18 de agosto de 2023 9:31 por Da Redação
Comemorando o dia do Patrimônio Cultural Brasileiro e o mês da Fotografia, a exposição fotográfica intitulada Aqui Morava uma Família conta com os registros mais sinceros da sociedade afetada pela mineradora Braskem, em Maceió, mostrado nas pichações de suas casas, no momento que estavam à mercê de serem expulsos. A pichação, neste contexto, é um ato de literalização do passado e do seu processo de transformação em arquivo, como uma “escritura visual”.
Não se trata somente de imagens, porém imagens com escritas de cunho significativo de comunicação. São expressões mais que iconográficas, são registros de falas silenciosas que dizem muito de quem escreve e de onde escrevem. As pichações quando escritas na fachada, são “gritos” para a sociedade e constituem a paisagem dos bairros hoje; contudo, quando escritas nas paredes internas das casas, não são mais uma comunicação com o mundo exterior, elas parecem ser o registro, “o sussurro” da família em sua intimidade.
Detalhes da Exposição
A Exposição Temporária tem o objetivo de integrar a Casa do Patrimônio de Maceió à população dos bairros em afundamento como também toda a comunidade, além de continuar a envolver a sociedade Maceioense na discussão do desastre causado pela Mineradora Braskem em cinco bairros de Maceió.
Primeiramente foi solicitada cessão de fotos do grupo de fotógrafos da cidade para o uso na dissertação do Mestrado Profissional e, por sugestão da orientadora Lia Motta e do Supervisor Maicon Marcante, foi elaborada proposta de Exposição Temporária que conta com as fotos mais representativas do grupo sobre as pichações. De 198 fotos cedidas, foram escolhidas 60.
Os fotógrafos Jorge Vieira e a Professora Dilma de Carvalho assinaram a curadoria e, junto com esta pesquisadora, foram escolhidas as fotos, e o projeto expográfico foi desenvolvido pelo Arquiteto Nelson Braga. O título da exposição é Aqui Morava uma Família, frase pichada no portão da primeira casa do bairro do Pinheiro que começou a apresentar grandes rachaduras e afundamento brutal do solo e seguidamente foi descoberto o desastre ambiental de grandes proporções da Mineradora Braskem na exploração de Minas de sal gema em área urbana. O conceito aqui utilizado foi de mostrar que os afetados não são números e que são pessoas, na realidade famílias inteiras foram atingidas formando uma grande família de afetados. Nossa identidade!
A área utilizada da Casa do Patrimônio de Maceió é o hall principal de entrada, local de exposições temporárias, mas com intervenções muralistas que extrapolam este espaço e se estendem através de 5 banners na fachada do prédio, à Rua Sá e Albuquerque, a principal rua do bairro histórico e turístico de Jaraguá. Nos banners estão pichados em spray: Família Pinheiro, Família Bebedouro, Família Mutange, Família Bom Parto e Família Farol (os cinco bairros afetados). A exposição terá duração de dois meses, e, durante este tempo, todas as pessoas que passarem por esta rua, poderão olhar para os banners ali colocados. Para dar publicidade a esta exposição, a pichação dos banners foi feita no dia 22/07/2023, data anterior a exposição, em frente a porta da Braskem, na praia do Sobral, com os muralistas Yara Pão e Levi, filmados com drone, vendo todas os nomes das famílias pichadas e ao fundo a entrada da Braskem.
Essas filmagens foram transformadas em vídeo de 1 minuto e foi veiculada como uma chamada, um convite para a participação da sociedade na exposição aberta dia 17/08/2023, dia do Patrimônio Cultural Brasileiro.
A abertura da exposição, contará com os registros da sociedade afetada, mostrado nas pichações de suas casas, no momento que estavam à mercê de serem expulsos. A exposição foi aberta ao público na Casa do Patrimônio (sede do IPHAN), Rua Sá e Albuquerque, 147, bairro histórico de Jaraguá, em um dos dias mais significativos do ano: dia 17/08 (quinta-feira), dia do Patrimônio, às 19:30h; sem esquecer da semana da fotografia, comemorada no dia 19/08. No próximo sábado, dia 19/09 será realizada a Oficina de sensibilização sobre referências culturais com representantes da sociedade afetada, pessoas engajadas na causa, representantes de associações, líderes e acadêmicos, conduzida pela Prof. Mestra Sônia Rampim, Coordenadora do ICOMOS-ONU, na mesma Casa do Patrimônio de Maceió. A oficina contará com a abertura do Prof. Dr. Leonardo Castriota, arquiteto urbanista que coordenou o Dossiê de tombamento de Bento Rodrigues e é conselheiro do ICOMOS-ONU.
A comunicação teve como consultor o jornalista, arquiteto e cartunista, Ênio Lins, que também foi secretário de Comunicação do Estado de Alagoas nos últimos oito anos. Para maior divulgação da exposição, foram elaborados cards e vídeos de 1 minuto que circularam durante os dez dias que antecederam a exposição. Serão também contactados os canais de comunicação local de TV e mídia digital, além de articulação com as mídias de parceiros que já possuem canais alternativos como os grupos no Instagram: “vítimas da Braskem”, “Vidas Rachadas”, “Projeto ruptura mcz” e outros.
Durante a exposição, as fotografias serão vendidas a R$50,00 (cinquenta reais) e o arrecadado será doado para o S.O.S Pet Pinheiro, grupo que tem se esforçado para salvar gatos abandonados nos bairros. A ação se desdobra para ajudar a associação em momento de grande dificuldade. A entrega será registrada em mídia também para conhecimento da população.
Na abertura da exposição foi também lançado o livro digital “A cidade Engolida- uma discussão inicial do afundamento dos bairros em Maceió-AL pela extração da Sal-gema”, no qual esta pesquisadora escreve um dos capítulos. A edição é organizada pelas Prof. Dra. Natallya de Almeida Levino e Prof. Dra. Marcele Elisa Fontana, e é gratuita. Esse livro será usado como material complementar do curso de geografia da UFAL.
Resumo da exposição
Exposição: Aqui Morava uma Família.
Idealizadora: Mestranda Gardênia Nascimento
Curadoria: Fotógrafos Jorge Vieira e Dilma de Carvalho
Projeto Expográfico: Nelson Braga
Fotógrafos:
Arthur Celso
Ana Paula
Carlos Eduardo
Deth Nascimento
Dilma de Carvalho
Data: 17/08/2023 às 19:30h
Local: Casa do Patrimônio de Maceió (IPHAN)
1 Comentário
Infelizmente temos que admitir, que nós alagoanos, em parte, somos culpados neste crime vergonhoso que se abateu em nosso estado. Foram muitas, as pessoas de destaque, de diversos seguimentos da nossa sociedade que alardeavam ser a exploração do cloro,a redenção de tudo que poderíamos ter. Ledo engano! Fomos na verdade enganados e explorados por um grupo empresarial nefasto, que feriu de morte a sociedade alagoana. Vai demorar muito a cicatrizar este ferimento. Só o tempo dirá.