domingo 16 de março de 2025

Apagão de professores escancara crise na educação pública

Segundo o Censo da Educação Superior de 2022, 58% dos alunos de licenciatura, destinados à formação docente, abandonaram a universidade antes de receber o diploma
Foto: Agência Alagoas

Por Samantha Maia e Juliana Pithon, do Iree

O Brasil enfrenta a maior taxa de desistência de professores da década, com o risco de, em apenas 15 anos, não ter profissionais suficientes para lecionar na educação básica, de acordo com o Ministério da Educação e o Inep.

Segundo o Censo da Educação Superior de 2022, 58% dos alunos de licenciatura, destinados à formação docente, abandonaram a universidade antes de receber o diploma.

Outro levantamento importante, do Instituto Semesp, indica que, em 2040, faltarão 235 mil docentes nas escolas do país. Segundo a pesquisa, 8 em cada 10 professores da educação básica já pensaram em desistir da carreira. Em relação ao futuro profissional, 67,6% se sentem inseguros, desanimados e frustrados.

O apagão de professores é consequência de uma série de problemas da educação pública, entre eles a baixa remuneração dos docentes, carga horária excessiva, precariedade das escolas e violência no ambiente de trabalho. Diante desses graves problemas, as medidas do recém-lançado “Mais professores” buscam aumentar o interesse pela carreira docente:

– Prova Nacional Docente para seleção de novos professores
– Pé-de-meia Licenciaturas com bolsas de R$ 1.050 para estudantes em cursos presenciais
– Bolsa Mais Professores com auxílio de R$ 2.100 para docentes em áreas carentes
– Ações de valorização e qualificação

Baixa remuneração e carga horária excessiva

Em 2024, o MEC reajustou o piso salarial dos professores da educação básica em 3,62%, fixando em R$ 4.580,57 para 40 horas semanais. Levantamento do Todos pela Educação aponta que os professores de escolas públicas ganham menos do que a média das demais profissões com ensino superior no Brasil. Segundo relatório da Education at a Glance, de 2024, o salário inicial dos docentes brasileiros é 47% inferior à média dos países da OCDE.

Os professores das redes municipais e estaduais do Brasil trabalham até 60 horas semanais, segundo o estudo “Volume de trabalho dos professores dos anos finais do ensino fundamental”, realizado pelo Itaú Social, Associação D3e e Fundação Carlos Chagas. O relatório destaca que professores brasileiros que trabalham durante mais de 50 horas semanais tendem a faltar no trabalho por causa de problemas de saúde.

Pesquisa da Unifesp analisou 397 professores de escolas públicas e privadas no Brasil e revelou que 32,75% docentes apresentaram sinais de burnout, o que equivale a um em cada três. Síndrome de burnout, estresse e depressão são as principais causas de afastamento dos profissionais da sala de aula, superando distúrbios vocais e osteomusculares.

Precariedade e violência nas escolas

Cerca de 25% das escolas públicas de ensino médio no Brasil estão com infraestrutura precária, segundo o Ministério da Educação. Fiscalização de tribunais de Contas, em 2023, constatou que 57% das salas de aulas visitadas no país são inadequadas como local de estudo.

Problemas detectados: janelas, ventiladores e móveis quebrados; iluminação e ventilação insuficientes; infiltrações e paredes mofadas, falhas na limpeza e higienização e falta de coleta de esgoto e de lixo.

Em 2023, 8 em 10 educadores sofreram agressão no ambiente escolar, um aumento de 20% em relação a 2022, de acordo com Pesquisa da Nova Escola e do Instituto Ame Sua Mente. A violência verbal foi a mais frequente (76,1%), seguida da psicológica e moral (41,5%); 6 em cada 10 professores temem pela própria integridade física.

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24 Comentários

  • Tanto nas classes mais baixas quanto nas mais altas, as pessoas decidiram que o conteúdo escolar é “inútil” e que o caminho é ser “empreendedor”. Até mesmo indivíduos egressos das melhores universidades do país, a fim de se mostrarem “descolados”, desdenham de toda a instrução formal que receberam.

