*Por Dilson Ferreira*
1. A Verticalização e a Exclusão Social
O modelo urbanístico adotado em Maceió, tanto na expansão horizontal quanto vertical, tem se mostrado excludente e prejudicial ao meio ambiente. Embora a verticalização não seja o problema por si só — já que, em várias cidades ao redor do mundo, ela é uma solução para criar cidades mais compactas, com mobilidade urbana mais rápida e eficiente —, o desafio está na forma como essa verticalização tem sido conduzida. Em Maceió, ela não atende aos princípios de inclusão social e sustentabilidade.
2. A Expansão Horizontal e o Impacto Ambiental
A expansão horizontal no litoral norte, por exemplo, tem causado impactos devastadores em áreas ambientalmente protegidas, como topos de morro, vales, mangues e grotas. Essa ocupação descontrolada ocorreu sem qualquer consideração pelas consequências socioambientais. O resultado é uma degradação contínua de áreas sensíveis, o que destaca a ausência de um planejamento responsável.
3. Gentrificação nos Bairros Nobres
A gentrificação em Maceió não se limita aos bairros mais simples. Ela também afeta bairros nobres como Ponta Verde e Jatiúca, onde os moradores locais são constantemente pressionados a venderem seus imóveis devido à especulação imobiliária. A presença de grandes empreendimentos de luxo nestas áreas tem causado o aumento do custo de vida, a exclusão dos moradores tradicionais e a descaracterização dos bairros. É comum que moradores dessas áreas nobres sejam incomodados por pressões frequentes até que aceitem vender suas propriedades.
4. A Urbanização da Orla e a Descaracterização Cultural
A urbanização da orla segue um estilo que descaracteriza as tradições locais. As contenções de concreto e a substituição das restingas naturais por grama e palmeiras estão afastando a cidade de sua identidade costeira, simbolizada pelas jangadas, canoas e vendas de peixe. O que se vê é uma cidade cada vez mais voltada para o turismo e interesses privados, enquanto o meio ambiente e a identidade cultural local são deixados de lado.
5. Mobilidade Urbana: Falta de Planejamento e Inovações
Além disso, Maceió enfrenta desafios profundos em termos de mobilidade urbana. A cidade não possui um plano de mobilidade eficiente, e as ações adotadas, como recapear ruas e criar novas vias, são medidas básicas de manutenção, não inovações urbanas. Manter a infraestrutura pública em bom estado é uma obrigação do poder municipal, e não deve ser tratado como algo extraordinário ou inovador. Ainda assim, o município não tem avançado em soluções inclusivas e sustentáveis para enfrentar seus crescentes problemas de mobilidade.
Conclusão:
O desenvolvimento de Maceió, da forma como tem sido conduzido, evidencia a falta de políticas urbanísticas voltadas para a inclusão social e a preservação ambiental. A cidade está crescendo de forma desordenada, e a especulação imobiliária está tornando o espaço urbano inacessível para a maior parte da população. É fundamental que os gestores municipais e os urbanistas repensem suas abordagens e implementem medidas que beneficiem todos os cidadãos, respeitando as características ambientais e culturais que tornam Maceió única.
*É arquiteto, urbanista e professor da Ufal