Não chovia muito, no entanto, dias antes, houve um temporal alagando toda a nossa cidade, que encharcou o solo do morro alto, visto por todo o município. Embaixo e nas bordas do morro, casas simples e uma favela, uma espécie de vila, uma comunidade que ali se formou por anos.
De repente, nessa noite, exatamente às 21 horas, todo o morro veio abaixo e cerca de 40 casas foram soterradas em segundos. Defesa civil agiu rápido e, em pouco tempo, um grupo com 150 bombeiros trabalhou nesta noite, em busca de sobreviventes e vítimas.
Corpos foram encontrados, crianças, mulheres e idosos. 51 feridos e 20 pessoas foram resgatadas com vida no meio daquela terra preta e escura e que fedia muito, não se sabia o motivo. O desmonte do morro foi de 600 metros de terra, atingindo tudo o que exista no seu caminho, uma verdadeira catástrofe urbana.
Porém, o que aconteceu foi um deslizamento, noticia a mídia. Todos os jornais dessa cidade litorânea informam que foi uma encosta que cedeu devido às chuvas de dias atrás. A defesa civil dizia que era de um grande deslizamento de terra que estava encharcada. Um bombeiro sobe o morro com uma lanterna daquelas que ficam no capacete e começa a sentir um cheiro estranho na subida.
O bombeiro continua a subir incansavelmente. Ele para e olha para baixo e, de repente, se vê em cima de uma montanha de lixo que soterrou uma comunidade inteira. Era uma visão assustadora, onde 60 casas sumiram no meio da avalanche de lixo e chorume que escorria.
Um morador olha, aponta para o repórter, e diz: “aqui era um lixão, um aterro sanitário, as pessoas construíram ao lado e na encosta do lixão antigo”. Ninguém acreditava naquilo e o Brasil inteiro se viu diante de uma espécie de crime socioambiental gravíssimo. Deixaram as pessoas construírem na borda de um lixão desativado.
O trabalho prossegue e um bombeiro diz: “estamos vivendo um grande problema ambiental, o resgate não pode ser um trabalho manual, por causa do risco de doenças”. “Não podemos expor nossos homens. A secretaria de meio ambiente do município vai nos dar informações. Com o agravante do lixo, retraímos nossas equipes. Estamos refazendo a estratégia. Vamos entrar com máquinas. Para o operador da máquina e para os bombeiros, precisamos de equipamentos de segurança para evitar doenças graves”.
Agora, além de matar pessoas, destruir uma comunidade e poluir tudo em uma raio de 600 metros, essa água vai entrar nas galerias e vai poluir rios, mar e ruas. Tudo por negligência de gestões municipais por décadas.
Isso aconteceu no Morro do Bumba, em um bairro de Niterói/RJ, em 2010, e mostra que lixões e comunidades, bem como mercado imobiliário na sua borda, representam um risco enorme de vida e de poluição ambiental. Principalmente, se não há planejamento e celeridade nas ações dos gestores públicos.
Não é à toa que as normas ambientais como a Resolução CONAMA nº 308/2002 e a ABNT NBR 13.896/ estabelecem que a distância mínima entre os limites de um aterro sanitário e uma zona urbana deve ser de, no mínimo, 500 metros.
No caso de Maceió e de nosso lixão de Cruz das Almas, no raio de 500 metros estão a AL-101, Avenida Josefa de Melo, Vila Emater, Conjunto Luiz Pedro, Alto da Boa Vista, Coopvila, Semarh, Atacadão, Parque Shopping e outros empreendimentos, todos estão dentro do limite regulamentar dos 500 metros.
No entanto, esse agora é um assunto da Semurb (Secretaria Municipal de Urbanismo), que será a responsável não apenas pelas ações de mitigação do Lixão, mas também pelo entorno dos 500 metros, conforme cita as normas.
O caso do Morro do Bumba é uma lição a ser aprendida pelos maceioenses.