19 de maio de 2023 1:01 por Da Redação
Arrogante e autoritário, a condenação à prisão nunca esteve no mais remoto horizonte de Fernando Affonso Collor de Mello (PTB). Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em um processo da Operação Lava-Jato, Collor enfrentou mais uma “morte” política.
Talvez, a Suprema Corte tenha jogado a última pá de cal no melancólico fim da carreira política do primeiro presidente eleito depois do restabelecimento da ordem democrática no Brasil. O Impeachment foi a sua primeira “morte” política.
Para piorar as coisas para elle, o império de comunicação que herdou do pai, Arnon de Mello, não aguentou os anos de má gestão e as empresas seguem um arrastado processo de recuperação judicial, com risco real de falência. Sem mandato e condenado à prisão, os credores esperam que a Justiça alagoana, agora, tome coragem e o processo se encaminhe para um desfecho.
Experiente, Collor deveria saber que uma das lições que o presidiário aprende no primeiro dia de cárcere é que “na cadeia a criança chora e a mãe não ouve”.
Biografia
Fernando Affonso Collor de Mello (1949) nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de agosto, filho do jornalista, empresário e político alagoano Arnon Farias de Mello (1911 – 1983) e Lêda Collor (1916-1995). O jovem playboy da Zona Sul do Rio de Janeiro foi escolhido pelo pai para, entre os filhos, iniciar a sucessão política da família.
A influência do senador Arnon de Mello (Arena) brindou o filho com a Prefeitura de Maceió – à época, os prefeitos das capitais e cidades em áreas consideradas de segurança nacional eram indicados e não votados. Foi o início da conturbada carreira política de Fernando Collor (então PDS) em plena ditadura militar.
O mandato como prefeito de Maceió (1979-1982) ficou marcado por escândalos de corrupção e a destruição da administração pública. Collor fez o inimaginável, nomeando milhares de funcionários sem concurso público para as secretaria municipais.
Maceió serviu como base eleitoral para se eleger deputado federal (1983-1987). Parlamentar inexpressivo, membro do baixo clero, durante a eleição do presidente da República, através do Colégio Eleitoral, em 1985, vota em Paulo Maluf – seu padrinho de casamento – contra Tancredo Neves. A eleição do político mineiro marcou o fim da ditadura militar e o início da transição à democracia.
Collor se reinventa e filia-se ao PMDB, um sinal de que enfrentaria nas urnas os ex-governadores Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira, com quem se relacionava politicamente. A entrada no PMDB da Nova República viabiliza a sua eleição para o governo de Alagoas. No cargo, abre as baterias contra a administração estadual e os servidores em particular.
O governo de Alagoas é usado numa operação de marketing nacional em sintonia com o empresário Roberto Marinho, proprietário da Rede Globo, ex-sócio e amigo de Arnon de Mello. Eleito presidente da República, confisca a poupança dos brasileiros, fato nunca visto na história republicana. Os escândalos denunciados pelo irmão Pedro Collor e as consequências, inclusive o impeachment, são de domínio público.
Recupera os direitos políticos, é eleito senador em 2007 e reeleito em 2015. Em 2022, é derrotado.
Carreira solo
Fernando Collor construiu uma trajetória como político absolutamente solitário, nunca se esforçou para organizar um partido que pudesse constituir um grupo parlamentar. Transitou em mais de uma dezena de agremiações.
Procurou se aproximar do presidente Lula, anos depois de derrotar o petista nas eleições de 1989. O mesmo fez com a presidenta Dilma Roussef (PT) e com Michel Temer (MDB). O futuro que se avizinhava dava sinais de que o “império de comunicação” herdado do pai estava sendo corroído em dividas impagáveis com a Fazenda Pública e com os trabalhadores que têm sofrido as piores necessidades pela falta de pagamento.
As empresas estão arruinadas e a condenação à prisão pelo STF pode ter sido um tiro de misericórdia na trajetória do hoje político decadente.
Collor, novamente, faz história como o primeiro ex-presidente da República a ser condenado e preso por corrupção. Ele já tem a primazia de ter sido o primeiro a sofrer impeachment. A ironia do destino é que há chance do encontro, também histórico, de dois ex-presidentes da República (Collor e Bolsonaro,) no sistema prisional.
O político branco e rico da elite alagoana e brasileira encerrou a carreia política com duas derrotas retumbantes. A primeira, não se reelegendo. A segunda, sendo condenado à prisão pela Suprema Corte brasileira.