
O Partido dos Trabalhadores (PT) está em ebulição interna provocada pelo processo eleitoral em suas instâncias de poder, que são os diretórios municipais, estaduais e o diretório nacional. As disputas internas entre as tendências estão cada vez mais acirradas.
A tendência majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo que domina o partido desde sua fundação há 45 anos, mesmo tendo mudado de nome, mantém, essencialmente, a mesma estrutura. Recentemente, decidiu alterar as regras que regem as eleições internas, dificultando a renovação dos quadros partidários.
“Resolução do diretório nacional a gente respeita. Eu entendo os argumentos e respeito a decisão, mas, no mérito, sou contra. Os artigos do estatuto foram aprovados em congresso como uma forma de garantir o processo de renovação no PT. E, nesse sentido, a decisão de ontem (17/02) representou um retrocesso na perspectiva da renovação”, declarou Éden Valadares, presidente do Diretório Estadual do PT na Bahia.
O dirigente baiano preside um dos diretórios mais importantes do Brasil, continuou suas críticas, afirmando que o PT “deveria fomentar a participação, o interesse e a chegada de novos quadros à sigla, o que pode ser desestimulado pela resolução aprovada ontem”.
Prossegue o dirigente: “Repare, muito se fala em dialogar com as novas gerações, em modernizar as bancadas e as direções, mas, ao permitir a perpetuação dos mandatos, o PT passa um recado na contramão disso. Os mesmos quadros ficarem décadas na direção? O deputado federal petista mais novo tem 60 anos, e a média de idade na bancada é de 64 anos. Não é hora de começar a oxigenar?”, questionou o petista.
O mal-estar também foi instalado em Alagoas, onde membros responsáveis pela direção das tendências que se contrapõem à Construindo um Novo Brasil (CNB) estão contra mais uma manobra do grupo majoritário em nível nacional. A disputa local tem sido intensa inclusive com uma campanha de filiação de novos membros como nunca se viu na história do PT alagoano.

Há três novidades que se apresentam na disputa interna. A tendência Resistência Socialista, que tem no deputado Ronaldo Medeiros um dos seus expoentes, mas conta com experientes quadros políticos em Maceió e no interior. O atual presidente do Diretório Municipal de Maceió, Marcelo Nascimento, que rompeu com o grupo majoritário e hoje é um dos cabeças da tendência Movimento PT, juntamente com Roberval Tenório.
A vereadora Teca Nelma é uma estrela em ascensão no PT de Alagoas, que ainda não se definiu em qual tendência irá participar. Até o momento é o que se chama, no interior do PT, “uma militante independente”.

Em Alagoas, diferentemente de outros estados, as tendências com existência histórica estão discutindo a formação de um campo próprio para disputar os diretórios enfrentando a Construindo um Novo Brasil, comandada pelo deputado federal Paulão.
Máquina burocrática
As críticas feitas no início da formação do PT, na década de 1980, era a de que os partidos comunistas eram organizações burocratizadas — tendo como exemplo o Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Passados 45 anos, o próprio PT caminha em ritmo acelerado para se tornar uma organização controlada, em sua maioria, por burocratas de gerações distintas.
Diferentemente das críticas dirigidas aos comunistas do Leste Europeu, que foram taxados de “gerontocracia burocrática do Kremlin”, os petistas parecem estar desenvolvendo sua própria versão desse fenômeno. As últimas decisões do partido têm um caráter eminentemente defensivo e preservacionista. Diante da possibilidade de perder o controle da sigla, o núcleo dirigente burocrático alterou as regras anteriormente estabelecidas para manter sua hegemonia.
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