4 de agosto de 2024 8:49 por Geraldo de Majella
Por Geraldo de Majella
José Esdras Ferreira Gomes (1943) é jornalista e escritor nascido em Anadia-AL. Ele faz parte da geração de jornalistas profissionais que aprenderam, ainda na adolescência, com os mestres nas redações numa época em que não existia faculdade de Jornalismo.
Em sua longa trajetória, vivenciou três fases do Jornalismo: a da impressão no linotipo, a impressão em offset e, atualmente, a digital.
O Jornalismo, costuma dizer, é a sua paixão, motivo pelo qual continua em atividade como diretor da Venha Ver Editora de Comunicação.
É membro fundador da Academia Anadiense de Letras e Artes (AALA) e autor dos livros: Pequeno Dicionário de Nordestês – o linguajar matuto passado a limpo; Causos e Histórias que o Povo Conta; Podes Crer; O Cumpadre me Contou e Causos e Histórias que o Povo Conta e Eu Juro!
082 Noticias entrevistou Esdras Gomes.
082 Notícias: Esdras, você trabalhou como jornalista nos principais jornais de Alagoas. O que o levou ao jornalismo?
Esdras Gomes: Eu trabalhei na Gazeta de Alagoas, Jornal de Alagoas, Correio de Maceió, Correio Alagoano, e o último foi o semanário Desafio, também fui correspondente dos jornais Última Hora e Diário Carioca. O Desafio foi, na realidade, o meu último e o meu maior desafio.
O que me levou ao jornalismo foi a convivência com a informação ainda no tempo de colégio. Lá no velho Colégio Guido de Fontgalland, existia uma revista chamada Mocidade, que foi fundada pelo inesquecível Elio Lemos França. Nela, eu comecei a escrever minhas primeiras matérias e não parei mais, me apaixonei. O meu sonho era fazer arquitetura, mas o jornal e a profissão de repórter são as minhas grandes paixões.
082 Notícias: Em plena ditadura militar, um grupo formado por jovens jornalistas fundou o semanário Desafio. Você era um desses jornalistas. Como surgiu a ideia de editar esse semanário?
Esdras Gomes: Quanto ao Desafio, a ideia foi de um grande amigo meu, que já se foi, Dêvis Portela de Mello. Devis tinha trabalhado comigo na Gazeta de Alagoas durante muitos anos. Nós estávamos praticamente fora das redações. Eu tinha saído do Jornal de Alagoas e ele da Gazeta, fazia pouco tempo. Num belo dia, o Dêvis me chamou, fez uma reunião numa salinha que pertencia a Bernardino Souto Maior e propôs o seguinte: “Vamos fazer um jornal, vocês topam? Vamos fazer um jornal independente”. A turma ficou impressionada com a ideia. Éramos sete na reunião: o Dêvis, Eu, Bernardino Souto Maior, Juarez Ferreira, Mário Lira, Artur Gondim e o inesquecível amigo Freitas Neto.
Então, decidimos dali em diante tocar o barco e fazer o semanário Desafio. Foi assim que surgiu o jornal.
082 Notícias: O jornal sofreu algum tipo de censura?
Esdras Gomes: Apesar de termos feito esse projeto em plena ditadura, na realidade, nós não recebemos nenhuma censura dos militares. O que recebemos foram críticas e censura de um montão de puxa-saco de políticos. Eles se achavam donos da verdade e não suportavam críticas. Quando recebiam alguma crítica, nos atacavam, mas, graças a Deus, não sofremos nenhuma represália dos militares, apenas de políticos safados e puxa-saco, que vinham perguntar por que nós criticávamos A, B ou C.
Falando ainda sobre o Desafio, o nosso grande problema era a parte econômica para manter o jornal. Nenhum de nós recebia salário. Nós fazíamos o jornal por paixão, porque queríamos fazer, mas tínhamos que pagar as despesas de gráfica, aluguel de sala e outras coisas. Mas o que realmente atrapalhou o grande sucesso do Desafio foi a falta de recursos financeiros.
082 Notícias: Quem pensou no projeto gráfico do jornal?
Esdras Gomes: Recebi a missão de fazer o projeto gráfico de um tablóide. A primeira capa seria em preto e branco, sem nenhuma fotografia, com uma grande charge crítica a alguma figura, alguém do governo ou fora do governo. Fiz o projeto gráfico e tocamos o barco para frente com o nosso tablóide, que foi um sucesso.
