mesmo os mais incrédulos não podem duvidar… essas maravilhosas ruínas de Palenque estão entre os poderosos trabalhos dos Nefitas – e o mistério está resolvido.” Porém, muitos não-Mórmons na época continuaram duvidando, e as autoridades religiosas Mórmons passaram a ficar cada vez mais cuidadosas e deixaram de emitir localizações oficiais das descrições tragas pelo Livro de Mórmon.
Após anos estudando geografia, as escrituras Mórmons e as crônicas Espanholas, Ferguson chegou a conclusão que o Livro de Mórmon descrevia o lugar ao redor do Istmo de Tehuantepec, a parte geográfica mas estreita do México. Nesse sentido, o comprometido advogado Mórmon veio para as selvas de Campeche, ao nordeste do Istmo, para encontrar provas que dariam suporte ao seu livro sagrado, de que as civilizações Mesoamericanas haviam sido fundadas por migrantes vindos da região hoje conhecida como Oriente Médio.
De fato, Ferguson tinha razão para estar empolgado. Ao longo das suas incansáveis conduções exploratórias, ele encontrou diversos tesouros arqueológicos. Os achados da sua empolgante empreitada mudaram a cara da arqueologia Mesoamericana e até hoje seu instituto de pesquisa fundado na época continua em atividade. Porém, sua principal razão para ter ido para o México continuava semana após semana de exploração sem uma resposta.
Jornada pela verdade
Ferguson primeiro ficou conhecendo sobre as civilizações Mesoamericanas quando estava na graduação em Direito e em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Berkeley. Isso se tornou uma obsessão para ele e para a sua crença Mórmon. Anos mais tarde, já formado e atuando como advogado, ele resolveu explorar ele mesmo a região, dizendo que os trabalhos arqueológicos sendo feitos até o momento eram insuficientes. Ele também declarou no início da década de 1940: “O Livro de Mórmon ou é falso ou é real. Se falso, as antigas cidades nele descritas não existem. Se for real – como nós sabemos que é – as cidades estarão lá.”
Ferguson resolveu, então, utilizar ferramentas científicas para dar suporte concreto à sua religião. Logo após ter finalizado a faculdade, ele começou a procurar por pistas em documentos coloniais que registravam algumas das tradições indígenas Latino-Americanas. Uma dessas pistas, escritas ao redor de 1554 por um grupo de pessoas da vila Maia de K´iche´ na região da Guatemala, dizia que seus ancestrais – “filhos de Abraão e Jacob” – tinham velejado pelo mar até alcançar suas terras de origem. Os K´iche´foram derrotados pelos conquistadores Espanhóis em 1524, e as referências bíblicas provavelmente eram frutos do contato com padres Católicos, os quais tinham vindo junto com os conquistadores para seus trabalhos de conversão.
Porém, Ferguson não compartilhava dessa opinião dos especialistas e tomou as referências como uma prova de que Israelitas tinham alcançado a América, ou seja, os Nefitas. Ele também levou a sério o mito de Quetzalóatl, a serpente divindade com penas que alguns padres coloniais descreviam como um homem branco barbado. Ferguson conclui que esse devia ser Jesus Cristo, aparecendo em Bountiful após sua ressurreição, assim como descrido pelo Livro de Mórmon. Com tudo isso em mente, o empolgado advogado resolveu, em 1948, conduzir buscas arqueológicas em Campeche.
Ferguson buscou por sinais que os arqueólogos ainda não haviam encontrado nas ruínas das antigas sociedades que habitaram o México, como objetos citados no livro sagrado, incluindo cavalos, carroças, espadas de aço e, o mais importante, manuscritos Hebreus e Egípcios.
Bem, claro, nesse ponto é válido lembrar que a ideia das sociedades Mesoamericanas terem sido erguidas com a ajuda de outras já avançadas no Oriente e no Ocidente era uma visão preconceituosa de que os nativos americanos não possuíam capacidade para erguer grandes cidades, como os Maias fizeram. Ou seja, achar que supostos Fenitas foram os reais responsáveis por aquelas cidades antigas. E, de fato, esse era um pensamento comum na época – décadas de 1940-50 -, mesmo entre os especialistas. Existia um grande debate no campo da arqueologia sobre se as civilizações Mesoamericanas tinham evoluído – em termos sociais e tecnológicos – de forma independente ou não.
