quinta-feira 21 de novembro de 2024

Ponto Central: o café dos intelectuais

Poucos dias após a inauguração, uma nota publicada na imprensa o denominou o “Bar chic da cidade”

25 de agosto de 2024 7:21 por Geraldo de Majella

Rua do Comércio nos anos 20, com o prédio do futuro Café Central ao fundo.

 

Por Geraldo de Majella* 

Inaugurado no dia 25 de abril de 1931, o Café Ponto Central foi o ponto de encontro mais conhecido da literatura alagoana no século XX. Manoel Cupertino da Silva, servidor dos Correios de Maceió, teve a ideia de instalar, no cruzamento da Rua do Comércio com a Rua do Livramento, um ponto comercial que marcou a história da cidade.

O espaço físico, pequeno, acomodava apenas seis mesas de madeira com tampo de mármore e quatro cadeiras em cada mesa. A maneira gentil com que tratava a clientela, a elegância com que se vestia e a dedicação ao negócio eram marcas registradas de Cupertino. A revista Novidade noticiou a ampliação do horário de funcionamento:

O Sr. Manoel Cupertino, proprietário do Ponto Central, nos comunica que o seu bar se encontra aberto desde 6 horas da manhã, diariamente, podendo assim servir aos seus habitués mais madrugadores.[1]

Cupertino, alguns anos antes, havia montado no mesmo local a Farmácia Apolo, mas, por ser funcionário público e para evitar complicações com o fisco, registrou o novo negócio, o Café Ponto Central, com a razão social J. Cupertino, nome de sua mãe, Josina Cupertino.[2]

Poucos dias após a inauguração, uma nota publicada na imprensa o denominou o “Bar chic da cidade”. Mas não ficou apenas nesse elogio:

O Ponto Central era, finalmente, a ilustração de que precisava a pracinha do Relógio Oficial, que constituía para Maceió o que devia ser a Galeria Cruzeiro para o Rio de Janeiro e a esquina da Lafayette para Recife.[3]

O dublê de funcionário público e comerciante jamais poderia imaginar que no seu café, ao final da tarde, intelectuais que se tornariam nomes consagrados na literatura nacional e internacional se reuniriam para conversar sobre amenidades e assuntos relativos à literatura e à política.

Manoel Cupertino. Reprodução.

O Café do Cupertino, como também ficou conhecido, estava situado no melhor e mais movimentado local da cidade, em frente ao Relógio Oficial, na principal parada de bondes, e com uma vizinhança constituída por lojas de produtos importados, como quase tudo comercializado naquela época. Em frente, na Rua do Comércio, estava a Chapelaria Lisboa e os bares do Alemão, Colombo e o Elegante, e, na Rua do Livramento, A Helvética. Esses bares serviam lanches, sucos de frutas, doces, bolos e sorvetes.

A postura elegante, o profissionalismo e a discrição em não se imiscuir nos assuntos debatidos pelos clientes tornaram Cupertino amigo dos intelectuais e de muitos outros clientes. O ponto de encontro dos intelectuais de Maceió na década de 1930 e nas seguintes foi o Café do Cupertino ou Ponto Central.

Rachel de Queiroz. Foto: IMS.
José Lins do Rêgo. Reprodução
Graciliano Ramos. Reprodução.

A presença dos intelectuais no Café, final da tarde e início da noite, na Maceió das primeiras décadas do século XX, era de chamar a atenção pelo significado das suas produções iniciais, é o caso do professor Aurélio Buarque de Holanda, a romancista Raquel de Queiroz, o poeta José Auto, o romancista José Lins do Rego, o artista plástico e desenhista Tomás Santa Rosa, o poeta Carlos Paurílio, os jornalistas Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcante, o escritor Manoel Diegues Júnior, o poeta Aloysio Branco, o médico e poeta Jorge de Lima e o escritor Graciliano Ramos, o mais velho da turma e o centro das atenções dos jovens intelectuais.

1-NOVIDADE, nº 14, p. 4, edição de 11/7/1931, revista dirigida pelos jornalistas Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti, frequentadores do café, fundada, em 15 de abril de 1931, dez dias antes do Café Ponto Central.
2-SANTA’ANA, Moacir Medeiros de. Graciliano Ramos: vida e Obra, Maceió, Secretaria de Comunicação social – Secom, 1992, p. 48.
3-Idem, p. 49.

(*) É historiador e jornalista  

Café Ponto Central na década de 1950. Reprodução.

 

 

 

 

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