Por Thiago Aquino, da Agência Tatu
No último domingo (10), a região próxima à mina nº 18 da Braskem, em Maceió, iniciou um processo de colapso, consequência do afundamento de solo causado pela Braskem, atingindo cinco bairros da capital. Por meio de imagens de satélites, a Agência Tatu mostra a transformação na paisagem da região desde 2018.
A análise foi feita considerando o histórico disponibilizado pelo Google Earth, que reúne imagens de satélites de todo o globo. A reportagem utilizou como referência para a coleta de imagens o local onde ocorreu o colapso, no bairro do Mutange.
Confira as alterações da Braskem na paisagem de Maceió no vídeo abaixo:
O vídeo mostra uma sequência de imagens registradas entre o ano de 2016 até 2023 em um mesmo ângulo da região do Mutange. Até março de 2019, as imagens mostram um cenário normal de uma região habitada com movimentação de veículos. Em março de 2020, já se percebe um vazio nas vias, principalmente ao longo da Avenida Major Cícero. Essa mudança coincide com a saída das famílias que aconteceu até abril daquele ano.
Já na imagem de julho de 2020 é possível visualizar uma parte dos imóveis já sem telhado, inicialmente no trecho plano, e a transição entre as imagens causa um efeito gradativo do avanço da desocupação das casas e estabelecimentos comerciais até a parte alta.
A maior mudança pode ser vista na imagem de dezembro de 2022 e na mais recente, de junho de 2023, quando é possível perceber que a área se torna totalmente vazia, com uma coloração de terra, principalmente na área que passou por terraplanagem.
Impactos causados pela Braskem em Maceió
O professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Dilson Ferreira, elenca os impactos que as imagens denunciam:
- Migração: “o afundamento de solo tirou as pessoas da região e formou um vazio urbano, uma cidade fantasma, com a migração de 55 a 60 mil pessoas, além de impactar indiretamente mais de 200 mil pessoas. Com essas imagens, é possível perceber a ampliação do mapa de risco, um cenário de guerra”;
- Problema ambiental: “a água está entrando na mina que colapsou e rompeu, se misturando com o sal de alta pureza. A gente não sabe ainda o risco para a Lagoa Mundaú. Pode afetar o sururu, toda fauna e flora”;
- Falta de infraestrutura: “a mudança de uma população para outra área exige mais escolas, hospitais e toda infraestrutura necessária. Não é só um problema localizado dos cinco bairros, mas se expõe para toda a cidade e até para outros municípios”;
- Aluguel em alta: “a grande procura por moradia em outras áreas da cidade ampliou o valor dos aluguéis”;
- Mobilidade: “os carros que circulavam nas regiões diretamente afetadas, agora passam pela Avenida Fernandes Lima. Isso aumenta o fluxo e as pessoas passam mais tempo no trânsito”;
- Social: “tivemos a retirada das vítimas à força, pessoas depressivas e casos até de suicídio”;
- Econômico: “Comerciantes e empresas que encerraram as atividades”.
Vítimas da mineração da Braskem
Questionado sobre o que as imagens representam para as vítimas, o presidente da Associação de Empreendedores e Vítimas da Mineração da Braskem em Maceió, Alexandre Sampaio, foi objetivo.
“É um cenário de terra arrasada. Essa devastação sistemática da Braskem, que começa com as minas, depois com o destelhamento das casas e finalmente a destruição delas, é o símbolo vivo de um crime sem precedentes na humanidade e também o símbolo da impunidade”, descreveu Sampaio.
O que a Braskem diz
A imagem mais recente da região mostra espaços que eram ocupados por imóveis e que agora compõem uma área deserta. A Braskem divulgou que o espaço passa por “atividades de terraplenagem para suavizar as inclinações da encosta, implantação de um novo sistema de drenagem integrado ao sistema existente e o plantio da cobertura vegetal que, além de contribuir para a estabilização do terreno, ampliará a área verde de Maceió”.
Questionada se a propriedade de vias e espaços públicos que foram terraplanados também pertencem à empresa atualmente, a Braskem confirmou que sim e que a transferência da propriedade está prevista no Termo de Acordo para Apoio na Desocupação das Áreas de Risco, firmado em 2020 com o MPF, MPE e DPU. “A partir da desocupação dos imóveis das áreas de desocupação e monitoramento, a empresa assume sua posse, passando a adotar medidas para limpeza, conservação, controle de pragas e segurança patrimonial”, informou em nota.
A mineradora também acrescentou que, no acordo, “se compromete a não edificar nas áreas desocupadas para fins comerciais ou habitacionais’ e que “discussões futuras sobre a área e sua utilização poderão ser feitas a partir do Plano Diretor do Município”, afirmando que nenhuma decisão sobre o futuro da área caberá exclusivamente à Braskem.
1 Comentário
A Braskem tem quer ser responsabilizados por tidos todos os donos sociais , psíquicos e financeiros ao povo alagoano