7 de junho de 2023 3:03 por Geraldo de Majella
As minhas primeiras lembranças de Carlos Moura são da infância em Anadia. Carlinhos era, entre os primos, o que me despertava atenção. Era o único músico. Início dos anos setenta, cabeludo e barbudo, logo era identificado como subversivo, no mínimo. Nesse aspecto, ele e a sua geração subvertiam a ordem instituída pela ditadura militar.
A política nunca foi a sua praia, o seu mergulho mais profundo foi na música, sua companheira inseparável. Talvez, a única vez em que participou como artista de uma atividade política, foi no encerramento da campanha eleitoral de 1982, quando abriu o showmício – palavra que aparece anos depois – com Djavan, que veio cantar para os candidatos do PMDB, José Costa e José Moura Rocha, com o menestrel Teotônio Vilela no palanque.
O tempo nos aproximou na juventude e eu me perguntava como brotam artistas numa terra tão árida como é Alagoas. Intimamente, sentia orgulho do seu talento e como construía um repertório genuinamente alagoano. Quem se dedicar a estudar a obra de Carlos Moura encontrará os ritmos e gêneros musicais que criaram a nossa identidade cultural.
A sua ida, nos anos oitenta, para o Rio de Janeiro é um momento de crescimento da carreira artística, onde grava o primeiro long-play e passa a ser conhecido pelo público mais amplo que o alagoano. Tem suas músicas tocadas nas rádios, se apresenta em programas de televisão. Este é o momento em que acontece a decolagem merecida da sua carreira.
Do Rio de Janeiro passa pela Bahia, em Salvador, encontra novos parceiros e continua fazendo sucesso com músicas nas rádios e cantadas no carnaval baiano.
Carlinhos saiu de Alagoas para correr o país, mas Alagoas nunca saiu de dentro do cantor de Minha Sereia, Casamento de uma Maria, Quebrando Coco, Rosa de Sol, Coco com C, Internet Coco, entre muitas belas músicas. A felicidade para um artista é, também, quando encontra parceiros com talento como os muitos que teve e gravou inúmeras músicas cantadas pelo público.
O reconhecimento público do seu talento e do significado da sua obra para Alagoas e, para a música popular, antes da sua morte, já havia acontecido. É evidente que não foi na medida do que representa para a cultura alagoana. O reconhecimento do artista é feito pelo público. Carlos Moura teve essa satisfação, assim como nós, amigos e admiradores, tivemos.
Salve, Carlos Moura!
*É historiador.