A importância democrática das eleições municipais de 2024 pode se comparar ao das eleições diretas de 1985, em que foram realizadas eleições para as capitais, instâncias hidrominerais e áreas de segurança nacional. Para a Presidência da República, naquele ano, o ex-governador mineiro Tancredo Neves venceu Paulo Maluf, candidato da ditadura militar, no Colégio Eleitoral, marcando o início da transição democrática.
No próximo ano, no nível de polarização em que e o Brasil se encontra, teremos um novo confronto entre os que defendem a democracia e os alinhados com a extrema-direita e setores radicais da direita. Será o replay de um Fla x Flu, ou, para os alagoanos, de um clássico das multidões: CRB x CSA.
Em Maceió, o espólio bolsonarista foi apropriado pelo prefeito JHC que, nos últimos dias, montou uma ampla frente extremista. A montagem do seu campo eleitoral conta com aliados que surfam na onda da violência policial e tem no extermínio de pobres e negros, moradores dos bairros periféricos, o centro da atuação política.
Há o campo em que a máquina pública municipal atrai cada vez mais influência, que são as denominações religiosas, cada vez mais acolhidas na administração. Essa estratégia se une ao uso das redes sociais, veiculando conteúdos que têm saltado do mundo paralelo para os principais aplicativos.
O discurso que pode mobilizar os segmentos de oposição terá de romper a bolha de uma gestão virtual a partir da realidade dura da vida dos mais pobres que estão sem esperança e, pior, quase entorpecidos com imagens virtuais.
A estratégia de JHC é clara e tem dado certo eleitoralmente. Por ulado, ele se apresenta como um homem religioso, pai de família e conectado às redes sociais.
O lado B deste grupo será formado pela infantaria extremista, com discurso centrado na violência, no uso de armamento e de fake news.
O exército vem sendo reforçado com partilha da administração entre parlamentares e grupos econômicos predadores do erário. Em síntese, essa é a estratégia para iniciar a campanha de 2024 com olhos em 2026, quando serão realizadas as eleições gerais.
Nacionalização das eleições
O ex-presidente Jair Bolsonaro testará sua influência nas eleições municipais. Em Maceió, ele venceu nos dois turnos. O discurso é forte para manter animada a bolha de seguidores que se seguem em sua órbita.
Os fatores imponderáveis estão à vista, com os inúmeros processos abertos contra Bolsonaro pela Justiça, um dos quais é ter sido o principal articulador da tentativa de golpe de Estado fracassada, que culminou nos atos do dia 8 de janeiro.
A possibilidade real de perda dos direitos políticos e condenação à prisão em um dos processos será a pá de cal para o líder da extrema-direita brasileira, sem prejuízo de ser condenado por corrupção.
A estratégia da oposição deve se concentrar na elaboração do discurso que rompa com o extremismo que polariza a sociedade brasileira. Articular o discurso com ação governamental efetiva nas periferias e para a classe média é o principal instrumento para coesionar e atrair segmentos que se situam no campo oposicionista.
JHC não é um adversário fácil de ser derrotado, a oposição não pode escolher a melhor oportunidade para derrotar o prefeito e seus aliados. A disputa deve ser travada em todos os campos, como se fosse, metaforicamente, uma guerrilha eleitoral.
É um equivoco imaginar que Maceió é uma bastilha bolsonarista. Partir desse pressuposto significa anunciar a derrota antecipadamente.