    Nesse contexto, não há porque investir em escolas, universidades etc., o país já se conformou em ser um grande fazendão, repleto de “empreendedores”.

  • Com certeza as pessoas não querem fazer essa graduação, pois o próprio governo deixa claro a desvalorização, a falta de respeito com os educadores. Pega o estado de São Paulo, olha que vergonha, redução vagas para terceirizar o serviço, com essa redução, muitos professores que trabalha há 15 anos no estado, ficaram sem aula, pessoas que são formadas a pouco tempo também, ficaram sem emprego e aí?
    O que essa pessoa vai fazer para se sustentar?
    Infelizmente é uma profissão muito injusta.

  • Quem danado quer sofrer numa profissão horrosa dessa?! Não se tem uma única vantagem em ser professor nesse pais! A que tinha, aposentadoria um pouco menos precoce que as demais,o Bozo acabou!

  • Gostaria que quem pública essas matérias sobre apagão de professores no Brasil explicasse a contradição a respeito dessas materias com o que é visível no que ocorre em muitos estados do país, eu por exemplo sou formado em Física no Pará a dez anos com pós graduação e um excelente índice de rendimento acadêmico (98%), tenho amplo domínio em minha disciplina, assim como em matemática, estatística, cálculo diferencial e integral, domino a ferramenta modelagem matemática para a aplicação de uma forma diferenciada de ensino, mas mesmo assim apesar de estar diariamente tentando uma vaga em qualquer instituição de ensino até hoje minhas únicas experiências em sala de aula foram em três anos de PIBID. Aqui no Pará por exemplo, assim como em outras unidades da federação, o que credência professores para o magistério é processo seletivo (que são bastante questionáveis a lisura), a lista que se forma de professores em todas as disciplinas é enorme, todos em busca de oportunidade para lecionar aínda que de forma precária , portanto que apagão é esse mencionado nessas reportagens? Todos os dias eu e milhares de outros professores que estamos preparados, precisando e indignados não entendemos o objetivo dessas reportagens, pois a mão de obra está bem aqui, tão perto, é só esticar o braço e nos trazer para dentro da sala de aula.

    • Sou professor de História formado a uns 15 anos mas trabalho a 19 em outra área. Tenho pós apenas. Em 2021 passei no concurso público do Estado. Estou empregado. No dia da posse havia um colega doutor em química que já dava aulas a anos no ensino superior mas era bacharel em química industrial, recém formado num curso R2 para poder lecionar. Eu se fosse vc ampliava essa área onde está procurando emprego.

    • Infelizmente estão aplicando as verbas em direção inadequada! Mandam livros, mas não o suficiente! Ficam guardados! Cursos que já fizemos e não podemos aplicar, por causa da infraestrutura inadequada! Concursados novos que já chegam com metade da gratificação que passamos anos, com paralisações , greves e desrespeito para conseguirmos! Qual motivação? Mais de uma escola, muitos de ônibus, alimentando-se mal e rapidinho nos pequenos intervalos! Como você falou, temos muitos professores com excelente currículo, BASTA CONVOCAR, aumentar a lista de convocados!!!

    • Companheiro no seu caso o problema é o estado do Pará. Isso como vc sou paraense e licenciado. Só que no caso sou concursado em Blumenau SC devido as oportunidades.

  • O que se pode esperar de um país que humilha seus educadores é um futuro comprometido, ou a falta dele.

  • Não existe apagão de professores, existe apagão de vagas, concursos e salários descentes. Aqui em São Paulo estado todo tem um.monte de professor querendo vaga em atribuições e não existe vagas+!!!

