segunda-feira 2 de dezembro de 2024

O populismo cultural e as práticas (culturais) de JHC

Por Edson Bezerra

27 de junho de 2023 8:52 por Edson Bezerra

Não é de agora que a prática da atual Prefeitura de Maceió da realização dos megaeventos culturais, eventos, os quais, contando com a presença de grandes nomes de artistas consagrados pela mídia, atraem as massas das periferias.

Exemplar neste sentido, foi o Festival de Verão – realizado por entre os dias 11 a 15 de janeiro do presente ano, – quando de sua realização, foram disponibilizados transportes de graça atingindo-se ali, um público, centenas de  milhares de pessoas.

De um modo geral, a justificativa para o custo de toda a megaestrutura montada e do alto custo dos cachês pagos a artistas consagrados pela mídia para estes eventos, justificar-se-ia, segundo as falas dos gestores, a partir do pressuposto de que os tais eventos impulsionariam o desenvolvimento de uma economia criativa.

Todavia, estes eventos – tanto o Festival de Verão bem como o São João de agora – tem obedecido a uma logística perversa: eles acontecem em detrimento da construção de uma política cultural local, com a particularidade de que, neles, tanto o tratamento, bem como os caches pagos aos artistas locais, chega a ser humilhante.

Agora, no São João, a mesma megaestrutura se repete com o mesmo  modus operandi: transporte de graça e cachês astronômicos para os artistas de fora, espetáculos cujos cachês das estrelas variam entre 30 mil reais, a 700 mil (caso de Wesley Safadão), pois, se um tal de Zé Vaqueiro – R$ 300 mil, Taty Girl – R$ 200 mil, Banda Magníficos – R$ 150 mil, Lipe Lucena – R$ 80 mil, Maciel Valente – R$ 80 mil, Jaime Mendes – R$ 30 mil, Forrozão das Antigas – R$ 50 mil, enquanto que o cachê do sertanejo Gustavo Lima estaria orçado em 1.000.000 de reais, e, até mesmo, algo inusitado para uma festas de São João: a presença de integrantes da Escola de Samba Beija-Flor do Rio de Janeiro.

Todavia, com este modelo de evento durante a festa de São João, as contradições entre as tradições culturais e a (nossa) modernidade se agravam sobretudo por ser esta uma festa alicerçada nas relações comunitárias, festas tradicionais e alimentadas pelas vivências face-a-face através dos circuitos das relações sociais, alimentadas pelas mediações das fogueiras, das brincadeiras dos fogos e do compartilhamento das comidas típicas, e, tem sido justamente estas tradições fortalecedoras dos vínculos da comunidade, que o modelo dos eventos levados a cabo pela gestão de JHC vêm destruindo sistematicamente, através de uma mega estrutura e logística a montada e estruturada a partir de grandes atrações nacionais.

Na verdade, o que está em jogo é a destruição (cada vez mais) sistemática das culturas populares.

Afinal, – indagamos – com um evento montado a partir de uma megaestrutura tal como montada em Jaragua, quem ficara em sua rua ou bairro para dançar quadrilha sobre o ritmo de um forro-pé-de-serra em seus palhoções? Qual forrozeiro poderá disputar com a presença de um Gustavo Lima?

Na verdade, diante de uma total ausência de uma política cultural articulada dialogicamente com a sociedade civil, a atual gestão do prefeito JHC, joga para a plateia através de um populismo cultural, entendendo-se aqui por populismo cultural, a artimanha de simular para as massas a ilusão da produção de uma produção cultural local, de resto, inexistente, quando na verdade, o que existe e tem existido por parte da Prefeitura Municipal, tem sido um profundo desprezo pelas culturas populares.

Finalizando, na última sexta-feira, dia 23, vésperas de São João, o palco aonde deveria ter acontecido o polo de coco de roda e de outras manifestações das culturas populares, teve os seus equipamentos desligados em virtude do não pagamento da Prefeitura Municipal aos seus fornecedores.

Por estas e por outras, é que se entende a visão e o tipo de compromisso da atual gestão de JHC para com as culturas populares e para com os artistas locais.
Então é isso, e, como um dia exaltou o filósofo Gilberto Gil:
“O que a gente pode, pode
        O que a gente não pode explodirá”
Que explodiremos é uma certeza, mas a questão é: quando?
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