3 de janeiro de 2024 8:47 por Da Redação
A década de ’90 foi um momento de diversas modificações no Brasil. Entre as mudanças, a área cultural, que foi intensamente oprimida durante mais de vinte anos pela ditadura militar, buscou por novos ares e novas manifestações artísticas.
Dentro desse contexto, a banda Utopia se desmanchava para se tornar um potente e efêmero conjunto de rock guarulhense, o Mamonas Assassinas. Com letras irônicas, de cunho político incorreto e sarcásticas, o quinteto conquistou todas as faixas etárias e conseguiu entrar para as paradas de sucesso com apenas um álbum, alcançando a marca de mais de três milhões de discos vendidos.
Na última quinta-feira (28), a biografia sobre o quinteto de Guarulhos teve sua estreia nos cinemas de todo o país. O elenco conta com Ruy Brissac (Dinho), Adriano Tunes (Samuel), Rhener Freitas (Sérgio), Beto Hinoto (Bento) e Robson Lima (Júlio). Direção por Edson Spinello, produção por Walkiria Barbosa e o roteiro por Carlos Lombardi.
Partindo da escolha dos atores para o elenco, decidiram de forma certeira. A semelhança física dos atores com os roqueiros é interessante, contudo, a caracterização dos figurinos se afastou do que realmente era tendência na época. A personagem criada para substituir a Valeria Zoppello, ex-namorada de Dinho, mais parece uma mulher dos tempos atuais do que uma mulher de vinte e sete anos atrás, sem xadrez, calça mom jeans, t-shirts e óculos ovais para destacar a it-girl noventista. Patético.
A ambientação foi insuficiente. Não teve muita coisa que marcou a década. Além da televisão de tubo e dos carros antigos, a direção de arte não conseguiu construir um cenário que levasse o público para dentro da história. Até mesmo a cena da 89FM, a Rádio Rock, sequer se aproximou a parecer o estúdio de uma rádio.
A trilha sonora surpreendeu, mas de forma negativa. Para marcar o encontro entre Sérgio e a namorada, a música selecionada foi “Grão de Areia”, de Rubel e Xande de Pilares, lançada ano passado. Nem mesmo na cena do Dinho conhecendo a futura namorada dentro de uma discoteca tocou um pop nacional, um rock nacional ou uma house music.
O processo de construção do enredo foi desrespeitoso com a memória dos jovens, não se aprofundaram na trajetória pessoal e nem artística deles, deixando a história de Bento e Júlio como segundo plano, porém focando em romances inexistentes dos irmãos Reoli. O roteiro conseguiu constranger com as mais diversas cenas sem nexo e tentaram forçar um humor que poderia ter sido natural.
Deveriam ter aproveitado o tempo com cenas, de fato, interessantes. Por exemplo, a viagem para a mixagem do primeiro e único disco nos Estados Unidos.
O roteiro acelerado pincela somente metade do que foi o Mamonas Assassinas. Uma banda de São Paulo, formada por cinco rapazes que viram uma saída na música, foram resistentes aos boicotes da grande indústria musical da época e que caíram na graça do público.
A carreira dos Mamonas foi interrompida de um modo tão brusco e triste, a tragédia continua fixada no consciente do público daquela época e ressoa nos mais jovens que não tiveram a oportunidade de conhecer no auge do momento. Apesar da interrupção da vida de pessoas brilhantes, trajetória e as músicas são atemporais.
Por fim, “Mamonas Assassinas – O Filme” pega pelo emocional da história, de tudo que aconteceu e pelas cenas finais, mas não faz uma homenagem merecida. O estrondoso fenômeno uniu o melhor do Brasil: a diversão, o rock e as críticas sociais de modo irônico. Mamonas vive!