  • Também com processo de concurso realizado pela Vunesp onde pode-se verificar diversas liminares judiciais, com obrigação de vídeo aula, uma vez que o professor vai trabalhar presencial e não consta na grade curricular de licenciatura de professores formados com mais de cinco anos e fraudes nas atribuições, fica complicado ser professor, vi professores que fizeram cirurgia e afastamento médico, não puderam comparecer na atribuição e não teve espaço para apresentar os atestados que por lei abonasse o dia não ter atribuído aula, enquanto professora que estava viajando em um cruzeiro, não compareceu a entrevista e por ter conhecido na Diretoria de ensino garantiu a atribuição, um professor tentou suicídio por não atribuir aula.

  • Sou professor umas das coisas que incomodam fora o que foi citado é o excesso de burocracia que não levam a Nada. Temos que levar trabalho para Casa devido a esse excesso. Cada político que entra só complicada a situação com modismos desnecessários e que não resolva nada e sim inferniza a vida do professor.

  • A culpa desta realidade são os governantes que não valorizam a educação. Olha o salário dos professores uma vergonha….

  • Darcy Ribeiro escreveu que: ” A crise da educação brasileira, não é crise é um projeto” e Florestan Fernandes vai pelo mesmo caminho: ” A história da educação brasileira é uma história de fracassos programados “.

    É necessário que os que frequentam a escola pública não seja dados a eles o direito e a capacidade de pensar, raciocinar, discernir, fica mais fácil de governar. É um protocolo seguido desde o Brasil colônia até nossos dias. Contribui para os que detém todos os poderes mas mãos continuem com o privilégio de se apossar do bolo por inteiro deichando as migalhas ao povo, aos que de fato construíram o bolo a ser repartido.

  • A falta de professor é culpa das governantes que libera as universidades pras
    pessoas se formar e não fiscalizar porque aqui no Maranhão tem um monte de alunos que já terminaram os estudos mais estão esperando defender o TCC os orientador não tá nem aí minha filha tá esperando já faz 2 anos pra defender a dela até hoje nem notícia é esso que está acontecendo aqui nos ifma do Maranhão aí querem professor e uma vergonha esso

  • Os próprios comentários ja resumem o porquê das evasões no ramo da educação; pois, infelizmente a própria categoria se desvaloriza, inclinando-se ao poder público e servindo de cabos eleitorais e aparelho ideológico do Estado. Abraçam funções que dizem respeito a família e se esquece da fazer o que lhes compete, ensinar, e não educar. Sem contar a autonomia de um professor em sala, que virou presépio do poder público. Esquecem de servir “o público” e acabam servindo o “poder público”, em troca de migalhas. Promove-se um ambiente desfavorável a planos de carreira e a valorização da “função social”. Inversão de valores, é o cerne. Resultado: ninguém quer mais ser bucha de canhão dos poderes…

  • Os próprios comentários ja resumem o porquê das evasões no ramo da educação; pois, infelizmente a própria categoria se desvaloriza, inclinando-se ao poder público e servindo de cabos eleitorais e aparelho ideológico do Estado. Abraçam funções que dizem respeito a família e se esquece da fazer o que lhes compete, ensinar, e não educar. Sem contar a autonomia de um professor em sala, que virou presépio do poder público. Esquecem de servir “o público” e acabam servindo o “poder público”, em troca de migalhas. Promove-se um ambiente desfavorável a planos de carreira e a valorização da “função social”. Inversão de valores, é o cerne. Resultado: ninguém quer mais ser bucha de canhão dos poderes…

  • A prefeitura de Salvador não paga o piso nacional, não respeita a remuneração, o plano de cargos e só quer saber de contratar REDA. Época de campanha salarial, nós somos obrigados a ouvir absurdos. Acho que ainda não existe um apagão, há poucas vagas e muitos licenciados, no entanto, com o desinteresse dos jovens pela Pedagogia e pelas demais licenciaturas, logo haverá um apagão.

  • Em São Paulo, há um governador abertamente hostil aos professores e um secretário de educação que, após uma gestão catastrófica no Paraná, veio trazer seu “evangelho” a São Paulo: plataformas de mídia de baixíssima qualidade que tem o único objetivo de encher o bolso de dinheiro desse mesmo secretário.

