Por Fabíola Mendonça, da Carta Capital
Depois da anulação das condenações de Lula pelo Supremo Tribunal Federal e de ser praticamente extinta na gestão de Jair Bolsonaro, a Lava Jato foi ressignificada e retornou aos holofotes a partir de fevereiro deste ano. Isso só foi possível porque o juiz que assumiu os casos da operação na primeira instância, Eduardo Appio, resolveu passar a limpo os desmandos da República de Curitiba, comandada pelo então juiz Sergio Moro e pelo ex-procurador Deltan Dallagnol, hoje senador e deputado federal cassado, respectivamente.
Em três meses, o magistrado reverteu várias decisões de Moro, dentre elas a ordem de prisão de Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da construtora Odebrecht que acusa Moro e Dallagnol de tentar extorqui-lo em troca de um acordo de delação premiada. Finalmente, o Judiciário parecia disposto a punir os crimes cometidos pelo grupo de inquisidores, principal responsável pelo fenômeno do bolsonarismo ou o “gérmen do fascismo”, nas palavras do ministro Gilmar Mendes, do STF.
A reação veio a galope. Na segunda-feira 22, o Conselho do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, atendendo a uma representação do desembargador Marcelo Malucelli, afastou Appio do cargo. O juiz de primeira instância, alega o desembargador, teria feito um telefonema “ameaçador” a seu filho, o advogado João Eduardo Malucelli.
Namorado da filha de Moro, João Malucelli figura como sócio do Wolff & Moro Sociedade de Advogados, escritório do senador e de sua esposa, a deputada federal Rosângela Moro. Além do afastamento sumário de Appio, antes da conclusão da investigação, o TRF-4 determinou a devolução dos computadores e do celular funcional utilizados pelo magistrado e o proibiu de ter acesso às dependências das Justiça Federal. Appio recebeu o exíguo prazo de 15 dias para apresentar defesa.