6 de janeiro de 2025 9:24 por Da Redação
Por Geraldo de Majella*
A cidade de Boca da Mata (AL) tem uma população de 27.356 habitantes (IBGE-2020) e está localizada a 80 km de Maceió. A economia local é predominantemente voltada para a monocultura da cana-de-açúcar, embora também haja atividades pecuárias e uma pequena área dedicada à agricultura familiar. Além disso, a cidade é rica em belezas naturais, como a Serra de Santa Rita, o balneário Águas de São Bento, a Bica do Arlindo e as bicas Baixa Grande e Quebra Carro, estas últimas situadas em uma Área de Proteção Ambiental (APA).
O empresário Jorge Tenório, entre outros méritos, é reconhecido por ter sido o mecenas do escultor Manoel Cavalcanti de Almeida, conhecido como Manoel da Marinheira. Tenório iniciou sua coleção de obras do escultor ainda na década de 1960, em Boca da Mata.
Hoje, essa coleção conta com mais de 1.540 peças, das quais mais de 800 foram produzidas por Manoel da Marinheira, e o restante é composto por obras de seus seguidores e discípulos, incluindo seus filhos e filhas, entre eles três filhas surdas-mudas.
O Museu Manoel da Marinheira, fundado em 2003, está localizado na fazenda Bento Moreira, em Boca da Mata, nas instalações improvisadas de um antigo grupo escolar desativado. As obras estão expostas em dez salas, e a coleção é extraordinariamente bela e vasta.
Manoel da Marinheira foi pai de vinte filhos, sendo dez do primeiro casamento e dez do segundo. Cinco deles seguiram o pai no trabalho com a madeira, demonstrando talento para a arte. O nome “Marinheira” foi dado a Manoel ao nascer. Seu pai, um marinheiro mercante, chegou a Boca da Mata vindo da Alemanha, onde logo se apaixonou e se casou. A esposa passou a ser conhecida como “Marinheira”, e quando o primogênito nasceu, recebeu o nome de Manoel da Marinheira em referência ao ofício do pai.
Tendo vivido até os 95 anos, o artista começou sua vida trabalhando ainda adolescente como agricultor e, como muitos que trabalham na agricultura, enfrentou uma vida repleta de dificuldades. Aos 80 anos, foi diagnosticado com glaucoma, uma doença que o impediu de continuar seu trabalho. Com o tempo, perdeu completamente a visão.
Manoel da Marinheira, junto com seus filhos Severino e Antônio, é uma verdadeira joia rara. Seu trabalho foi inicialmente descoberto e divulgado para Alagoas pelo fotógrafo e cineasta Celso Brandão e pelo artista plástico Fernando Lopes, que, na década de 1970, o conheceram e o apresentaram aos artistas e intelectuais de Maceió. A “boca a boca” e as matérias em jornais ajudaram a tirar Manoel da Marinheira e sua obra do quase anonimato. Suas peças hoje estão espalhadas por vários países em diferentes continentes, especialmente nos Estados Unidos e na Europa.
Recomendo a todos os interessados em arte a conhecer o conjunto da obra produzida por esse escultor fenomenal e seus descendentes. A riqueza e a expressividade de seu trabalho são verdadeiramente impressionantes e certamente deixarão uma marca duradoura em quem tiver o privilégio de vivenciá-las.
*É historiador e jornalista