    • Apagão de professor a onde isso, realmente as futuras gerações não querem mas serem professores e estão certos, aqui em em São Paulo está faltando emprego para os professores que estão procurando emprego em outras áreas para poderem sobreviver essa é mais uma farsa para um plano eleitoreiro desse governo bolsa a licenciatura, propaganda enganosa quem for cursar uma universidade hoje tem que pensar nas profissões do futuro que estão dando dinheiro, professores estão sendo humilhados para conseguir meia dúzia de aulas para lecionar.

  • “Desabafo” É fato que a classe vem sofrendo a cada novo governo, que maqueia a preocupação com a Educação no Brasil. A desvalorização começa com a falta de reconhecimento por toda uma história de luta e resistência que os profissionais enfrentam até hoje. Manipulam nos oprimem nos diminuem como desnecessários. O governo passado foi a prova que NÃO nos querem em atividade, querem nos dizimar. Enquanto o termo apagão é mais uma controvérsia, milhares de licenciados esperam a anos por uma oportunidade de emprego, no entanto, não há vagas, nem escolas suficiente para tantos alunos. Em linhas gerais, a única forma de mudar essa realidade é investir na educação como prioridade, valorizar aqueles que estão na linha de frente, promover mais concursos públicos com maior número de vagas, criar programas de assistência aos profissionais da educação, tem muito a se fazer. Enquanto os políticos aumentam o próprio salário, têm vale paletó, plano de saúde, auxílio gabinete entre outras mordomias. E o professor? Lamentável.

  • É importante dizer que diante de tanta precariedade em relação a valorização da carreira docente na rede pública, as instituições privadas exploram o otrabalho docente, pagam apenas um salário mínimo a professores do ensino infantil, sem nenhum benefício, e ainda perseguem psicologicamente.

    Outro fator é o comportamento da sociedade que busca por exclusividade e privilégios. Isso faz com que os pais cheguem na escola exigindo do professor atenção e tratamento especial para os seus filhos, sem compreender que a escolarização é coletiva.

    Nas redes privadas esses caprichos são alimentados e os professores são humilhados e tem seu trabalho profissional reduzido a atender caprichos de crianças e adolescentes.

    As famílias não querem que seus filhos sejam corrigidos dentro da escola. É muita incoerência.

    O MEC reajustou o piso, mas as prefeituras não querem pagar.

    A prefeitura municipal de Salvador, não paga o piso, não reajusta os salários. Não paga os precatórios. É Difícil.

    Ninguém quer ser professor…

  • A vida do professor está vc a beira de um colapso, em todos os sentidos, faltam recursos, respeito e valorização da carreira,depois da pandemia percebi uma série de desistências, causados por problemas emocionais, e falta de progressão no salário. Um descaso sem tamanho. Desanimada vou continuar na profissão, mas sempre com desejo imenso de desistir, são 13 anos que escolhi ser professora de educação infantil, estou esgotada, mas ainda amo o que faço, mesmo não sendo valorizada.

  • O Pé de meia Licenciaturas vai servir para a pessoa pegar o dinheiro se formar e ir prestar concurso em qualquer área que exija o 3º grau e não vai dar aula. Não resolverá o problema. E se as prefeituras e estados utilizarem o tal da prova nacional docente não passa ninguém. Basta você entregar um formulário para o professor escrito ” logradouro” que ele se vira para voce e pergunta o que é isso ? Não passam em concursos nem processos seletivos e resumindo: os governos não lhes darão aumento.

  • No entanto há professores com muita experiência que está sem aulas, como eu com 15 anos de Estado. A Seduc colocou só 10% do tempo de serviço na classificação, ilegal, sindicato brigando por nós , mas até agora nada. Não iram corrigir e cancelar a atribuição inicial, nem mudar durante o ano.

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