sexta-feira 22 de novembro de 2024

A parceria com a China é mais do que a rota da Seda, por Luís Nassif

O próprio modelo de desenvolvimento da China - e o modelo precursor de desenvolvimento do Brasil dos anos 50 - ensina o caminho.
Foto: Ricardo Stuckert – PR

Por Luis Nassif, do Jornal GGN

A superficialidade da cobertura midiática transformou o Ministro Celso Amorim em adversário da Rota da Seda. Sua posição é de racionalidade. Há duas formas de integração, a comercial e a industrial. A Rota da Seda ambiciona aproximar a China dos mercados afastados, como América do Sul. Uma integração comercial com a China, sem maiores cuidados, significará o fim da industrialização brasileira. Por isso mesmo, as relações Brasil-China têm que se situar em um patamar muito mais elevado.

O próprio modelo de desenvolvimento da China – e o modelo precursor de desenvolvimento do Brasil dos anos 50 – ensina o caminho.

O Brasil é muito mais relevante para a China do que a China para o Brasil – apesar de ter se tornado o maior parceiro comercial do país. Mas é uma relação comercial desbalanceada, na qual o Brasil exporta commodities e compra produtos industrializados. Além disso, o Brasil é peça chave nas disputas geopolíticas da China, como grande liderança do Sul Global.

  1. Transferência de tecnologia.
  2. Espaço para o capital privado nacional, seja como acionista de filiais de empresas chinesas, seja como fornecedores.
  3. Criar cotas de preferência para exportações das filiais chinesas no país.
  4. Parcerias em novas áreas relevantes, como telecomunicações e lançamento de satélites.

Reduzir todas essas possibilidades a um mero acordo em torno da Rota da Seda é subestimar o potencial da parceria chinesa.

No início dos anos 2.000, a Embraer fechou um acordo com a China. Pelo acordo deveria transferir tecnologia para uma empresa chinesa. Em troca, teria acesso por alguns anos ao mercado interno da China. Foi esse mesmo pragmatismo que permitiu à China, depois de ter se transformado no chão de fábrica do capitalismo mundial, tornar-se uma gigante industrial.

Obviamente, acordos desse porte não podem ficar restritos a conversas de gabinete. O governo deveria convocar a Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, os quadros do CGEE, as instituições empresariais para um amplo balanço das contrapartidas a serem propostas à China.

Junto com a Neo Industrialização, com os programas de transição energética, aos poucos vai se constituindo o quadro para o grande salto brasileiro para a próxima etapa da economia, depois de termos perdido a etapa da digitalização.

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