20 de março de 2021 7:15 por Geraldo de Majella
Braskem, em Alagoas, é herdeira da Salgema Indústrias Químicas S/A. Cada uma em seu tempo estabeleceu relações com o Estado em torno dos interesses empresariais, que nunca foram os interesses da sociedade.
Na tragédia que destruiu quatro bairros de Maceió, a responsabilidade é da Braskem, que tem expertise no trato com o poder público (leia-se Estado brasileiro) e tem conseguido empurrar quase 50 mil pessoas para a vala comum. Ironicamente, é uma vala comunitária.
O relacionamento da empresa com os poderes é antigo. Quando ainda era Salgema, contava com bancadas parlamentares informais. Havia quem defendesse que a redenção econômica de Alagoas era o sal-gema. Hoje, não é necessário esse tipo de exposição pública, nem “dar a cara a tapa”; basta silenciar diante da tragédia.
O vereador Valmir Gomes (PT), na sessão de quinta-feira (18), na Câmara Municipal, sugeriu que a Braskem indenizasse o município de Maceió pelos graves danos causados por destruir cinco bairros. Os recursos seriam destinados ao auxílio emergencial nesse momento em que o mundo vive a pandemia do coronavírus.
O vereador Eduardo Canuto (Podemos), em aparte, disse que o prefeito JHC (PSB), quando era deputado federal, “atuou cobrando ações em relação aos bairros atingidos, assim como o atual secretário de Governo, vereador Francisco Sales, além de Geraldo Vasconcelos, fundador do SOS Pinheiro e coordenador adjunto da Defesa Civil Municipal, que agora na administração do município, tem as condições necessárias para enfrentar a Braskem e defender a população vítima da empresa”.
A Braskem assinou um acordo com o MPE, o MPF e as Defensorias Públicas Federal e Estadual, no qual reconhece ser a causadora dos danos, mas na opinião de Cássio Araújo, procurador do Trabalho e morador do Pinheiro, “o acordo e seus posteriores aditivos, se teve o mérito de fazer com que a Braskem assumisse sua responsabilidade pelo desastre causado, deixou todo o poder de negociação nas mãos da empresa, fragilizando a posição dos moradores e dos empresários”. Esse é o ponto fulcral: o domínio é exercido pela Braskem sobre o Estado e impõe à população o pagamento pelos danos causados diante do cadafalso.
A sociedade civil precisa identificar o real empenho da prefeitura de Maceió, além do monitoramento de riscos realizado pela Defesa Civil. É fundamental a transparência nas discussões e que haja o envolvimento da comunidade cientifica, dos atingidos ‒ e que não seja apenas pelas lives ou discursos genéricos.
A Braskem sabe que em Alagoas o crime compensa e prospera.