27 de maio de 2024 2:59 por Da Redação
Nós morávamos na Rua do Comércio, a rua principal da parte baixa da cidade que, após a destruição provocada pela enchente do rio Mundaú em 2010, não existe mais como comércio.
A Rua do Comércio, por óbvio, era onde se localizavam as melhores lojas, mercearias, padaria, bares, banco, farmácias, o Mercado Público, o Farinheiro, a Biblioteca Pública Municipal e, um pouco mais adiante, o único cinema da cidade.
Porém, era também a via por onde, obrigatoriamente, aos sábados, passava o gado conduzido por vaqueiros, para o abate no Matadouro Público da Rua da Floresta, para depois ser comercializado, aos pedaços, na feira que acontecia aos domingos.
Com antecedência de minutos, geralmente, um vaqueiro adentrava à Rua do Comércio avisando que a boiada estava chegando, mesmo assim, invariavelmente, a maioria dos comerciantes era pega de surpresa.
Sobretudo, porque entre a boiada que se deixava conduzir pacificamente (tipo o gado patriota), tinha sempre um boi “rebelde”, que causava o maior fuzuê na Rua do Comércio, invadindo lojas, botando para correr pedestres distraídos e, revolucionariamente, recusando-se a ser conduzido e abatido mansamente, como os demais bovinos.
Poxa, como eu admirava o comportamento rebelde daqueles animais, que provocavam em minha inocência juvenil um sentimento de rebeldia e liberdade, uma certeza de não aceitar docemente ou acriticamente o que me era imposto, e uma vontade de lutar até o fim por aquilo que eu acreditava ser o certo a fazer.
Pode ser até que depois de abatidos e a carne comercializada no mercado público, partes daqueles bois inconformados fossem parar no meu estômago, digeridas e depois seguissem alimentando os schistosomas do Mundaú.
Porém, o comportamento rebelde daqueles animais alimenta até hoje Minh’alma.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!????????