1 de dezembro de 2023 12:17 por Da Redação
Por Mauricio Angelo, do Observatório da Mineração
A petroquímica Braskem é a responsável por expulsar mais de 55 mil pessoas de suas casas e destruir bairros inteiros de Maceió. O caso, considerado o pior desastre em área urbana em curso no mundo, que começou em 2018, já foi alvo de diversas matérias deste Observatório da Mineração nos últimos anos.
Esta semana, porém, dois fatos se misturam e ajudam a ilustrar como o discurso sustentável pode ser apropriado por empresas que são causadoras de grandes crimes socioambientais.
Uma das crateras deixadas pela Braskem no subsolo de Maceió pela extração irresponsável de sal-gema durante décadas “corre risco iminente de colapso”, segundo a Defesa Civil. Foram cinco abalos sísmicos somente em novembro. Um hospital precisou ser evacuado.
“Se o teto dela [mina]vier a desabar, essa cavidade chega até a superfície, e se ela chegar dentro da lagoa, aí a gente tem consequências mais preocupantes, como um aumento de salinização dessa água e vai impactar toda a área de mangue de forma bastante trágica”, afirmou o coordenador geral da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, ao G1.
Um “Gabinete de Crise” foi criado e o prefeito decretou situação de emergência por 180 dias em Maceió.
Enquanto a capital de Alagoas continua a afundar, a Braskem é uma das empresas presentes na Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP 28, que acaba de começar nos Emirados Árabes.
A petroquímica está no pavilhão brasileiro ao lado de Vale, Petrobras e Syngenta, campeãs do capitalismo verde, consciente e sustentável.
Em seu site, a Braskem se orgulha, por exemplo, em ter reduzido “em mais de 17% a intensidade de emissões de gases de efeitos estufa entre 2008 e 2020” e ter atingido “72% de cumprimento do Plano de Adaptação às mudanças climáticas”.
Investimentos em biomassa, compra de energia solar e eólica e precificação interna de carbono constam entre as iniciativas da Braskem, que se orgulha ainda por estar entre “as melhores empresas de capital aberto no mundo em relação ao gerenciamento do uso da água”.
O desastre de grandes proporções que continua a se agravar em Maceió e as ações de reparação absolutamente insatisfatórias são um mero detalhe para a máquina de propaganda global de greenwashing da empresa, maior petroquímica das Américas e estrela da bolsa brasileira, figurando entre as mais rentáveis aos investidores nos últimos anos.
Moradores de Bom Parto, em Maceió, que durante anos pediram a realocação, foram obrigados a sair de casas às pressas nesta quinta e deixar tudo para trás por causa do risco iminente de colapso da mina 18 da Braskem, no Mutange. A Justiça Federal autorizou que o Estado use a força policial caso as pessoas resistam a deixar o local.
“Eles falaram que a gente tinha de sair de qualquer jeito. E aí chegaram lá com dois ônibus, situação foi essa que generalizou lá uma confusão porque muitos não aceitaram, porque a gente já vive indignada há muitos anos, muitos meses e anos, e aí eles chegaram do nada, pra retirar todo mundo”, relatou a marisqueira Marivânia dos Santos Venâncio à Globo.