segunda-feira 13 de janeiro de 2025

Ouvidor quer proibir memes com imagens da ‘policial de folga’ em grupos de PMs

Para Ouvidoria, montagens com imagem da policial que recusou a ajudar jovem negro perseguido sob a mira de arma de policial civil de SP é “violência psíquica e emocional”
Imagem da soldado Tamires Borges Coutinho Siqueira | Foto: Cris Vector / @crisvector

Por Kaique Dalapola, da Ponte

A Ouvidoria de Polícia do Estado de São Paulo divulgou uma nota, na última sexta-feira (17/11), repudiando a série de memes criados a partir da omissão da soldado da Polícia Militar Tamires Borges Coutinho Siqueira, e sugere que as imagens, classificadas como “violência psíquica e emocional”, sejam proibidas de circular em grupos do WhatsApp de policiais.

A soldado Tamires virou alvo de memes após recusar ajuda a um jovem negro que estava sendo perseguido sob a mira da arma de um policial civil, no dia 12 de novembro, próximo à estação Carandiru do Metrô, na zona norte da cidade de São Paulo, alegando estar de folga, apesar de estar fardada. As imagens foram divulgadas pela Ponte na última segunda-feira (13/11).

Na ocasião, a soldado chegou a chutar o jovem que estava sendo perseguido pelo homem armado, que posteriormente foi identificado como investigador da Polícia Civil Paulo Hyun Bae Kim, e sugeriu “ligar para o 190”. Especialistas ouvidos pela Ponte avaliam que a PM cometeu crime de prevaricação e está passível de demissão.

A nota assinada pelo ouvidor da Polícia, professor Cláudio Silva, diz que as imagens com tons de humor expondo a soldado “tem ganhado ampla circulação em grupos de policial em redes como WhatsApp, causando sofrimento psíquico à referida policial, enquanto seu comportamento encontra-se ainda em processo de instrução pelos canais correcionais competentes”.

Em um dos memes, a imagem de Tamires parada de braços cruzados enquanto o jovem negro pedia sua ajuda foi incluída em uma foto de uma praia cheia, com a seguinte legenda: “encontre a pessoa que está de folga”. Para Ouvidoria, esse tipo de conteúdo está “eivado de preconceitos e misoginia” e “tendem a crescer e causar prejuízos irreparáveis, sobretudo às mulheres”.

Meme com imagem de policial circula em grupos de policiais no WhatsApp | Foto: Reprodução/Reddit

Com base nessa avaliação e sob a justificativa de atender à saúde mental das forças policiais, a Ouvidoria “oficiou a Polícia Militar sugerindo que seja produzida normativa no âmbito do Comando Geral da PM proibindo a disseminação de conteúdos depreciativos, jocosos ou que firam o moral de indivíduos, sejam policiais ou civis, em grupos nos quais façam parte policiais militares”.

A ativista Maria Cristina Quirino, mãe de um dos mortos no Massacre de Paraisópolis, em 2019, acredita que a postura da Ouvidoria contribui para que a omissão da PM fique em segundo plano. “Proibir memes ou comentários sobre um caso como esse é para que abusos como esse sequer sejam falados”, afirma. “A policial que se nega a prestar sua obrigação de defender o jovem ameaçado revela o racismo em si.”

Quirino lembra ainda que “policiais de folga até matam com o argumento de estarem exercendo seu papel, nesse caso vimos que há contrariedade”.

Para Benedito Mariano, sociólogo e ex-ouvidor de Polícia de São Paulo, os memes com caráter misógino precisam ser apurados, mas ressalta a gravidade da ação que precedeu às imagens de humor compartilhadas. “A omissão da soldado é grave, assim como é mais grave ainda a ação irresponsável de uma pessoa com arma em punho ameaçando o jovem”, conta.

O ex-ouvidor e atual secretário de Segurança de Diadema, na Grande São Paulo, entende, portanto, que “a Ouvidoria deve instaurar três procedimentos: um contra o policial civil que ameaçou o jovem, outro por omissão da soldado e o terceiro por misoginia”.

Já o advogado Júlio César Fernandes Neves, que também é ex-ouvidor da Polícia de São Paulo, acredita que “a Ouvidoria tem atribuições diferentes desta que está propondo nesse momento”. Ele ressalta que a conduta omissa da policia que precisa ser levada à Corregedoria, “além de que não está prevista na constituição do Estado de São Paulo tal iniciativa [de proibir memes]”.

O advogado Elizeu Soares Lopes, antecessor do atual ouvidor, disse estar de acordo com a manifestação da Ouvidoria a favor da policial militar. “A nota do atual ouvidor está correta, contempla a preocupação com a saúde mental dos policiais. Não teria nada a acrescentar”, disse.

Please follow and like us:
Pin Share

Mais lidas

Praça dos Três Poderes recebe ato em defesa da democracia em 8 de janeiro

Por Lucas Toth, do portal Vermelho A Praça dos Três Poderes, em Brasília, será

Jornalista recebe apoio após ataque em rede sociais

Em nota oficial, o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas repudiou, nesta sexta-feira (20), os

Paulão cita 082 Notícias e volta a denunciar crime da Braskem em Maceió

O deputado federal Paulão (PT) usou o artigo “A Justiça que segrega”, do historiador

Polícia científica identifica digitais de suspeitos em brigas entre torcedores de CSA e CRB

Uma perícia realizada pelo Instituto de Criminalística de Maceió em um veículo utilizado na

Cultura reúne artistas musicais para novo cronograma do 6º Festival Em Cantos de Alagoas

A Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult) reuniu, na terça-feira (10),

TRE proíbe motorista de aplicativo de colar adesivo de candidatos

Veículos cadastrados em aplicativos de transporte urbano, como Uber, 99, InDriver e outros, não

Eleições 2024: cresce em 78% o número de eleitores menores de 18 anos

Por Iram Alfaia, do portal Vermelho O Brasil possui 1.836.081 eleitores menores de 18

Eleitores vítimas da Braskem são orientados a buscar novos locais de votação

A mineração predatória que a multinacional Braskem S/A realizou em Maceió por quase 50

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *