Por Pedro Borges, do Alma Preta
O período de festas é especial no Brasil, com celebrações e momentos de descanso para a maioria das pessoas. O Natal e o Ano Novo são as principais comemorações no calendário nacional, mas não são as únicas. O Kwanzaa é uma delas, com início marcado para o dia 26 de dezembro e celebrado por 7 dias. O encerramento, no dia 1º de janeiro, conta com uma grande festa.
“É importante dizer que o Natal é o Natal, o nascimento de Jesus Cristo, momento importante para o cristianismo. O Kwanzaa não é o natal negro. O Kwanzaa é o festival da colheita. Não é apenas um dia, como o Natal”, explica o pesquisador Gyasi Kweisi Mpfume, mestre em História pela Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
Criada pelo professor Maulana Karenga, a celebração começou na passagem de 1966 para 1967, em Los Angeles, Califórnia (EUA). O início da festa se deu no contexto da luta por direitos civis no país estadunidense e com o objetivo de fortalecer a união da comunidade negra no mundo.
“Ela é baseada no festival das colheitas, que existe há muito tempo no continente africano. O evento se inspirou no festival Umkhosi Wokweshwama, do povo Zulu, e dos festivais da colheita do povo Ashanti, mas também de outros povos africanos que fazem o festival da colheita”, conta Mpfume.
O pesquisador celebra o Kwanzaa desde 2008, um ano depois da chegada da celebração no Brasil, na cidade de Salvador, Bahia. O primeiro ritual foi criado por um coletivo de negros cristãos.
“O objetivo do Kwanzaa é de que nós podemos falar sobre nós, para além das reuniões do movimento negro, onde a gente sabe que poucas pessoas participam. O Kwanzaa é uma celebração, um espaço de comemoração da nossa ancestralidade, das nossas civilizações africanas. Conhecer mais sobre nós e estarmos juntos em comunidade, resolvendo problemas juntos”, descreve.
A origem da palavra Kwanzaa
Kwanzaa significa “os primeiros frutos” e tem origem Suaíli, a língua banta mais falada na África, com aproximadamente 150 milhões de falantes. O continente africano tem 1,2 bilhão de pessoas.
A celebração tem 7 dias de duração e para ela se usam 7 velas, em referências aos 7 princípios da festa: Umoja, que significa unidade; Kujichagulia, autodeterminação; Ujima, trabalho coletivo e responsabilidade; Ujamaa, economia cooperativa; Nia, propósito; Kuumba, criatividade; e Imani, fé.
A cada dia, uma vela de cor diferente deve ser acesa em um altar onde são colocadas frutas frescas e uma espiga de milho por cada criança que houver na casa. Depois de acesa a vela, todos bebem uma taça comum em reverência aos antepassados e saúdam com a exclamação “Harambee”, que tanto significa “reúnam todas as coisas” quanto “vamos fazer juntos”.
A grande festa é a de 1 de janeiro, quando há muita comida e cada criança ganha três presentes que devem ser modestos: um livro, um objeto simbólico e um brinquedo.
“São falados assuntos sobre a nossa história, ao mesmo tempo que é um espaço lúdico e de entretenimento. O Kwanzaa vem para reforçar a identidade negra e para ser um espaço para a nossa irmandade se valorizar, se gostar, para estarmos juntos e pensarmos como uma comunidade”, conclui Mpfume.