Por Cássio Araujo*
O colunista da Folha de S. Paulo Julio Wiziack publicou, na sua coluna de 28 de janeiro de 2024, a opinião do integrante do Conselho de Administração da Braskem e CEO da Lojas Marisa, Sr. João Paulo Nogueira Batista, dizendo que a tragédia de Maceió, causada pela Braskem, não existiu, porque ninguém morreu e, decorrente do acordo feito pela empresa e as autoridades, os valores das indenizações foram acima da média.
O romance Primo Basílio, de Eça de Queiroz, tem um personagem de nome Conselheiro Acácio, que se notabilizou por ser a representação da superficialidade, de uma pretensa intelectualidade pomposa e vazia e das considerações emboloradas e distantes da realidade.
O crime socioambiental cometido pela Braskem em Maceió destruiu os afetos e as relações de amizades das mais de quinze mil famílias existentes na área, que praticamente foram expulsas dos seus lares, adoecendo as pessoas e levando pelo menos quatorze vítimas a tirarem a própria vida. Foram mais de seis mil negócios fechados e bem poucos tiveram condições de reabrirem em outros lugares.
Isso sem falar das áreas em ilhamento socioeconômico, como os Flexais, Quebradas, Marquês de Abrantes, Rua Santa Luzia, no Saem, e Bom Parto, espaços esses que este conselheiro nunca colocou os pés lá, mas, no entanto, a população que vivem nesses lugares perderam escolas do fundamental, do ensino médio e superior que não mais existem, postos de saúde, mercadinhos, padarias, açougues e farmácias, igrejas e todos os seus referenciais que davam condições de vida, sentido e identidade do local.
Quanto aos valores pagos terem sido acima da média, basta saber que conforme a FIPE/ZAP o preço médio do metro quadrado de um imóvel em Maceió, em janeiro/2019, era de R$ 4.562,00 e em dezembro/2023, era de R$ 8.240,00. Enquanto isso, descontando os valores pagos a título de dano moral por imóvel, auxílio aluguel, honorários advocatícios e despesas de cartório e imposto de transferência, encontra-se o valor médio do metro quadrado pago a importância de R$ 946,50! Em que média o referido conselheiro da Braskem está falando!?
Um desastre socioambiental é em si um ato de profunda violência contra as suas vítimas. Minimizar a violência, ou negá-la, como fez o conselheiro, que parece querer seguir os passos do personagem do escritor português, é agredir pela segunda vez a situação das vítimas, é provocar uma nova tragédia com a sua negação, é fazê-las sofrer ao quadrado, é revitimizá-las!
*Secretário-Geral do MUVB – Associação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem