7 de abril de 2025 3:32 por Da Redação

No último sábado (5), o projeto Inventário Participativo do Patrimônio Cultural Imaterial (IPCI Maceió) apresentou os resultados parciais de uma importante ação de resgate da memória coletiva dos moradores dos bairros atingidos pelo afundamento do solo provocado pela mineração da Braskem, em Maceió. A apresentação ocorreu no Centro de Inovação do Jaraguá e contou com a presença de fazedores culturais, ex-moradores, líderes comunitários e interessados na preservação da identidade cultural local.
O IPCI Maceió tem como objetivo principal identificar e salvaguardar os bens imateriais da cultura dos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto, Farol e Pinheiro, como tradições, festas populares, saberes e práticas artísticas. A iniciativa se destaca por ter sido conduzida por moradores e ex-moradores das regiões afetadas, atuando como agentes de pesquisa.
Segundo Clair Júnior, consultor do projeto, o levantamento de dados é fundamental para que os próprios fazedores culturais opinem e proponham formas de preservar essas manifestações. “Esses dados são a base para entendermos o presente e planejarmos o futuro da cultura desses bairros”, afirmou.

Uma das coordenadoras do projeto, Josemary Ferrare, ressaltou que a maior preocupação foi localizar os fazedores culturais após o esvaziamento das áreas. Sem registros oficiais sobre o paradeiro dessas pessoas, o IPCI partiu em busca dos artistas e agentes culturais para compreender como estavam as práticas culturais e o que ainda resistia. “A contribuição que o projeto tenta trazer é justamente esse banco de informações que permitirá pensar os próximos passos”, destacou.
O projeto, vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e gerenciado pela Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (FUNDEPES), foi estruturado de forma a garantir que a própria comunidade participasse ativamente da produção do inventário. A escolha metodológica foi priorizar quem tem vínculo direto com os territórios afetados.
“São essas pessoas que têm a vivência necessária para nos indicar o que realmente compõe o patrimônio cultural imaterial dos bairros atingidos”, explicou Adriana Guimarães, também coordenadora do projeto.

A ação integra o cumprimento do Acordo Socioambiental assinado entre a Braskem, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual, em resposta à crise provocada pelo risco de subsidência do solo, que forçou a evacuação dos bairros afetados.
Walney Gomes, analista do projeto, ressaltou o papel da FUNDEPES na condução das atividades. “Estamos atentos para garantir que todas as metas e prazos do IPCI Maceió sejam cumpridos com responsabilidade e compromisso com a comunidade”, afirmou.
Jaqueline Santos, ex-moradora de Bebedouro e hoje agente de pesquisa do projeto, compartilhou a experiência de ter participado do processo. Ligada à comunidade de pescadores e marisqueiras, ela destacou o aprendizado e a emoção de reencontrar as raízes culturais do bairro. “Foi muito importante entender o que permaneceu de cultura e o que ainda resiste nos bairros afetados”, disse emocionada.
Além da preservação da memória cultural, o evento também teve como meta fomentar o diálogo e pensar propostas que viabilizem a conquista de editais de fomento para as expressões culturais da região. Pierre D’Almeida, professor de teatro e fundador do grupo Mamulengo Caxapá, lembrou que o fortalecimento da cultura local depende também de políticas públicas que assegurem sua continuidade.