21 de maio de 2024 3:27 por Redação
Moradores do município de Craíbas, no Agreste de Alagoas, acusam a Mineração Vale Verde (MVV) de ter “mentido descaradamente durante três horas” na audiência pública realizada na semana passada na Câmara Municipal de Arapiraca. Convocada pelo presidente da Casa Legislativa, Sérgio do Sindicato, a sessão teve como objetivo discutir as operações da mineradora, cujos reflexos também são sentidos em outras cidades da região.
Participaram da audiência diretores da MVV, representantes do Ministério Público Estadual (MPAL), Defesa Civil e da comunidade. Uma das mentiras contadas pela empresa, segundo o líder comunitário e morador do entorno da Vale Verde, Tancredo Barbosa, é que as explosões para a extração de minério ocorrem a, no mínimo, 1.263 metros da casa mais próxima.
“A minha casa é próxima da área de alimentação da mineradora. São, aproximadamente, uns 200 a 300 metros. Tudo o que vocês escutaram aqui [na audiência], da mineradora, condiz com o que as pessoas estão falando”, explicou a liderança, que enviou este vídeo ao 082 Notícias para comprovar a denúncia:
Durante a sessão na Câmara de Arapiraca, Tancredo apresentou relatórios do Sistema Brasileiro de Geologia, em que destaca três pontos fundamentais.
O primeiro ponto fundamental foi que as rachaduras nos imóveis existem. “E quando se fala em rachaduras nas casas, as rachaduras que nós temos são acima de 3 milímetros, tá?”, disse ele, ao explicar que este valor já compromete a estrutura das residências.
Algumas delas, já se tornaram inabitáveis. “Tem casas que não servem mais para nada, elas não têm mais reparo e têm que ser, obrigatoriamente, demolidas. Nós temos inúmeros relatos de moradores que estão abandonando as suas casas de lá do entorno [da mineradora], principalmente, dos sítios lá de Craíbas, que é o sítio Torrões, onde eu moro”, revelou.
Em seu relato, Tancredo Barbosa diz que outros moradores, simplesmente, não deixam as casas porque se sentem, completamente, abandonados. “E foi por ação nossa, de moradores, que hoje existe um processo federal, que nós conseguimos, através do doutor Diego Alves, da Defensoria Pública da União, que tomou para si a propriedade das pessoas para que possamos ver o que é que de fato está acontecendo”.
Barulho e gases tóxicos afetam saúde da população
Além das rachaduras, Barbosa lembrou de outros problemas causados pela mineração, como o barulho, que é 24 horas, e a poeira com gases tóxicos. “A nossa comunidade, nem posto de saúde tem. As minhas duas filhas estudam na escola, uma pela manhã e uma pela tarde. A grande maioria dos dias sempre tem criança faltando, porque todos os dias tem criança que está com gripe. A orientação da escola é que não levem as crianças para a escola”.
Ele denunciou a existência de uma especulação imobiliária “predatória” na região. “Por que uma especulação imobiliária predatória? Porque, me diga, me diga, quem é que vai querer comprar uma terra ali próximo da mineradora? E vocês acham, como é que estão os valores das casas? E as pessoas querem isso aí. As pessoas abandonam as casas e não tem quem compre”, disse.
Poluição chega ao São Francisco
Além dos vídeos das explosões perto das casas, ele mostrou aos vereadores imagens da língua de água suja passando a céu aberto. “Acabei de protocolar uma solicitação para que haja um monitoramento da água do Riacho Salgado. Porque a gente precisa fazer esse monitoramento dessa água para que seja analisado”.
“Eu estou aqui conversando com o professor Emerson Soares, da Ufal, que foi que fez o primeiro estudo do rio Traipu. Esse estudo mostra um índice altíssimo de materiais pesados na região do rio Traipu. Isso foi no final de 2022. A sangria eles chamam de vértice, eles utilizam outra palavra, é o vértice, mas é a sangria da barragem da mineradora que está saindo para o Riacho Salgado que vai para o rio Traipu, que vai para o rio São Francisco”, acrescentou, ao convidar as autoridades para darem uma passada na mineradora e também na comunidade.