
Por Dilson Ferreira* e Neirevane Nunes**
Enquanto Maceió enfrenta o maior desastre ambiental urbano do Brasil, com 60 mil vítimas da Braskem, bairros destruídos e um cenário de abandono urbano, alguns vereadores da Câmara Municipal preferem gastar tempo com pautas ideológicas
ineficazes. A mais recente dessas distrações foi a aprovação do “Dia Municipal em Memória das Vítimas do Comunismo”.
A pergunta é direta: essa lei melhora a vida dos maceioenses de forma efetiva?
A cidade tem desafios concretos e urgentes: famílias sem casa, bairros afundando, trânsito caótico, falta de planejamento urbano, degradação ambiental e abandono do centro histórico. Mas, em vez de propor políticas públicas efetivas, alguns vereadores optam por leis simbólicas, sem impacto real, apenas para gerar polêmicas e reforçar disputas ideológicas vazias.
Na prática, para nós maceioenses, todo dia é o Dia das Vítimas da Hipocrisia Política, que permeia as nossas casas e define o abandono da cidade. O reflexo disso está nas ruas esburacadas, na falta de transporte público digno, no crescimento desordenado e na ausência de um plano real para os bairros destruídos pela Braskem. E essa hipocrisia tem rosto, tem nome e é representada por alguns políticos que fazem de tudo, menos legislar para melhorar a vida da população.
Os desafios reais de Maceió exigem soluções eficientes
Maceió precisa de políticas públicas efetivas, planejamento urbano sério e medidas que trazem resultados concretos. Vamos aos fatos:
1. A Tragédia da Braskem e a Falta de Respostas
– Mais de 60 mil pessoas perderam suas casas, e até hoje não há um plano efetivo para a recuperação das áreas de subsidência.
– Bairros inteiros foram destruídos, e não existe um plano integrado de realocação, indenização e requalificação das áreas atingidas.
– O impacto ambiental e econômico da tragédia continua ignorado, enquanto as indenizações seguem lentas e sem transparência. Os Flexais continuam isolados.
2. Falta de Planejamento Urbano
– O Plano Diretor está desatualizado, e a cidade cresce de forma desordenada, sem diretrizes claras para ocupação do solo.
– A mobilidade urbana está em colapso, sem transporte público eficiente, sem ciclovias conectadas e sem soluções efetivas para o trânsito.
– Não há um Plano de Arborização Urbana, e o desmatamento avança sem controle, aumentando as ilhas de calor e degradando o meio ambiente.
– O centro histórico segue abandonado, sem projetos concretos para revitalização e preservação do patrimônio.
3. Infraestrutura e qualidade de vida
– O saneamento básico não é aplicado corretamente, e bairros inteiros vivem com esgoto a céu aberto.
– O Código de Urbanismo e o Código Ambiental estão ultrapassados, permitindo irregularidades e facilitando a degradação ambiental.
– A cidade carece de um plano de segurança urbana efetivo, deixando espaços públicos inseguros e mal iluminados.
– A acessibilidade continua precária, dificultando a locomoção de idosos e pessoas com deficiência.
E, diante desse cenário crítico, alguns vereadores acreditam que a prioridade da cidade é criar um dia simbólico para debater um tema sem qualquer relevância local.
O “Dia das Vítimas do Comunismo” não passa de uma manobra política ineficiente
A criação desse dia municipal não tem qualquer justificativa dentro da realidade maceioense. Maceió nunca viveu sob um regime comunista, não há vítimas do comunismo na história local, e não há nenhum impacto desse tema na vida cotidiana dos maceioenses.
A real intenção dessa proposta não é resolver problemas, mas alimentar um conflito ideológico artificial e desviar a atenção das questões reais da cidade. Enquanto milhares de pessoas seguem desabrigadas devido à Braskem, enquanto o trânsito piora a cada dia e enquanto o centro histórico se deteriora, parte da Câmara Municipal gasta tempo e energia em um projeto que não muda nada na vida de ninguém.
Se a preocupação fosse com vítimas, onde está o “Dia Municipal em Memória das Vítimas da Braskem”? Onde estão as propostas para recuperar os bairros afetados? Onde está a pressão para garantir justiça aos moradores desalojados?
Além disso, esse tipo de projeto não agrega nada a ninguém. Pelo contrário: gera apenas mais polarização, mais ódio e mais desgaste emocional entre as pessoas. Em um país já dividido, iniciativas assim só aprofundam a crise social, gerando ansiedade, estresse e conflitos desnecessários.
E esse fenômeno está se ampliando em todo o Brasil. Não é apenas em Maceió: Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e o Congresso Nacional estão cada vez mais pautados por projetos sem aplicabilidade prática, apenas para gerar engajamento eleitoral e espaço na mídia.
Maceió precisa de gestão eficiente, não de teatro político
A cidade precisa de representantes que apresentem propostas com impacto real na vida da população. Precisamos de:
✔️ Atualização do Plano Diretor para garantir um crescimento urbano ordenado.
✔️ Implantação de um Plano de Mobilidade para resolver o colapso do trânsito e do transporte público.
✔️ Criação de um Plano de Arborização Urbana para recuperar áreas verdes e combater o calor excessivo.
✔️ Modernização do Código de Urbanismo e Ambiental para evitar irregularidades e proteger o meio ambiente.
✔️ Aplicação efetiva do Plano de Saneamento Básico, garantindo água tratada e esgoto adequado.
✔️ Revitalização do centro histórico, transformando-o em um polo cultural e econômico.
✔️ Medidas para reforçar a segurança urbana, melhorando a iluminação e os espaços públicos.
✔️ Projetos para garantir acessibilidade e inclusão, tornando a cidade mais justa para todos.
✔️ Planos concretos para recuperação das áreas atingidas pela Braskem, garantindo justiça para as vítimas.
✔️ Políticas para impulsionar o turismo sustentável, aproveitando o potencial da cidade de forma responsável.
✔️ Criação do Plano de enfrentamento às mudanças climáticas
✔️Criação do Plano Municipal de Gestão de Cemitérios e Serviços Funerários (O sistema funerário de Maceió está em colapso, todos os cemitérios públicos superlotados, as pessoas sepultadas de forma precária em covas rasas – lençol freático e solo contaminados por Necrochorume – precisamos urgente de um cemitério e de um crematório público – hoje tem fila pra sepultamento no município famílias esperando até 3 dias pra sepultar seu ente querido – fora dezenas de corpos no IML aguardando sepultamento.
O que a população precisa são soluções eficientes e estruturadas, e não de distrações ideológicas que apenas inflamam debates inúteis e desviam a atenção dos problemas reais.
Conclusão: todo dia é dia das vítimas da hipocrisia política
Para nós maceioenses, todo dia é o Dia das Vítimas da Hipocrisia Política. O abandono da cidade, a destruição de bairros inteiros, a falta de planejamento e a omissão diante dos problemas reais não têm data específica – fazem parte do cotidiano de quem mora aqui.
Maceió precisa de soluções, não de distrações.
*É arquiteto urbanista
**É bióloga.