13 de abril de 2021 10:01 por Ricardo Ramalho
Antecedência e concepção
Concebida há anos, a Ecovianorte, enquanto projeto, tomou forma na última década, incorporando conceitos modernos que abraçam preocupações socioambientais. Discutida com lideranças técnicas e comunitárias, apresenta elementos e contornos que consideram as transformações e anseios da sociedade, para um modelo de acessibilidade e convivência harmoniosa com a população usuária. Nada mais apropriado para essa visão que os princípios da ecologia humana, em seu sentido mais amplo e racional. Dessa constatação, advém a denominação de ecovia para esse olhar equilibrado de planejar os novos espaços.
Uma ecovia não se destina, apenas, ao escoamento do tráfego, mas, facilita a movimentação, de um modo geral, que inclui veículos, pedestres, pessoas com deficiências, ciclistas e animais. Para tanto, são planejados passeios, ciclovias, baias para transporte coletivo, todos, adequadamente, acessíveis.
O planejamento de uma ecovia considera elementos naturais, componentes da paisagem, a serem valorizados em seu traçado e aproveitados para se fugir da monotonia das estradas retilíneas e sisudas predominantes. Esses cuidados objetivam proporcionar conforto aos usuários, traduzido nos aspectos diversos, inclusive, naqueles mais, diretamente, relacionados ao meio ambiente como poluição visual, temperatura, sensação térmica, ar puro, contemplação.
Mais usos, mais possibilidades
A Ecovianorte, finalmente em execução e a ser concluída nos próximos meses, segundo a Prefeitura, se mostra com mais opções de usos, na medida em se impõe na paisagem, no seu formato. Inspira novas possibilidades complementares que engrandecerão seus objetivos principais. As mudanças de paradigmas comportamentais, com a pandemia, de certa forma, induzem pensamentos e ideias que amenizem seus efeitos, na sociedade. A partir dessa inesperada constatação, surgem inquietações e propostas nesse sentido.
Agricultura urbana e periurbana
As cidades, remotamente, sempre se vincularam à agricultura, uma vez que dependem dessa para suas necessidades básicas de alimentação, além de outros produtos essenciais à existência da população residente. Com a avassaladora migração do campo para as áreas urbanas, formando as metrópoles, os cultivos se distanciaram. Fatores negativos, resultantes desse processo, forçaram uma reaproximação das atividades agrícolas, nos espaços urbanos e periurbanos das cidades. Muitas experiências exitosas, ocorreram e ocorrem no Brasil e no mundo e tendem a se multiplicar, face às novas emergências, relacionadas às questões ambientais e de
saúde humana. A agricultura urbana e periurbana se desenvolve, percorrendo modelos diversos, em espaços públicos e privados, por iniciativas empresariais, organizações da sociedade civil ou estimuladas por políticas públicas. Assim sendo, vem se impondo como uma opção de enfrentamento dos graves problemas socioambientais. Um vasto leque de tecnologias se apresentam, adaptadas à essa forma de trabalhar os espaços urbanos desocupados.
A Ecovianorte foi projetada com um canteiro central de 7 m de largura para permitir um exuberante paisagismo, com todos os seus efeitos positivos para o meio ambiente e o bem-estar de usuários e da população do entorno. Com uma extensão de 6 km, representa uma área de 4,2 ha. Esse significativo canteiro pode ser utilizado para a prática da agricultura, conduzida de tal forma que o paisagismo tradicional, se confunda com culturas agrícolas, devidamente, arranjadas, sob uma estética que estimule contemplações e outras replicações, pela cidade. Não se tratará de buscar, naquele espaço específico, soluções para a produção de alimentos, mas, de demonstrar que é possível se usar espaços públicos e privados com essa finalidade e, dessa forma, irradiar a prática.
Arborização adaptada
São notórios os baixos índices de arborização de Maceió. Levantamentos realizados indicam uma esperada diminuição de áreas verdes, com o avanço da urbanização. Ações, entretanto, devem compensar essa perda arbórea. A Ecovianorte pode se constituir em polo de novos plantios de árvores que se contraponham à essa tendência. Considerando as características de desenvolvimento de cada espécie vegetal, é possível conduzir arranjos agroflorestais harmônicos e embelezadores. A presença de árvores no canteiro, colabora, efetivamente, na ampliação de seus objetivos.
Coleção botânica como objeto de visitação e estudos
As espécies arbóreas e arbustivas plantadas, serão selecionadas, de acordo com critérios botânicos, formando uma vitrine representativa da Mata Atlântica e suas variações, decorrentes das especificidades climáticas do município. Devidamente, identificadas, essas plantas oferecerão mais beleza, conforto térmico e importantes vantagens para o local. A coleção botânica que se formará, certamente, atrairá estudiosos e visitantes para apreciar suas características e acrescentar conhecimentos.
Turismo natural e contemplativo
A nova via da cidade será mais uma opção de tráfego da parte alta para as praias, atrativos mais relevantes do turismo maceioense. Ressalte-se que os turistas, desembarcados no aeroporto, terão disponível esse percurso, mais curto e livre, para o traslado até à rede hoteleira litorânea. Ainda, brindados por um corredor diversificado, de árvores, que prenunciarão as belezas que encontrarão em Maceió.
Esforço público integrativo
A proposta ousada e diferenciada que foge dos padrões convencionais, requer uma de liderança institucional da Prefeitura Municipal que promova um envolvimento integrativo dos órgãos municipais relacionados à questão, bem como de outras esferas governamentais, com igual pertinência. A sociedade civil organizada será atraída para opinar e participar das etapas programadas, desempenhando um papel preponderante na evolução das atividades.
Ricardo Ramalho é engenheiro agrônomo e ex-secretário Municipal de Meio Ambiente da prefeitura de Maceió.