Outro problema é que Ferguson nunca havia recebido uma educação formal em arqueologia. Com cinco filhos para cuidar e com sua pesquisa amadora para dar continuidade, em 1951 ele recrutou ajuda especializada para explorar as origens das civilizações Mesoamericanas como parte de uma nova instituição, a New World Archaeological Foundation (NWAF). Entre os membros englobados na ajuda, estava o renomado arqueólogo da Universidade de Havard e da Carnegie Institution for Sciente, Washington, D.C., Alfred Kidder, considerado hoje um dos melhores arqueólogos do século XX. Mesmo Kidder primeiramente acreditando que as civilizações Mesoamericanas tinham se desenvolvido de forma independente, Ferguson de alguma maneira conseguiu convencê-lo a participar da empreitada exploratória – provavelmente Kidder estava apenas querendo explorar a fundo a região com objetivos puramente acadêmicos.
Por outro lado, Ferguson tinha ao seu lado também o antropólogo do Museu de História Natural dos EUA, em New York, Gordon Ekholm, este o qual acreditava que as civilizações Mesoamericanas tinham raízes em avançadas culturas Asiáticas.
Outra grande ajuda para Ferguson veio com um importante avanço científico na época: a datação com radiocarbono! Com a ajuda do isótopo radioativo do carbono – carbono-14 – ficava mais fácil ainda traçar as origens da cultura Mesoamericana. Segundo o próprio Ferguson na época: “Eu sou das pessoas que acreditam que o Senhor inspirou a datação de radiocarbono para que ela pudesse ser usada efetivamente para encontrar as conexões registradas pelo Livro de Mórmon.”
Após uma luta para levantar consideráveis fundos para a custosa expedição arqueológica – especialmente através de membros Mórmons mais ricos e que estavam interessados na incursão exploratória -, Ferguson, via NWAF, conseguiu mandar uma boa quantidade de arqueólogos para explorarem a base de drenagem do Rio Grjjalva, em Tabasco e Chiapas, os quais supostamente poderiam ser o Rio Sidon mencionado no livro sagrado.
Ao contrário da sua exploração de estreia nas selvas de Campeche, Ferguson agora já contava com uma relativa boa experiência, já conseguindo inclusive diferenciar bem os períodos de tempo dos achados arqueológicos. As ruínas que ele tinha encontrado em Campeche, por exemplo, eram provavelmente da era Clássica ou pós-Clássica Maia, entre 250 d.C e a conquista Espanhola, ou seja, muito tarde para ser de civilizações fundadoras e outros eventos relatados nas escrituras Mórmons – entre cerca de 2200 a.C. e 400 d.C., idealmente até um máximo de 200 d.C (Período Formativo). Porém, até 1953, nada de significativo havia sido encontrado.
A partir de Maio de 1953, Ferguson resolveu ir para Chiapas, e fazer buscas aéreas para agilizar o processo de exploração. Foi quando ele e seu companheiro de voo, John Sorenson – arqueólogo – notaram sinais peculiares na Chiapa de Corzo. Eles aterrizaram e, por terra, seguiram uma viagem de Jeep por 10 dias pela área na busca de preciosas ruínas. Após um árduo trabalho de investigativo, eles descobriram 22 locais arqueológicos, coletando diversos artefatos de interesse que se encaixavam com os períodos de interesse (Período Formativo). Na época, Ferguson chegou a escrever aos financiadores da NWAF: “Na minha humilde opinião, existe pequena ou nenhuma dúvida que esses artefatos são trabalho dos Nefitas.
