sábado 23 de novembro de 2024

Disco genial de Chico Buarque para driblar a censura completa meio século

Em Sinal Fechado, de 1974, o músico usa o pseudônimo Julinho da Adelaide, além de gravar outros compositores

15 de janeiro de 2024 7:23 por Da Redação

Reprodução

Por Augusto Diniz, da Carta Capital

Depois de ter seu disco censurado e recolhido (baseado na peça Calabar), Chico Buarque lançou em 1974 um engenhoso álbum, que não fugia do tom político, mas o tirava do foco da censura do governo militar.

Sinal Fechado é um disco de intérprete do cantor e compositor, com gravação de outros compositores para evitar perseguição do regime. A exceção foi uma canção de autoria de Julinho da Adelaide, pseudônimo de Chico Buarque que seria usado em mais algumas canções.

A música em questão é Acorda, Amor, uma genial crítica à perseguição policial da ditadura. Fichado pelo regime, Chico usou nomes de compositores inexistentes para essa canção e, assim, driblou a censura. Além de Julinho, assinava a faixa um tal Leonel Paiva.

A faixa-título, que fecha o álbum, obra-prima de Paulinho da Viola, remete aos tempos sombrios de maneira sutil: Sinal Fechado é um encontro tenso de duas pessoas na rua, com palavras medidas em meio à vida corrida e à preocupação intrínseca com a repressão.

Mas a música mais popular do disco, cuja autoria até hoje atribuem erroneamente a Chico Buarque, é o samba Sem Compromisso, de Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro.

O disco começa com Festa Imodesta (Caetano Veloso) e a filosófica Copo Vazio (Gilberto Gil). Chico gravou também Noel Rosa, a quem é muitas vezes comparado pelas composições em formato de crônicas. Trata-se da ótima Filosofia, que Noel assina com André Filho.

Vinícius de Moraes e Tom Jobim, muito próximos de Chico na época, não ficaram de fora, com O Filho que Eu Quero Ter (Vinicius fez com Toquinho) e Ligia. No disco, ainda há Você Não Sabe Amar (Dorival Caymmi, Carlos Guinle e Hugo Lima). Me Deixe Mudo, de Walter Franco, é outra denúncia sutil daqueles tempos.

As canções têm som dramático, que Chico fez questão de sublinhar, em busca de identificar o disco com o momento obscuro.

Por fim, ele empresta a voz em mais duas músicas de compositores populares: Cuidado com a Outra (Nelson Cavaquinho, com Augusto Tomaz Jr.) e Lágrima (Jackson do Pandeiro, com José Garcia e Sebastião Nunes).

Chico Buarque foi totalmente Chico Buarque em Sinal Fechado, mesmo considerando o fato de que o disco tem apenas uma composição sua (assinada com pseudônimo). Um álbum inesquecível pelo modo como o músico buscou manter a relevância como cantor, compositor e artista engajado.

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