Moradores dos Flexais, em Maceió, estão assustados com o surgimento de uma cratera na região e o aumento do volume da água, que brota do chão e chega a invadir algumas casas. Apesar da situação caótica, as comunidades estão fora do mapa de risco desenhado pela Braskem, responsável pelo afundamento do solo naquela área após décadas de mineração de sal-gema, que se caracteriza como a maior tragédia socioambiental em área urbana do mundo.
Isolados socialmente e economicamente, eles agora vivem angustiados, alguns, com medo de morrer. “Você está sabendo o que vai afundar aqui? Está sabendo que a linha do trem… todo mundo está com medo aqui. Está sabendo que vai essa rua toda, inteira, na sua casa, todo canto. Está abrindo buraco, minha filha. Está vendo isso?”, disse uma moradora em áudio a que o 082 Notícias teve acesso.
A cratera a que ela se refere fica em frente à Colônia de Pescadores. É onde, segundo o morador Romualdo Oliveira, a Braskem já havia feito uma obra de “maquiagem” e precisou, novamente, cobrir com um tapume.
“A prefeitura acabou-se, o prefeito morreu ontem”
Outro morador conta que o vizinho teve que quebrar o piso, instalar um cano de 50mm para drenar a água até uma caixa improvisada, de onde o líquido cai em direção ao rio que corre nas proximidades. “E ali é alto, é no pé da barreira da Boa Vista. Fica no pé da escadaria, bem dizer, e nunca aconteceu isso. Por que está acontecendo agora? Porque debaixo está só água e não tem para onde escorrer. O rio está entupido de lixo, a draga não abre mais, a prefeitura acabou-se, o prefeito morreu ontem”, lamentou.
Ele também demonstra medo com o que pode acontecer. “É tocar no barco e orar, pedir a Deus para que nada venha a acontecer com a gente, porque a gente não sabe nem o dia, nem a hora que isso aí pode acontecer. Pode ser à noite, de manhã, à tarde, ao meio-dia, ninguém sabe o horário e nem a hora”, completou.
Mina 27 pode ter relação com ocorrências
Os moradores também acreditam que a situação dos Flexais pode ser um reflexo do que ocorre na mina 27. Na segunda-feira, 21, a Braskem emitiu uma nota para comunicar a existência de um desnível superficial no solo em um ponto do canteiro de operações de preenchimento.
“Para realizar avaliações técnicas, as operações no entorno da unidade de enchimento da cavidade 27 foram suspensas preventivamente. As autoridades foram devidamente comunicadas, e as demais ações previstas no Plano de Fechamento de Mina seguem em andamento. O sistema de monitoramento permanece sendo acompanhado normalmente, de forma ininterrupta, e não há registro de atividades microssísmicas atípicas na região, neste momento”, destacou a mineradora.
Segurança de moradores é negligenciada
Um absurdo e uma negligência com a segurança dos moradores, disse o servidor público Maurício Sarmento, sobre a situação de medo vivida nos Flexais. “Enquanto a Braskem suspende os trabalhos na mina 27 para proteger seus trabalhadores, as autoridades continuam ignorando o risco à vida dos moradores que ainda estão na área”, questionou.
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Na casa de Romualdo Oliveira, em uma vila na região do brejo, a água já está tomando conta. “A água está subindo na parede do quarto. O quarto está todo inundado d’água. Quer dizer o quê? Quer dizer que onde a gente mora, por debaixo, está cheio d’água. Primeiro, a draga não passa mais, né? Segundo, a prefeitura acabou-se. Então, o povo que se ferre, né? Antigamente, não fazia nada disso, né? E hoje em dia está complicado”, disse ele, ao relatar a resistência de alguns moradores de deixarem as suas casas. “Se a população não despertar, vai ser que nem Brumadinho, só Jesus!”, alertou.
