24 de agosto de 2024 10:48 por Magno Francisco
O neoliberalismo, atual estágio do capitalismo, é, porque separar economia e política significa falsificar a realidade social, mais que um conjunto de marcadores que determinam uma maneira de produzir. O neoliberalismo é um modo de vida caracterizado pela administração de crises em todas as esferas, ou melhor, o neoliberalismo é um conjunto de crises como modo de vida.
Não precisa ir muito longe intelectualmente para perceber que não há qualquer possibilidade, dado o caráter constitutivo do neoliberalismo, de, sem uma ruptura radical com o atual sistema econômico, evitar a radicalização do processo degenerativo da vida humana.
A burguesia, desde o fim da URSS e, por consequência, com menos resistência política, consolidou o seu domínio atualizando de forma muito dinâmica os seus aparelhos ideológicos. Esse processo adquiriu tamanha dimensão que contaminou os setores hegemônicos da esquerda contemporânea.
Predominantemente os partidos de esquerda e movimentos sociais demonstram total incapacidade de desenvolver qualquer tipo de contestação ao neoliberalismo. Na realidade, tornaram-se esquerdas adaptadas ao neoliberalismo, contrarrevolucionárias no sentido mais radical do termo, ou seja, que não apenas defendem o atual sistema social como atacam qualquer tipo de iniciativa disruptiva.
Para essas esquerdas, que mistificam a realidade se apresentando como melhores gestores do capitalismo neoliberal, que cinicamente propagandeiam a mentira de que é possível humanizar o neoliberalismo, a política resume-se a arte do possível, sendo que o possível, no modo de viver neoliberal, é o aprofundamento da catástrofe social, é a brutalização da vida, um estado de guerra onde a lógica é que em nome de uma falsa liberdade apenas alguns se salvem.
A maioria dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais perderam a capacidade imaginativa de criar o futuro. Criar o futuro e exigir o que parece impossível nunca foi esquecer o presente e as condições objetivas da realidade, pelo contrário, sempre foi e é precisamente para modificar o presente que as possibilidades de futuro podem ser desenvolvidas. Quando se abandona o futuro a vida perde sentido.
O fascismo, em que pese o seu perfil suicidário, o seu gozo na imolação social, agarrou a ideia de um futuro distinto, mesmo que apenas discursivamente. Não é por acaso que cresce a sua força social, para delírio da burguesia mais cretina. A realidade é que a esquerda neoliberal pavimenta o caminho do fascismo.
Todas as conquistas dos explorados e oprimidos antes de se tornarem realidade não passavam de utopias e impossibilidades. A condição para que o que era impossível fosse possível sempre foi a perspectiva revolucionária do futuro.
Hoje, o sujeito da barbárie, a burguesia, sofre pouca resistência, é preciso que o sujeito da vida, a classe trabalhadora e os oprimidos passem a combater. A guerra talvez seja longa, mas a batalha do dia é retomar a perspectiva revolucionária do futuro e voltar a exigir o impossível e isso pressupõe jogar na lata do lixo da história a esquerda neoliberal.