Com esses novos achados, as autoridades Mórmons resolveram, no ano de 1954, fornecer US$ 250 mil para a NWAF para cobrir 5 anos de trabalho – uma quantia que, na década de 1950, era uma fortuna. Com esse aporte financeiro, iniciaram-se intensas escavações em Chiapa de Corzo, onde foram reveladas pirâmides de pedras, tumbas e uma vasta riqueza de cerâmicas que impressionaram os especialistas que acompanhavam o trabalho. Eventualmente, os arqueólogos reportaram que as ruínas sendo reveladas tinham origem de cerca de 1200 a.C., provavelmente por pessoas conectadas com os Olmecas, uma civilização anterior que dominou o golfo da costa do México de 1200 a.C até 400 a.C., séculos antes dos Maias Clássicos surgirem.
Foi então que, no início da década de 1960, os arqueólogos da NWAF se tornaram os primeiros a escavarem na região de Izapa, próximo da costa de Chiapas e das fronteiras da Guatemala. Esse grande interesse repentino pelo local foi, em parte, por causa da descoberta de um monumento na região que aparentemente registra um mito envolvendo uma árvore mítica, esta a qual supostamente poderia estar relacionada com as visões recebidas em um sonho do profeta Mórmon Lehi. Porém, arqueólogos da NWAF, alguns até mesmo Mórmons, recusaram mais tarde essa ideia. Mesmo com esse embate, o local foi intensamente explorado, e, no final, os pesquisadores descobriram que ali era um ponto muito importante dentro de Soconusco, a região na costa Pacífica onde cada poder político Mesoamericano, dos Olmecas até os Astecas (em torno de 1500 d.C.), obtinham preciosas mercadorias, como cacau e penas de quetzal. As buscas continuaram, e diversos artefatos recuperados formaram uma bela cronologia das civilizações Mesoamericanas. Aliás, cronologia até hoje utilizada no estudo arqueológico de Chiapas.
Mas, mesmos com o acúmulo cada vez mais inestimável de achados arqueológicos, nada revelava sinais do que estava descrito no Livro de Mórmon. Em 1961, Ferguson já estava bastante desanimado. Antes ele afirmava empolgado que dentro de 10 anos importantes e reveladores achados seriam encontrados. Mas em 1966, ele escreveu: “Meu número estimado para provar que Cristo apareceu no México seguindo a Crucificação nunca será alcançado até que algum significativo manuscrito seja descoberto. Eu espero que isso aconteça em nossos tempos de vida.” E, de fato, reveladores manuscritos foram encontrados não muito tempo depois, mas essa nova descoberta foi como uma lança afiada na fé já trêmula de Ferguson.
A queda de uma fé
No verão de 1835, Joseph Smith havia recebido uma curiosa visita em Kirtland, Ohio, naquela época o centro de operações principal dos Mórmons. Um peculiar vendedor, com quatro múmias Egípcias e alguns textos hieroglíficos enrolados, veio perguntar se alguém estava interessado nas suas mercadorias. A nova organização religiosa resolveu comprar as múmias e os textos, passando esses últimos para Smith traduzi-los – a seu pedido. Smith traduziu os textos – supostamente com maestria – e as traduções acabaram se tornado o Livro de Abraão. De acordo com Smith, os papiros trazidos pelo vendedor seriam escritas feitas pelas próprias mãos de Abraão, enquanto este estava no Egito. Segundo Smith, os papiros – tragos divinamente a ele – descreviam a vida de Abraão na juventude, suas viagens à Canaã e ao Egito, e suas visões do Cosmo e da sua Criação. Com isso, em 1880, os Mórmons resolveram tornar o Livro de Abraão sagrado. Bem, e como os hieróglifos Egípcios já tinham sido decifrados na França em 1822 com a ajuda da famosa Pedra de Roseta, assumiu-se que Smith também possuía esse conhecimento.
Após Smith ser morto em 1844, sua família vendeu os papiros e as múmias que estavam de posse com ele. O destino das múmias até hoje ninguém sabe, mas, em 1966, um professor na Universidade de Utah, examinando artefatos no Museu Metropolitano de Arte, em New York, encontrou 11 papiros egípcios com um certificado de venda de 1856 assinado pela esposa viúva de Smith, Emma. Imediatamente o professor percebeu que estava diante dos papiros do Livro de Abraão traduzidos por Smith. Com isso, esses documentos foram retornados para a Igreja Mórmon.
