15 de agosto de 2024 9:03 por Fátima de Sá
INTRODUÇÃO
Embora o oceano cubra 71% do planeta, desempenhe um papel determinante na regulação do clima e forneça recursos indispensáveis à humanidade, ele não figura de forma proeminente nos currículos escolares e nos livros didáticos. É a partir desta constatação que nasceu o conceito de cultura oceânica – acesso ao conhecimento sobre o oceano.[i] (Grifo nosso).
Assim tem início o texto sobre o tema no site da Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization[ii]). Partindo desta constatação, informam que um grupo de cientistas e professores norte-americanos fez campanha pela inclusão da ciência oceânica nos currículos escolares. Daí, a ideia é que o conhecimento adquirido servirá para conscientizar a população sobre o papel fundamental que os oceanos desempenham sobre o equilíbrio do planeta.
CULTURA OCEÂNICA PARA TODOS
Dessa forma, em 2012, a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO organizou a primeira conferência sobre o tema. E, em 2017, a COI participou de uma coligação de instituições e organizações para promover a “Cultura Oceânica para todos”, na Conferência das Nações Unidas para o Oceano. Essa Comissão organizou, no mesmo ano, uma conferência internacional. Foi, então, lançado um manual – “Cultura oceânica para todos: kit pedagógico”[iii] – que está disponível no site da Unesco, trazendo recursos para escolas, instituições e o público em geral.
O kit pedagógico da COI-UNESCO é o resultado de um trabalho conjunto e contribuições dos membros dessa parceria global. Nele, há “ferramentas, métodos e recursos inovadores para entender os complexos processos e funções do oceano a educadores e aprendizes em todo o mundo e, também, para alertá-los sobre as questões mais urgentes do oceano”.
De acordo com a proposta, “ao final da educação escolar básica”, os aprendizes deverão dominar os seguintes “Princípios essenciais da Cultura Oceânica”:
- 1. A Terra tem um Oceano global e muito diverso
- 2. O Oceano e a vida marinha têm uma forte ação na dinâmica da Terra
- 3. O Oceano exerce uma influência importante no clima
- 4. O Oceano permite que a Terra seja habitável
- 5. O Oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de ecossistemas
- 6. O Oceano e a humanidade estão fortemente interligados
- 7. Há muito por descobrir e explorar no Oceano
APLICAÇÃO
Um exemplo de aplicação dessas ferramentas, pode ser visto em uma iniciativa do Laboratório de Genética Marinha e Evolução, da Universidade Federal Fluminense que, desde 2012, vem desenvolvendo projetos que “integram alunos e pesquisadores da universidade com alunos e professores de escolas públicas”[iv].
Pazoto, Duarte e Silva, no artigo “A Cultura Oceânica nas Escolas”, lembram que, embora o movimento da cultura oceânica tenha demorado a chegar oficialmente ao Brasil, “aqui já existiam algumas iniciativas preocupadas em ampliar o conhecimento das pessoas em relação ao ambiente marinho”. E citam o Programa de Mentalidade Marítima (PROMAR), da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), criado em 1997, destacando, dentre as metas do PROMAR: resgatar a mentalidade marítima da população brasileira e a inclusão de temas ligados ao mar nos currículos escolares da educação básica brasileira. (Grifo nosso).
Em Alagoas, seguindo esse movimento, em 21 de setembro de 2023, foi publicada no Diário Oficial do Estado de Alagoas[v], a Lei No 8.974, assinada pelo governador. No Art. 1º consta: “Fica instituída a Ação de Promoção da Cultura Oceânica nas instituições públicas e na rede de ensino pública e privada no Estado de Alagoas”.
ECOPEDAGOGIA
Vejo isso como mais uma ferramenta de educação ambiental que pretende contribuir para o entendimento da “relação de causa e efeito entre o comportamento individual e coletivo e os impactos que ameaçam a saúde”, não apenas dos oceanos, mas do planeta como um todo.
Para isso, cito uma reflexão do Prof. Moacir Gadotti, na introdução do seu livro Pedagogia da terra[vi], lançado durante a celebração dos “500 anos” da invasão que consta nos livros didáticos como “descoberta do Brasil”. Recomendo fortemente a sua leitura, pois continua tão necessária quanto quando foi lançado, há 24 anos.
“E nos obrigamos, olhando para trás, a vê-la [a Terra]doente e ameaçada e temos a obrigação de vê-la mais à frente habitável, cultivada, saudável, cheia de justiça. Salvá-la significa salvar-nos a nós mesmos. Não precisamos de nenhum salvador para isso, nenhum messias. Precisamos iniciar a luta pela nossa vida com dignidade em todo o planeta. Esta é a revolução ainda não realizada que irá mudar nossas vidas, transformando o perigo em esperança. Ela começa pela tomada de consciência e se prolonga na conscientização”. (GADOTTI, 2000. p. 20).
EM CONCLUSÃO
No final do Prefácio desse livro do Prof. Gadotti, Ângela Antunes (na ocasião, Diretora técnico-pedagógica do Instituto Paulo Freire) escreveu: “Moacir Gadotti, com sensibilidade e competência, orienta-nos o olhar na perspectiva da ecopedagogia, ensinando-nos, entre outros saberes, que, da janela do quintal, podemos ver o mundo” (p. 13).
Copiando o pensamento da professora, digo que da praia, por onde caminhamos ou mergulhamos, podemos ver os oceanos. Comecemos a usar esse olhar. Pois, os oceanos mantêm-se em equilíbrio dinâmico, mas o Homo sapiens tem sido muito veloz em sua destruição e ganância. Portanto, faz-se urgente a ação em todas as frentes. Mãos à obra!
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[i] Cultura oceânica para todos | UNESCO. Disponível em: https://www.unesco.org/pt/articles/cultura-oceanica-para-todos). Acesso em: 14 ago. 2024.
[ii] Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
[iii] Disponível em: unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000373449/PDF/373449por.pdf.multi. Acesso em: 14 ago. 2024.
[iv]PAZOTO, C. E., DUARTE, M. R., SILVA, E. P. A Cultura Oceânica nas Escolas. Rev. Ciência Elem., V9(02):045.Disponível em: rce.casadasciencias.org/rceapp/pdf/2021/045/. Acesso em: 14 ago. 2024.
[v] Disponível em: Lei Ordinária 8974 2023 de Alagoas AL (leisestaduais.com.br). Acesso em: 14 ago. 2024.
[vi] GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. 3 ed. São Paulo: Peirópolis, 2000.