28 de junho de 2021 3:41 por Marcos Berillo
Pe. Gilvan Gomes das Neves (*)
*Mestre e Doutor em Ciências da Religião pela UNICAP. E-mail: Gilvan.neves@uol.com.br
São Pedro (século I), do grego “Petros”, rocha e em aramaico “Kefas”. Sua festa é celebrada no dia 29 de junho. Na sua iconografia aparece vestindo túnica com ornamentos pontificais. Seus atributos são um livro ou rolo de pergaminho, e as chaves, que podem ser três em alusão à Santíssima Trindade. Frequentemente, reconhecemos nos dentes das chaves a letra P, indicando o nome do santo redes, peixes ou uma barca. Manoel da Costa Athaíde (2) pintou São Pedro na companhia de um galo.
Pescador, natural de Betsaida, inicialmente chamado Simão, era filho de João. Apóstolo e mártir; foi o primeiro papa. Dele, Jesus disse: “…sobre esta pedra construirei a minha Igreja”(Mt 16,18; cf. At 15,6-17). Antes de o galo cantar, Pedro negou Jesus três vezes (Mt 26, 74-75), mas tornou-se chaveiro do céu. Liderou os apóstolos no dia de Pentecostes. Do Novo Testamento, constam duas catas de São Pedro.
Segundo a tradição, foi crucificado de cabeça para baixo –Nero era o Imperador (64-67) na colina Vaticana, fora da antiga cidade de Roma. Escavações recentes parecem confirmar que Pedro está enterrado sob a Basílica de São Pedro, no estado do Vaticano, em Roma.
Vale ressaltar que a antiga e grande devoção a São Pedro é própria da Igreja de Roma, que o contém como fundador e padroeiro. Assim como, as grandes Igrejas Ortodoxas foram fundadas por apóstolos aos quais os fiéis cultivam a sua devoção.
Na Religião do povo, São Pedro é invocado como aquele que manda a chuvacair do céu. Além de chaveiro do céu, São Pedro é advogado das almas que estão às portas da eternidade. Veio através dos colonizadores o seguinte canto, ainda cantado em Portugal: “São Pedro é homem velho / homem de muito juízo / Por isso o Senhor o fez / chaveiro do paraíso” (PIRES, 1902, p. 121).
Nas histórias de quando Deus andou no mundo (3) , Jesus andava frequentemente com São Pedro, que tinha muito o que aprender. Em algumas dessas histórias, São Pedro é confundido com Pedro Malsartes (4) . Mesmo sendo futuro chefe da Igreja, foi apontado por Jesus como Satanás (Mt 16,23). “Quando Deus andou no mundo disse a São Pedro assim:/ Quem não quer pobre na porta,/ Também não quereis a mim”(versos populares, recolhidos no interior de Alagoas).
Na tradição a devoção a São Pedro existe uma ligação do referido Santo, como o “Senhor do Galo”. O animal simboliza nas culturas antigas a fecundidade e vigilância. Cristo, São Pedro e o Galo aparecem 120 vezes em sarcófagos do século IV. O Galo de então simbolizava a luz da aurora, a luta e a vitória de Cristo Ressuscitado; vitória da qual participava São Pedro Mártir (em Roma) e não tanto as três vezes que o mesmo Pedro negou a seu Mestre .
Segundo a tradição popular, São Pedro era viúvo. Muitos consideram São Pedro protetor de viúvos e viúvas.
Por fim, a festa de São Pedro encerra o ciclo das festas juninas, que não se deve apenas a popularidade do santo chaveiro do céu, mas principalmente ao fim das colheitas nesse período.
Por isso: “Dia 29 de junho, / É dia de São Pedro, Salve, Salve, São Pedro / pescador da Galiléia,/ salve, salve, São Pedro (…),/o porteiro do céu./ Viva, Viva, São Pedro! (BENJOR, Jorge. Viva São Pedro).
Notas:
[1]Manuel da Costa Ataíde,[1] mais conhecido como Mestre Ataíde, (Mariana, batizado em 18 de outubro de 1762 – Mariana, 2 de fevereiro de 1830) foi um professor, pintor e decorador brasileiro.
[2]Manuel da Costa Ataíde,[1] mais conhecido como Mestre Ataíde, (Mariana, batizado em 18 de outubro de 1762 – Mariana, 2 de fevereiro de 1830) foi um professor, pintor e decorador brasileiro.
[3] Contos populares, onde Jesus aparece disfarçado de velhinho ou de peregrino. Essas histórias vieram de Portugal e outras são brasileiras. O povo atribui a Jesus uma sabedoria e esperteza extraordinárias. Ele conhece os corações dos homens e sabem que as aparências enganam. Ele ensina a não julgar. A São Pedro Ele faz entender a vontade de Deus, a hospitalidade, o sentido da pobreza, do trabalho e do sofrimento.
[4] O nome já diz tudo: Pedro: “o das más-artes”, isto é, das estripulias, da astúcia, das peças bem pregadas. Figura do pobre que procura reverter sua situação pela astúcia e inteligência. Procedente da Idade Média, Malasartes, chegou ao Brasil, via Portugal, desembarcando de uma longa tradição ibérica.
REFERÊNCIAS:
VAN DER POEL, Francisco. Dicionário da Religiosidade popular. Curitiba: Nossa Cultura, 213, p. 458.
2 Comentários
Parabéns
Muito bom saber mais um pouco
É um aprendizado
Obrigada
Lindo texto sobre São Pedro???
Lembrei das histórias sobre as andanças de Jesus e Pedro que ouvia do papai.
Não sabia que Pedro era viúvo. Como é bom aprender um pouco mais!
Obrigada!