26 de outubro de 2020 7:00 por Geraldo de Majella
A cidade de Boca da Mata tem uma população estimada em 27.356 habitantes (IBGE-2020) e fica a 80 km de Maceió. A economia local é essencialmente a monocultura da cana-de-açúcar, mas há também pecuária e uma pequena área com agricultura familiar. Somam-se a isso as belezas naturais, como a Serra de Santa Rita, o balneário Águas de São Bento, a bica do Arlindo, além das bicas Baixa Grande e Quebra Carro, estas últimas localizadas em uma APA, Área de Proteção Ambiental.
O empresário Jorge Tenório tem entre outros méritos o de ter sido o mecenas do escultor Manoel Cavalcanti de Almeida, o Manoel da Marinheira. Tenório iniciou a coleção de obras do escultor ainda na década de 60 do século XX, em Boca da Mata.
Hoje essa coleção conta com mais de 1.540 peças, sendo mais de 800 produzidas por Manoel da Marinheira, e o restante pelos seus seguidores e discípulos, os seus filhos e filhas, entre eles três filhas surdas-mudas.
O Museu Manoel da Marinheira, fundado em 2003, funciona na fazenda Bento Moreira, em Boca da Mata (AL), nas instalações improvisadas de um antigo grupo escolar desativado. As obras estão expostas em dez salas. A coleção é extraordinariamente bela e ampla.
Manoel da Marinheira foi pai de vinte filhos, sendo dez do primeiro casamento e dez do segundo. Cinco deles são talentosos e seguiram o pai no trabalho com a madeira. O nome Marinheira surgiu ao nascer. O pai de Manoel era marinheiro mercante e ao chegar a Boca da Mata, vindo da Alemanha, logo se apaixonou e casou. Esse é o motivo pelo qual a esposa ficou conhecida como Marinheira. Quando o primogênito nasceu passou a ser chamado de Manoel da Marinheira.
Manoel da Marinheira viveu até os 95 anos. Começou a trabalhar ainda adolescente, como agricultor. Teve, como todos os agricultores, uma vida de muitas dificuldades. Aos 80 anos foi diagnosticado com glaucoma, doença que o impediu de trabalhar. Chegou a perder a visão completamente.
Essa joia rara foi descoberta e teve o seu trabalho divulgado primeiramente para Alagoas pelo fotógrafo e cineasta Celso Brandão e pelo artista plástico Fernando Lopes, que na década de setenta o conheceram e apresentaram aos artistas e intelectuais de Maceió. O boca a boca e as matérias em jornais foram tirando Manoel da Marinheira e sua obra do quase anonimato. As peças de Manoel da Marinheira estão em vários países de continentes diferentes, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa.
Aconselho a quem gosta de artes e escultura a conhecer o conjunto da obra produzida por esse escultor fenomenal.