2 de fevereiro de 2025 12:05 por Da Redação

O Comitê Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, junto com a família do jornalista e advogado Jayme Amorim de Miranda (1926-1975), realizará um ato em memória dos 50 anos de seu desaparecimento, ocorrido em 4 de fevereiro de 1975, no Rio de Janeiro. O evento acontecerá na terça-feira (4), às 19 horas, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas, no bairro de Jacarecica, em Maceió.
Jayme Miranda estudou no Colégio Diocesano e no Liceu Alagoano, onde concluiu o curso colegial em 1944. Em 1946, ingressou na Faculdade de Direito de Alagoas e, no mesmo ano, prestou concurso para a Escola de Sargentos das Armas (ESA), e foi aprovado. Interrompeu o curso de Direito e seguiu para o Rio de Janeiro para servir na ESA, tendo sido posteriormente transferido para Pindamonhangaba (SP). Em 1948, deixou o Exército, retornou a Maceió e concluiu o curso de Direito na década de 1950.

Trabalhou na Cooperativa dos Usineiros de Alagoas e foi revisor dos impressos “Jornal de Alagoas” e “A Notícia“, de Maceió.
Em 1950, Jayme reabriu o semanário “A Voz do Povo” com outros jornalistas. O jornal era o único canal de comunicação dos trabalhadores. A perseguição à imprensa do PCB foi implacável durante os governos de Silvestre Péricles (1947-1951) e Arnon de Mello (1951-1956), que ordenaram invasões, destruição das máquinas e prisões de jornalistas e gráficos.
Jayme foi preso diversas vezes em Maceió, processado por sua militância no PCB e condenado a uma pena de doze meses. Deixou Maceió e passou a viver e atuar no partido em Recife, onde foi preso pelo Exército em 1953. Submetido a sessões de tortura nas dependências do Exército, foi posteriormente transferido para Maceió, onde cumpriu a pena na Penitenciária. Após ser libertado em 1954, retornou a Recife para cuidar da saúde debilitada em decorrência das torturas sofridas na prisão.

Após o golpe militar de 1964, Jayme esteve preso de abril até fevereiro de 1965. Após ser libertado, entrou na clandestinidade e mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 4 de fevereiro de 1975, foi capturado por agentes do Estado brasileiro durante a “Operação Radar”, levado para São Paulo, onde foi brutalmente torturado e assassinado em instalações clandestinas do Exército.
O Exército Brasileiro desapareceu com o corpo do jornalista, advogado e dirigente comunista e, passados 50 anos, a família, os amigos e companheiros de militância política continuam sem saber onde ele está.
O historiador Geraldo de Majella, ex-militante do PCB, selecionou de seu arquivo pessoal alguns depoimentos de amigos e ex-companheiros do jornalista Jayme Miranda.

“Eram jovens destemidos e eu, embora não fizesse parte do partido, simpatizava com suas ideias”
É difícil, para quem quer que o tenha conhecido — independentemente de crenças ou posições políticas —, esquecer a figura de lutador e idealista que foi Jayme Miranda. Minha relação com ele surgiu a partir da amizade que unia meu pai, Joaquim Leão, comerciante e deputado estadual nos meados dos anos 1940, a seus genitores, senhor Manoel Miranda e dona Hermé.
Alguns daqueles rapazes e moças participavam de reuniões noturnas em nossa casa, situada na Rua da Floresta, hoje Fernandes de Barros. Na época, morava conosco um primo, Zadir Cassela, comunista, e aquelas reuniões atraíam, além de parentes como Péricles de Araújo Neves e sua irmã Marinete, outros membros do PCB, como Jayme Miranda, Bercelino Maia e George Cabral. Este último eu reencontraria quinze anos depois, em Praga, quando voltava da minha viagem à União Soviética, em 1963. Eram jovens destemidos e eu, embora não fizesse parte do partido, simpatizava com suas ideias e tinha permissão para participar daqueles “meetings”, carregados de vibração patriótica e muito idealismo.
Anilda Leão, escritora, poetisa e acadêmica da Academia Alagoana de Letras.

“Todas essas qualidades de Jayme Miranda me incentivaram a imitá-lo”
No rol das vítimas do terrorismo fascista da ditadura, citei o nome de vários companheiros, mas há um nome que eu gostaria ainda de mencionar, porque se trata de um companheiro de luta que conheço desde sua infância. Refiro-me a Jayme Miranda. Foi dirigente do Partido Comunista em Maceió. Era um jornalista e intelectual de grande talento, bom orador e sempre ligado ao trabalho de massas, principalmente ao movimento estudantil, na sua juventude. Atuei algumas vezes em Maceió e sempre ao lado de Jayme Miranda, que para mim era um verdadeiro espelho no sentido de sua abnegação, seu sentimento patriótico e seu grande humanismo. Além de tudo, era um homem muito valente. Todas essas qualidades de Jayme Miranda me incentivaram a imitá-lo, assim como imitei outros grandes dirigentes de nosso Partido e de outros partidos comunistas.
Gregório Bezerra era camponês, ex-deputado federal constituinte de 1946 e ex-dirigente nacional do PCB.

“Jayme Miranda era uma personalidade que se destacava pelo profundo humanismo proletário”
A última fase da história da “A Voz do Povo” foi marcada, de modo indelével, pela liderança político-ideológica no Comitê Estadual de uma personalidade política destacada: a do militante comunista Jayme Amorim de Miranda. Não se trata apenas de um militante ou líder político proletário que, embora proveniente da classe média urbana de Maceió, soube como poucos levar às últimas consequências sua opção política fundamental: ser um intelectual orgânico (dentro da classificação de Gramsci) da classe operária brasileira. Dedicado inteiramente à tarefa militante da classe operária, Jayme Miranda era uma personalidade que se destacava pelo profundo humanismo proletário, pela fidelidade ao marxismo, pela capacidade organizacional e militante, pela dedicação às lutas populares e pela fina educação, quase ternura, que revelava no trato pessoal com companheiros e amigos.
Dirceu Lindoso, historiador, romancista, tradutor e ex-dirigente do PCB.

“Jayme Miranda era calmo, elegante no trato e manejava seu conhecimento com muita segurança e lógica”
Jayme Miranda era calmo, elegante no trato e manejava seu conhecimento com muita segurança e lógica, vivenciando, na prática e na teoria, os ensinamentos de Karl Marx e Engels. Com o golpe militar de 1964, tanto eu quanto Jayme Miranda fomos dos primeiros a ser presos. Passamos mais de noventa dias detidos sem qualquer denúncia criminal — até porque os verdadeiros criminosos foram aqueles que derrubaram um governo legalmente eleito pelo povo brasileiro —, e nós é que pagamos o preço.
Depois que fomos libertados, Jayme seguiu para o Rio de Janeiro, onde foi preso e assassinado. Até hoje, seu corpo não foi localizado.
Rubem Monteiro de Figueiredo Agnelo era advogado, juiz do trabalho aposentado e ex-militante do PCB.