17 de julho de 2023 1:14 por Thania Valença
Criador do “Caldinho do Vieira”, José Vieira dos Anjos, 78, morreu na última sexta-feira, 14. Uma concisa nota de falecimento, divulgada nas redes sociais do bar de sua propriedade, o Caldinho do Vieira, divulgou sua morte.
“É com profundo pesar que informamos o falecimento do nosso Vieira. Agradecer a todos os amigos, clientes e familiares que fizeram parte dessa grande e linda história”, dizia o comunicado, que de imediato repercutiu em sites, jornais, programas de rádio e, claro, em grupos de whatsaap.
A surpresa só foi vencida pela curiosidade, já que a causa da morte não fora informada.
Somente depois foi revelado que Vieira sofrera um tombo e, no acidente, fraturou o punho. A fratura vinha provocando dor intensa e, por isso, seria submetido a uma cirurgia na quinta-feira, 13. Porém a cirurgia foi adiada já que, no dia anterior, Vieira apresentou um quadro de infecção generalizada, consequência de uma infecção urinária que o acometera.
“Foi muito rápido! Levou um tombo, fraturou o punho, internou, apresentou quadro de infecção generalizada, foi entubado, faleceu. Muito rápido” – conta um frequentador assíduo do bar que tornou José Vieira dos Anjos famoso.
O empresário ganhou fama pelo caldinho de feijão, um dos carros-chefes do bar que manteve por 47 anos, no bairro do Pinheiro, em Maceió. “O Caldinho do Vieira foi palco de muitas histórias, grandes encontros e inesquecíveis comemorações”, diz o frequentador, que prefere não se identificar, por apontar relação entre a morte de Vieira e a catástrofe ambiental provocada em Maceió, pela multinacional Braskem.
Como nas mortes de pessoas conhecidas na sociedade alagoana que residiam na região atingida, o falecimento de José Vieira dos Anjos trouxe de volta o debate sobre as devastadoras consequências do crime ambiental provocado pela exploração de sal-gema, matéria-prima utilizada pela Braskem, conhecido no mundo como Caso Pinheiro.
A retirada de sal-gema do subsolo, atividade de mineração iniciada na década de 1970, gerou o afundamento gradual de parte da capital alagoana, afetando moradores dos bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro desde 2018. Mais de 40 mil pessoas estão afetadas, vivendo as consequências sociais e ambientais dessa tragédia que segue fazendo vítimas.
Para muitos alagoanos, José Vieira dos Anjos é mais uma delas. Seu bar fechou as portas em 2020, por conta do risco de afundamento do solo.
É fato que, por força da mobilização das vítimas e da ação de instituições de defesa da sociedade, como o Ministério Público (Federal e Estadual) foram adotadas medidas preventivas e de urgência para evitar mortes.
Mas as vítimas de Braskem seguem enfrentando problemas que vão além da mudança de endereço. Os danos físicos e emocionais à saúde, embora sem dados oficiais sobre seus impactos, continuam atingindo muitos.