Carla Madeira é uma autora mineira, que largou um curso de matemática e se formou em jornalismo e publicidade. Véspera é o seu terceiro livro, lançado em 2021, após o considerável sucesso do primeiro tudo É Rio (2014) e o não menos exitoso A Natureza da Mordida, lançado em 2018.
Véspera, é um romance envolvente, daqueles em que o leitor vai sendo enredado pela habilidade narrativa da autora e pela construção minuciosa das personagens. As 278 páginas são facilmente consumidas, pelo vai e vem do núcleo dos personagens, que se revezam brilhantemente em capítulos distintos. Esse tipo de estrutura funciona muitíssimo bem, posto que conduzida por uma escritora do naipe de Carla Madeira, uma artífice das palavras, que sabe capturar o leitor, como as redes capturam o peixe em alto mar.
Logo nos primeiros capítulos, a autora demonstra toda sua criatividade, usando as personagens bíblicas, Caim e Abel, como referências no desenrolar da trama, na qual, o pai, para se vingar da esposa, registra em cartório os nomes bíblicos para os filhos gêmeos, frutos de uma precária união matrimonial. A carga emocional que todos carregam, a partir da escolha do pai, para os nomes das crianças, tenciona o romance do começo ao fim.
Os vários núcleos de personagens se conectam entre si e fazem o todo da trama ser criativo, inteligente, envolvente e muito bem urdido. A certa altura do romance, a autora coloca em cena o abandono de uma criança de apenas seis anos de idade, deixada pela própria mãe na calçada de uma grande avenida. Esta, por sua vez, é casada com Abel, um dos gêmeos. Aliás, o que não falta nessa turma toda são problemas psicológicos, que delineiam a criação dos personagens.
Porém, engana-se quem pensar que Véspera é um romance duro, seco e frio. A prosa poética de Carla Madeira fica evidente no trato refinado das palavras e nas frases bem elaboradas e precisas. ”Tenho pra mim que o grande talento dele é a curiosidade, além do senso de humor, que é de longe a melhor inteligência que se pode ter.” Ou quando escreve: “A confirmação de uma suspeita é sempre um excesso de realidade”. Nesse caso, para mim, a suspeita sobre Véspera tornou-se uma deliciosa realidade!
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!