12 de abril de 2025 1:25 por Da Redação

A tentativa do bolsonarismo de emplacar, a qualquer custo, o projeto de anistia aos envolvidos na tentativa de golpe do 8 de janeiro esbarrou em obstáculos nesta semana. Liderado por Sóstenes Cavalcante (RJ), o PL — principal partido da base de apoio a Jair Bolsonaro — foi forçado a moderar o tom e recuar na ofensiva para acelerar a tramitação da proposta na Câmara dos Deputados.
O texto, que pretende perdoar acusados e condenados pelos atos golpistas, enfrenta forte resistência de parlamentares da base do governo e de partidos de centro, que veem a medida como uma grave ameaça ao Estado democrático de direito.
O recuo veio após o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmar que não colocará em pauta projetos que possam provocar “crises institucionais”. A aliados, Motta foi categórico: “não é o momento” para discutir a anistia.
Nos bastidores, o PL vinha promovendo uma série de ameaças e chantagens. No início da semana, Sóstenes declarou que “a anistia será pautada, querendo ou não” e ameaçou divulgar os nomes de deputados que não assinaram o requerimento de urgência para a matéria. A pressão, no entanto, foi interpretada como um movimento desesperado diante do isolamento político crescente do bolsonarismo.
De acordo com lideranças da Câmara, Sóstenes Cavalcante e a família Bolsonaro estão cada vez mais convencidos de que o ex-presidente e o grupo de militares investigados serão condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Esse temor crescente ajuda a explicar o tom agressivo das últimas semanas e a cobrança pública de “faturas” políticas. Parlamentares ouvidos em caráter reservado relatam que o PL vem pressionando o presidente da Câmara, Hugo Motta, com base no apoio da bancada bolsonarista à sua eleição. Os compromissos firmados nos bastidores, no entanto, seguem mantidos sob sigilo pelos aliados de Bolsonaro.
Apesar da tensão, o presidente da Câmara deu um sinal claro de que não pretende ceder. Na pauta de plenário desta terça-feira (9), foram incluídos requerimentos de urgência para projetos de reestruturação de cargos no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), gesto interpretado como uma mensagem direta de apoio às instituições judiciais.
O impasse escancarou o racha entre os que defendem a anistia como “instrumento de pacificação” e os que alertam para o risco de impunidade. Para a base governista, a proposta é um acinte à democracia e representa uma tentativa de apagar crimes graves contra o Estado de direito.
Enquanto isso, o PL segue testando os limites da institucionalidade e do próprio presidente da Câmara. A ofensiva pode ser só o começo de uma crise mais profunda — ou o marco de uma derrota estratégica para o bolsonarismo no Congresso.