10 de agosto de 2024 6:17 por Magno Francisco
Magno Francisco é filósofo e historiador
A política externa dos Estados Unidos, independente de se tratar de um governo republicano ou democrata, é sempre uma política imperialista. Toda vez que qualquer governante de qualquer país não se ajoelha diante dos interesses de Washington, logo, o presidente estadunidense da ocasião adota uma série de medidas para gerar uma crise política e derrubar o governo insubmisso.
Assim, para impor seus interesses, o imperialismo estadunidense, sempre, com apoio dos países imperialistas da Europa, estabelece bloqueios econômicos, forja mentiras nos meios de comunicação, classifica o governo não alinhado como ditadura e financia fantoches para fazer oposição e promove golpes políticos.
O conjunto de ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos na América Latina, durante o século XX, demonstra isso. Mas a prática persiste e o Brasil é um bom exemplo, além do Golpe Militar que se transformou numa Ditadura dos generais, com duração de 21 anos (1964-1985), é flagrante a intervenção do imperialismo estadunidense no Golpe que derrubou a presidente Dilma, em 2016.
É importante lembrar que foi durante o governo Barack Obama (Partido Democrata) que veio à tona a denúncia de Julian Assange, do site Wikileaks, apontando à espionagem da Casa Branca ao governo brasileiro. Também é necessário recordar todo apoio de Washington à Operação Lava Jato, que culminou com a prisão de Lula e facilitou a vitória do fascista Jair Bolsonaro.
O que acontece agora com a Venezuela é mais um capítulo da agressão imperialista dos Estados Unidos. Hugo Chavez e Nicolás Maduro iniciaram um processo de construção da soberania econômica da Venezuela, a partir da nacionalização de suas riquezas naturais, especialmente, o petróleo. Os Estados Unidos, interessados, principalmente, no ouro negro venezuelano, não aceitaram a ousadia do movimento bolivariano.
Desde então, a Venezuela é classificada como uma ditadura, restrições econômicas são impostas, opositores de direita são treinados e financiados pelos Estados Unidos. Apesar de tudo isso, a Casa Branca não conseguiu derrubar os governos de Chavez e Maduro, graças a mobilização popular permanente no país e a mudança realizada por Chavez na alta cúpula das Forças Armadas, aposentando todos os generais capachos dos Estados Unidos.
Insatisfeito com as seguidas derrotas, o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, intensifica as agressões contra a Venezuela. A última eleição presidencial, ocorrida em 28 de julho, consagrou uma nova vitória a Nicolás Maduro, numa eleição bastante apertada. Porém, é fato que, independente da margem de votos, diante de uma vitória de Maduro, a panaceia imperialista já estava montada para dizer que a eleição foi fraudulenta. Em outras palavras: para os Estados Unidos só um resultado pode ser aceito, a derrota de Nicolás Maduro.
A cantilena imperialista dos Estados Unidos é agitada pelos meios de comunicação da burguesia e por todos os partidos e políticos de direita e fascistas do mundo. Além desses, endossam a narrativa da Casa Branca os segmentos da esquerda contrarrevolucionária, trata-se de uma esquerda liberal (ou neoliberal), oportunista politicamente, alinhada e reprodutora da política imperialista dos Estados Unidos.
No caso do Brasil, os segmentos da esquerda contrarrevolucionária, para tentar algum tipo de legitimidade, confundir o povo e agradar a burguesia, tentam mobilizar um maniqueísmo imaginário, transformando Maduro em Bolsonaro, o que é simplesmente patético.
Ora, é evidente que há problemas econômicos e políticos na Venezuela. Aliás, onde não existem? O paraíso é uma fantasia imaginária e não deveria fazer parte das expectativas políticas de um adulto. O fato é que, infelizmente, a Venezuela não é socialista e Nicolás Maduro (assim como Chavez) não é um revolucionário, o que explica em grande medida a crise política atual.
O conjunto de mudanças sociais na Venezuela, nacionalização do sistema financeiro e das riquezas naturais, iniciados por Chavez foi muito importante, mas, teve como limitação não radicalizar o processo de consolidação do poder político e dos meios de produção, bem como o desenvolvimento das forças produtivas, sob o controle da classe trabalhadora.
Como ensinava Lênin em A revolução proletária e o renegado Kautsky, não existe democracia absoluta, de forma que não é possível levar até as últimas consequências um governo da classe trabalhadora submetido a um Estado burguês.
No cenário atual, restam poucas opções para Maduro: a) se render; b) tentar uma parcial estabilização política, sabendo que o próximo ataque do imperialismo será ainda mais violento e possivelmente um golpe armado ou uma intervenção militar; c) convocar um processo de mobilização social para consolidar um novo tipo de Estado, partindo do poder popular.
A política não é apenas a negociação do possível, como os políticos da ordem costumam dizer. Quando os oprimidos se tornam sujeitos da história, a política passa a ser precisamente a capacidade de transformar o impossível em possível (sem ignorar as condições objetivas da vida social). Assim, qual será o futuro da Venezuela? Ninguém é capaz de responder com exatidão. O que dá para afirmar é que endossar o imperialismo é assinar a escravidão dos outros povos e a própria.