Não demorou muito para a notícia dessa descoberta chegar aos ouvidos de Ferguson, no dia 27 de novembro de 1967. Através dos seus contatos com a Igreja Mórmon, Smith conseguiu fotos dos papiros e contratou Egiptólogos da Universidade da Califórnia para traduzi-los, fazendo questão de que nenhum dos especialistas soubessem qual o motivo para tal pedido, ou seja, para eles, eram apenas hieroglíficos aleatórios. Essa medida adotada por Ferguson veio para tirar quaisquer possíveis trabalhos de tradução tendenciosos.
Seis semanas mais tarde, os resultados das traduções surgiram, e todos eles mostravam claramente que aqueles hieroglíficos, apesar de serem realmente do Antigo Egito, traziam escritos apenas passagens comuns da cultura naquela época, incluindo o Livro dos Mortos. Tais textos não tinham nada de especial e eram encontrados nas tumbas e artefatos diversos da cultura Egípcia. Nada ali possuía qualquer relação com a tradução feita por Smith. Em outras palavras, estava claro que Smith tinha inventado tudo aquilo da cabeça. Então, furioso e frustrado, Smith escreveu para um amigo Mórmon, em 1971:
Cada vez mais frustrado, Ferguson viu sua fé se esvair completamente. Em 1975, ele submeteu um artigo para um simpósio sobre o Livro de Mórmon onde dizia que nada havia sido encontrado das civilizações Mesoamericanas que comprovasse o livro supostamente sagrado. Segundo Ferguson, em uma carta: “A real implicação do artigo é que você não pode ligar o Livro de Mórmon com a geografia de nenhum lugar, porque esse livro é um trabalho de ficção.”
Apesar de ter praticamente perdido toda sua fé, Ferguson não discutiu o assunto com a sua família, já que eram todos Mórmons bem inseridos na ‘sociedade Mórmon’. Ele provavelmente achou que acabaria sendo visto como uma má influência tentando derrubar a fé da família, então decidiu ficar quieto. Continuava indo na Igreja, cantando os coros e até dando bênçãos. Passou a seguir a religião apenas de fachada.
Ferguson também continuou visitando o México – onde ocupou boa parte da sua vida com os trabalhos arqueológicos – e também os centros de operação da NWAF, em Chiapas. Em 1983, com um amigo Mórmon da NWAF, ele decidiu revelar sua total perda de fé e frustração, dizendo que o Livro de Mórmon era uma fraude e que gastou muito tempo da sua vida tentando provar sem sucesso o seu ex-livro sagrado. Um mês depois, enquanto jogava tênis, Ferguson morreu vítima de um ataque cardíaco, aos 67 anos de idade.
Conclusão
Thomas Stuart Ferguson cresceu em uma família de Mórmons e apaixonado pela sua religião, tentou prová-la cientificamente através de trabalhos arqueológicos. Sem obter sucesso ao longo de vários anos e recebendo duras revelações, Ferguson acabou perdendo sua fé e, infelizmente, passando seus últimos anos de vida bastante frustrado. Por outro lado, seus esforços e fundação da NWAF geraram inestimáveis achados para a arqueologia, transformando para sempre o estudo das civilizações Mesoamericanas na América Central. Até hoje o NWAF funciona e ainda realiza importantes trabalhos arqueológicos, com seus pesquisadores não mais possuindo buscas religiosas, apenas científicas. Curiosamente, o NWAF é ainda financiado em grande parte pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Segundo especialistas hoje, sem a força de vontade de Ferguson em sua busca, provavelmente muita coisa permaneceria desconhecida das antigas civilizações Mesoamericanas em pontos arqueológicos cruciais.
Ferguson nasceu em Pocatello, Idaho, em 21 de maio de 1915. Casou-se com Ester Israelsen em 1940, e tiveram 5 filhos. Ele morreu no dia 16 de março de 1983.