18 de agosto de 2021 9:15 por Da Redação
Praticamente todos os dias as Polícias Militar e Civil de Alagoas apreendem drogas e efetuam prisões pelo crime de tráfico. Esse tipo penal é, inclusive, o de maior registro no sistema prisional do Estado. Rotineiramente, os sites, jornais e emissoras de rádio divulgam informações sobre operações e investidas policiais em grotas e conjuntos habitacionais na periferia, mostrando homens, e um número cada vez maior de mulheres, algemados, sendo levados para a Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (DRN) ou para a Delegacia de Investigações Criminais (Deic).
Nesse cenário, a PM e a PC têm se deparado com um novo movimento criminoso, especialmente em Maceió. Embora haja registro deles desde 2017, foi a partir do ano passado que aumentou o número de traficantes se distanciando das facções já conhecidas, criando o que está sendo chamado de Neutros.
A polícia começou a identificar o movimento a partir de pichações em paredes nas áreas já conhecidas como pontos de tráfico, em bairros, favelas e grotas.
Ao invés de PCC, sigla que identifica o Primeiro Comando da Capital, e CV, as letras do Comando Vermelho, começaram a surgir pichações com a “marca” TDN (Tudo Neutro). Até então, as “marcas” TD3 (Tudo 3, referência ao PCC) e TD2 (Tudo 2, do CV), delimitando os territórios e as zonas de circulação de moradores, eram as únicas vistas.
Agora, o corre (tráfico) em áreas antes dominadas pelo PCC e CV, tem as inscrições Neutros, TDN e Tudo Neutro.
“As facções estão perdendo membros no país todo, principalmente o PCC. Porque eles não tão vendo muita vantagem mais em ser faccionado. Só por ser de facção você já coloca um alvo na suas costas” – revela uma fonte policial ouvida pelo 082Noticias. Ou seja, além das forças de segurança pública, é preciso enfrentar a facção rival.
“Por isso muitos malas estão preferindo trabalhar assim, sem se envolver com facção” – explica o agente policial.
Conexão cadeia/favelas
Na capital alagoana há neutros em praticamente todas as áreas antes dominadas pelo PCC e o CV. No bairro do Jacintinho, por exemplo, há uma “liderança” que já afastou os rivais e, segundo a fonte policial, diz não admitir na área sob seu controle qualquer atividade que não seja TDN.
É claro que o surgimento dos neutros não se dá de forma pacífica, com aceitação das outras facções. A novidade do crime vem acompanhada de assassinatos.
“As mortes sinalizam uma dissidência entre biqueiras anteriormente aliadas do PCC. Essas dissidências começaram nos presídios e repercutiram nas periferias de Maceió, uma vez que formas de negócio e de apoio aos parceiros e aos seus familiares conectam cadeias e quebradas (favelas)” – diz o professor e pesquisador Fernando de Jesus Rodrigues.
Segundo ele, as alianças com facções nacionais geram nas “lideranças” locais, que em maioria estão no sistema prisional alagoano, uma constante tensão sobre como dividir as obrigações e seus “negócios”. As decisões dos locais precisam passar por comunicação e acertos com “lideranças” que estão em presídios do sudeste e centro-oeste.
“Para muitas delas, isso tem significado inferiorização hierárquica, perda de autonomia e sujeição à exploração. A questão principal é tomar posição para fortalecer alianças com o CV e o PCC ou romper com elas. Isso resultou em uma nova separação nos pavilhões dos presídios de Alagoas. Além daqueles associados ao PCC e ao CV, surgiu a necessidade de separar espaços para os Neutros, que se tornaram os pavilhões mais superlotados” – revela o professor Fernando Rodrigues.
Seja como for, já com as informações sobre o novo grupo criminoso, as forças de Segurança seguem no combate ao tráfico de drogas, que a cada dia faz mais vítimas.
“Não podemos nos esquecer de que o repertório de orgulho de grupo e de sentidos de justiça enunciados pelos Neutros são aqueles que chegaram principalmente com o PCC e o CV” – ressalta Fernando Rodrigues.