Por Igor Carvalho, do Brasil de Fato
Grupos ligados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançarão o “Curso de Planejamento de Campanha Eleitoral”, que ocorrerá dentro do projeto “Encantar a Política”. No anúncio da formação, os organizadores afirmam que ela é destinada a “lideranças de movimentos sociais e eclesiais que são comprometidas com a democracia, a justiça e a paz e que disputarão as eleições municipais deste ano.”
Daniel Seidel, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) e coordenador do curso, explica que a declaração de fé não será obrigatória, mas há uma inclinação à esquerda na formação.
“O que apresentamos de forma explícita é um conjunto de valores que caracteriza o novo humanismo que o papa Francisco tem proposto, calçado na solidariedade, fraternidade, igualdade, na justiça social e ambiental. Ou seja, não escondemos qual a intencionalidade de projetos que queremos apresentar. A profissão na fé católica não será uma obrigatoriedade”, disse Seidel.
O curso teve uma primeira edição nas eleições de 2022, em caráter quase experimental. Em 2024, os organizadores pretendem expandir a experiência e, antes mesmo do lançamento oficial, já há 400 inscritos, de organizações, partidos e movimentos próximos dos órgãos à frente da formação.
Em 2022, 140 pessoas fizeram o curso, 57 mulheres e 84 homens. Do total, 64 eram do sudeste, 19 do nordeste, 18 do norte, 17 do sul e 9 do centro-oeste. Na distribuição partidária, a maioria era oriunda do PT (58), mas havia participantes do PSOL (17), Rede (6), PSB (6), PDT (3), PCdoB (3), Podemos (2) e PV (2). Progressistas, PRTB, PSB, PSC, PSD, PSL, Solidariedade e União Brasil tinham um representante cada.
A conjuntura política do interior do país é levada em conta pela organização do curso. “Para nós, o importante é a identidade dos mandatos. Não identificamos a questão partidária porque sabemos que em diversas regiões do país há acordos particulares que fogem do discurso ideológico”, explica Seidel.
Em 2024, o curso será integralmente virtual e deve ter seu início em 1 de março. Além da CBJP, participam da organização da formação o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), o Centro Nacional de Fé e Política Dom Hélder Câmara (Cefep) e o Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontífice Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais.
“Trata-se de reabilitar a política como uma prática para os povos oprimidos e enfrentar a demonização da política, que era feita pela grande mídia. Então, com o fôlego da Fratelli Tutti, que ganhou adesão dentro da CNBB. É importante dizer que isso ocorreu dentro do governo anterior (Jair Bolsonaro) que uniu muitos setores dentro da igreja”, conta Seidel.
A Fratelli Tutti é uma encíclica do Papa Francisco, divulgada em 3 de outubro de 2020, sobre a fraternidade e a amizade social. O documento, que faz parte da Doutrina Social da Igreja Católica, encontrou críticas em setores à direita dentro da igreja, que consideram um documento com inclinação à esquerda, por sua preocupação com os mais pobres e excluídos.