22 de fevereiro de 2024 2:42 por Da Redação
A renúncia do senador Renan Calheiros (MDB) da CPI da Braskem, após articulação que o tirou da relatoria, deixa no ar uma série de perguntas. O que o autor do requerimento que instalou a CPI com 45 assinaturas sabe e Alagoas e o Brasil ainda não ficaram sabendo sobre o afundamento do solo em Maceió? Quem são os operadores, que nos bastidores, atuaram contra as 60 mil vítimas diretas dos crimes praticados pela Braskem e o Estado de Alagoas?
Essas questões, mais dias, menos dias, virão à tona. Não existem segredos na arena política. A opção pelo nome do senador Rogério Carvalho (PT-SE) para a relatoria da CPI da Braskem abriu uma crise no colegiado e resultou na saída de Renan Calheiros da comissão. O senador Rogério Carvalho se destacou na CPI da Covid e é ligado ao núcleo duro petista no Senado Federal.
Duas linhas que se ajudaram para barrar o senador Renan Calheiros: a primeira constitui-se na tropa de choque que vem atuando nos bastidores em sintonia com a Odebrecht/Novonor, controladora da Braskem, formada pelo senador Jaques Wagner (PT) e o senador Otto Alencar (PSD). Fora do plenário, atuaram nos bastidores o ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e o atual governador baiano, Jerônimo Rodrigues (PT).
A segunda turma tem o comando do deputado federal Arthur Lira, no primeiro plano, exercendo pressão sobre o presidente Lula, e o senador Rodrigo Cunha, preposto de Lira e de JHC, prefeito de Maceió. Essas duas linhas convergiram com interesses distintos, qual seja impedir que Calheiros exercesse a relatoria da CPI.
A defesa de interesses regionais, no caso os baianos, e a inimizade de Arthur Lira com Renan Calheiros prevaleceram diante do estrago público dos crimes ambientais cometidos pela Braskem. A escolha do senador Rogerio Carvalho significa redução de danos para os criminosos e um afago petista ao aliado Emílio Odebrecht.
O presidente Lula, ao se referir à instalação da CPI, argumentou contra e, certamente, agiu ativamente para deslocar Renan Calheiros da relatoria. As ligações dos petistas baianos com o empreiteiro Emílio Odebrecht são antigas. A empreiteira tem um histórico como financiadora de campanhas eleitorais dos políticos baianos e de outros estados, sem perguntar qual a ideologia do candidato ou do partido.
O que disse Renan Calheiros:
“A diversidade fortalece, enquanto conforta a anestesia quando o poder com âmbito e alguns poderosos, mas com a força da verdade e da justiça, erguemos a comissão. Com encaminhamentos que ensaiam domesticar a CPI, não emprestarei, não emprestarei meu nome para simulacros investigatórios. Jogos de cartas marcadas sempre acabam com a ruína de castelos de cartas. Já vi esse filme várias vezes, várias vezes. Mãos ocultas mais visíveis me vetaram na relatoria que não era uma capitania, mas o resultado de uma cultura política”.
“Nós seguiremos buscando as punições e indenizações na Justiça, no Ministério Público, no Tribunal de Contas, no Conselho Nacional de Justiça, na Comissão de Valores Judiciários, nas Cortes Internacionais e onde for necessário. As guerras não são vencidas em uma única. Batalha. Há uma enorme caverna latejando e ruindo. Aos que querem camuflá-la, alerto que a tragédia de Maceió simplesmente não acabou”.
“Se hoje os alagoanos perdem o sono, em breve os poderosos que tentam escapar da justiça perderão muito mais”.