10 de novembro de 2024 9:12 por Da Redação
Por Flávia Lima*
Nos dias 12 e 13 de novembro, às 20h, o Espaço Armazém, no histórico bairro de Jaraguá, em Maceió, será palco da estreia do espetáculo Severinos: Morte e Vida. Sob a direção de Waneska Pimentel, essa adaptação de Morte e Vida Severina, obra-prima de João Cabral de Melo Neto, é uma releitura que não só celebra o legado do poeta, mas também conecta o público à realidade de Alagoas. A entrada é gratuita, e os ingressos podem ser reservados pelo site Sympla (https://www.sympla.com.br/evento/severinos-morte-e-vida/2721320), a partir do sábado, 9 de novembro, às 12h.
O espetáculo marca o encerramento do Módulo III do curso de teatro da Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), e conta com a parceria do Grupo Teatral Joana Gajuru, que traz uma forte identidade local à narrativa. A adaptação acompanha a trajetória do “Severino” contemporâneo, oferecendo uma visão crítica e atualizada das questões de desigualdade, luta e resistência que ainda persistem no Nordeste brasileiro.
Para Waneska, a escolha de adaptar a obra para o contexto de Alagoas trouxe à tona questões locais que ainda refletem a dura realidade enfrentada por muitos nordestinos. “O espetáculo dialoga com o que vivemos, ainda que distante no tempo. A miséria, a fome, as humilhações são constantes e reiterantes”, explica a diretora, destacando a relevância do texto para o público contemporâneo.
A produção do espetáculo conta com uma direção de arte assinada por Alex Cerqueira, que se destaca pela integração de elementos culturais de Alagoas ao design de figurinos e cenários, trazendo uma combinação de referências visuais que remetem tanto à tradição quanto à contemporaneidade. A trilha sonora, sob a direção do professor Rodrigo Cardoso, da Atto Academia de Arte e da Escola de Música Villa Lobos, mistura as raízes da música nordestina com toques modernos, enriquecendo a experiência sensorial e emocional do espetáculo.
Para Waneska Pimentel, a montagem é um convite à reflexão sobre os “Severinos” de hoje e uma homenagem às raízes e à identidade nordestina.
Confira o bate-papo que tivemos com ela e conheça mais sobre o espetáculo:
082- O que lhe motivou a escolher Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto como base para o espetáculo Severinos: Morte e Vida? Qual é a relevância dessa obra para os dias de hoje, especialmente para o público de Alagoas?
WP- O espetáculo é inspirado na obra de João Cabral de Melo Neto e dialoga com o contexto em que vivemos. Embora seja uma obra de outra época, ela reflete problemas que continuam acontecendo, como a miséria, a fome, as humilhações e as dificuldades que os “Severinos” enfrentam ao migrarem para outras cidades ou mesmo em seus locais de origem. A importância está, primeiro, na obra de João Cabral, fundamental para a literatura brasileira, e, segundo, na pertinência de mostrar esse universo que persiste.
082- Como foi o processo de adaptação da obra para o contexto atual de Alagoas? Quais aspectos específicos da realidade local foram incorporados à narrativa?
WP- Fizemos uma adaptação dramatúrgica da obra, reescrevendo-a com referências de Alagoas. Citamos localidades específicas, alterando o percurso clássico da obra, que passa por Pernambuco, para um trajeto dentro das regiões alagoanas. Incorporamos nossos símbolos e elementos de identidade, destacando nossa localidade na narrativa.
082- Como essa parceria entre o Joana Gajuru e a ETA influenciou a produção e a montagem de Severinos: Morte e Vida?
WP- O grupo Joana Gajuru tem uma residência artística na Escola Técnica de Artes, o que foi essencial para essa colaboração. Essa parceria era algo que queríamos há muito tempo, principalmente por envolver ex-alunos da ETA que mantêm um vínculo forte com a escola. Essa conexão com os novos atores e com a principal instituição de ensino de arte da região, a ETA, foi fundamental para a produção do espetáculo.
082- A trilha sonora, dirigida pelo professor Rodrigo Cardoso, mistura raízes da música nordestina com influências contemporâneas. Como essa trilha sonora contribui para a experiência e para a imersão do público na peça?
WP- A trilha sonora do professor Rodrigo Cardoso é um dos pilares do espetáculo. Ela é essencial para manter a estrutura da peça, influenciando a composição das cenas e a imersão do público. A trilha dialoga com a narrativa e contribui para destacar a contemporaneidade do espetáculo, ajudando a conectar o público ao contexto atual.
082- O espetáculo trata de temas como desigualdade e luta, que são questões muito atuais. Quais reações e reflexões você espera despertar no público ao trazer esses temas para o palco?
WP- Esperamos que o público se identifique e reflita sobre essa realidade de miséria e humilhação, aspectos que ainda são presentes para aqueles que migram em busca de uma vida melhor. Queremos mostrar essa realidade de forma aberta, sem esconder os desafios enfrentados, e provocar uma reflexão sobre esses problemas que, infelizmente, ainda persistem.
082- Como diretora, qual foi o maior desafio ao transformar Morte e Vida Severina em uma obra que ao mesmo tempo resgata e renova o discurso sobre identidade, resistência e pertencimento?
WP- Foi um grande desafio, pois envolve uma dramaturgia complexa que exige cuidado. Transformar Morte e Vida Severina em uma obra que resgate e renove temas de identidade, resistência e pertencimento requer um pensamento que vá além do convencional. Foi preciso integrar e harmonizar todos os elementos – música, dramaturgia, interpretação e direção de arte – para criar uma unidade coesa. O desafio foi garantir que todos esses aspectos dialogassem entre si, formando uma narrativa consistente e poderosa em cena.
Serviço:
• Espetáculo: “Severinos: Morte e Vida”
• Datas: 12 e 13 de novembro
• Horário: 20h
• Local: Espaço Armazém, R. Sá e Albuquerque, 367 – Jaraguá, Maceió – AL
• Entrada: Gratuita (ingressos disponíveis no Sympla no sábado, 9 de novembro, a partir de 12h – https://www.sympla.com.br/evento/severinos-morte-e-vida/2721320)
*Flávia Lima é colaboradora do site 082 Notícias