082 Notícias: Quem foram os seus mestres no jornalismo?
Esdras Gomes: Ainda moleque, fui levado para o jornal Gazeta de Alagoas pelas mãos do Teobaldo Barbosa, que era muito amigo dos meus pais e da minha família. Um dia, Teobaldo perguntou se eu gostava de jornal, eu falei que sim, então ele disse: “Vamos para a Gazeta”.
Entrei no jornal como foca e logo fui apresentado a um cidadão chamado Rodrigues de Gouveia, meu grande mestre e amigo. Outro grande mestre e também grande amigo foi Zadir Cassela, uma criatura fantástica, a quem devo muita coisa do que aprendi. E, finalmente, Dêvis Portela de Melo, outro mestre que tive.
082 Notícias: Em que momento você saiu das redações e foi trabalhar como editor de livros?
Esdras Gomes: Bom, os projetos gráficos e a edição de livros vieram depois, nos anos 70, quando o poeta e jornalista Carlos Moliterno me levou para assessorá-lo na Imprensa Oficial. Era desejo do Moliterno modernizar o parque industrial. O governador chegou perto dele e disse: “Podem tocar o barco e contem comigo.”
A Imprensa Oficial era no Centro de Maceió, desde as primeiras décadas do século XX, em seguida passou a funcionar num prédio grande na avenida Durval de Góes Monteiro, no Tabuleiro, onde funciona até hoje. O Carlos Moliterno conseguiu recursos para adquirir uma coisa chamada Impressora Offset. Naquela época, era um bicho-papão, alguns diziam que não funcionaria. Mas funcionou. Modernizamos a Imprensa Oficial e colocamos duas máquinas. E o resto veio depois, com a mudança de governo. O Moliterno saiu, mas eu continuei na Imprensa Oficial como diretor e, depois, encerrei a minha missão no serviço público como presidente da Imprensa Oficial de Alagoas.
082 Notícias: Quantos livros você já editou?
Esdras Gomes: O meu interesse pelas artes gráficas começou quando fui trabalhar na Imprensa Oficial e procurei me aprofundar ainda mais. Sobre a quantidade de livros que editei, fiz o projeto gráfico ou ilustrei a capa, confesso, meu amigo, que não sei a quantidade exata, foram muitos projetos. Eu não me lembro da quantidade de capas. Eu procurava guardar um exemplar de cada livro, e quando arrumei a minha estante há muito tempo, tinha mais de uma centena de livros editados. Não me lembro exatamente da conta. E quantas ilustrações entre livros e revistas, eu perdi a conta, não sei quantas fiz nessas décadas.
082 Notícias: O que o motivou a escrever o Pequeno Dicionário de Nordestês?
Esdras Gomes: Recebi de um amigo um livrinho com o título de Dicionário Alagoanês. Achei interessante, mas muitos daqueles verbetes que estavam ali como se fossem exclusivos de Alagoas não eram; eu já tinha ouvido em várias localidades do Nordeste.
Eu viajei muito na época em que era correspondente de jornal e, então, percebi que não existia esse tanto de “alagoanês”. O alagoanês mesmo era o nordestês. Passei uns 5 anos pesquisando e consegui fazer o dicionário de Nordestês. Só que, ultimamente, estava observando que, além dos 10 mil verbetes publicados, existem uns dois ou três mil verbetes que passaram despercebidos, alguns amigos foram mandando.
Se tiver tempo e Deus permitir, vou fazer o segundo volume do dicionário Nordestês.
082 Notícias: Quando você vai lançar o próximo livro?
Esdras Gomes: Bom, quanto ao próximo livro, vamos ver. Eu já estou com um pronto, que já devia ter sido publicado, mas passei por uma série de transtornos pessoais, como problemas de mudança e de saúde, que me impediram de publicar. O livro que está pronto é a continuação de “Causos e Histórias que o Povo Conta”, o volume 2. O volume 3 estou terminando. Vamos ver se dá tempo; se Deus me conceder saúde, coragem e condições, estou pensando em lançar os dois volumes na próxima Bienal do Livro em Maceió.
1 Comentário
Uma bela de uma entrevista. Mas ainda diz muito pouco.
Por onde passou, Esdras Gomes distribuiu nobreza , amizade e solidariedade.
Foi mestre, amigo e irmão, carregado de humildade e inteligência.
O jornalismo e a literatura devem muito a Esdras Gomes.
A ele o meu respeito.
O j