Sexta-feira, 13 de setembro de 1957. Sob um sol causticante, homens vestindo capas de chuva cruzam a praça Dom Pedro II, localizada no centro de Maceió, e dirigem-se ao prédio da Assembleia Legislativa de Alagoas. São deputados da base governista. As inusitadas vestimentas escondem metralhadoras e revólveres que, horas depois, serão protagonistas de um dos mais sangrentos episódios da vida parlamentar em um estado brasileiro. Na sessão daquele dia os deputados votariam o impeachment do governador Muniz Falcão, mas o confronto armado entre as bancadas de governo e oposição deixariam um morto, vários feridos, uma cidade em estado de sítio e décadas de silêncio sobre o acontecimento.
Apesar de seu extremismo, o fato não é um caso isolado na vida pública alagoana, cuja história é marcada por uma relação entre política e violência. O impeachment de Muniz Falcão é um ponto de partida para promover uma reflexão sobre as origens desse histórico de violência e das raízes que construíram um dos celeiros políticos mais truculentos que se tem notícia no país. Esse debate é a proposta do documentário “O Impeachment – Setembro, 1957, Sexta-feira 13”, última obra do cineasta alagoano Pedro da Rocha. O telefilme foi contemplado com o IV Prêmio de Incentivo à Produção Audiovisual em Alagoas, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas. O lançamento acontecerá no dia 8 de agosto de 2023, às 19h30 no Teatro Deodoro, no Centro de Maceió.
Pedro da Rocha nasceu no ano de 1957 em Junqueiro, cidade do agreste alagoano. Em 1979 se mudou para Maceió, onde ingressa no movimento estudantil e toma contato com eventos culturais que o motivaram a se dedicar às artes, em especial ao cinema. Sua passagem pela publicidade também foi fundamental, pois nessa atividade teve oportunidade de aprofundar seus conhecimentos na produção de rádio e televisão.
Em 1998 concorreu na I Mostra Alagoana de Vídeos com o documentário “Em Nome do Pai, do Filho e da Folia”. Daí por diante, Pedro se torna figura da maior importância no audiovisual do estado. Presidiu em Alagoas a Associação Brasileira de Documentaristas. Dirigiu mais de 20 produções audiovisuais entre documentários e ficções como “Trama da Memória, Urdidura do Tempo”, “A Risonha Morte de Tião das Vacas”, “Sol Encarnado”, “Desalmada e Atrevida”, “O Mar de Corisco” e “O Comendador do Povo”. Pedro da Rocha revelou que “O Impeachment” era o filme de sua vida. Um trabalho que sempre desejou realizar e nele pretendia deixar firme seu posicionamento sobre a violência política em Alagoas. Em 2021, a pandemia da Covid-19 interrompeu a produção desta obra e também a sua vida.
O publicitário e jornalista Léo Villanova, que atuou como assistente de direção de Pedro da Rocha e diretor de arte em “O Impeachment”, ficou a cargo de finalizar o filme. Ele conta que este é um projeto muito antigo de Pedro, no qual investiu anos de pesquisa. O tema sempre esteve em sua mente, através dos resquícios em sua memória do que foi a passagem de Muniz Falcão pelo poder em Alagoas, avivados durante anos em conversas com seu pai, um antigo ativista político de Junqueiro.
“Minha participação no projeto é fruto de interesse pelo mesmo assunto, pois também me debruço sobre essa história há mais de suas décadas, reunindo material para contar o episódio do impeachment de Muniz através dos quadrinhos”, revela Villanova. “Agora, meu compromisso principal foi o de ser estritamente fiel à visão do Pedro de como essa história deveria ser trazida à luz, bem como o resgate que ele pretendia dar ao personagem Muniz Falcão e sua devida relevância na política do estado. Investi todo meu meu esforço para o público receba esse filme de Pedro da Rocha como ele o imaginou, contribuindo para que seja, de fato, uma obra fundamental em sua carreira”, conclui.
O Impeachment – Setembro, 1957, Sexta-feira 13 (Calunga Films, 2023)
Lançamento: 08 de agosto de 2023
Hora: 19h30
Local: Teatro Deodoro – Maceió/AL
Fonte: Assessoria